Liniker, intérprete de Cassandra em "Manhãs de Setembro", série da Amazon Prime Video, analisa que produzir as cenas em que a personagem sofre transfobia na série é o momento mais difícil. A atriz e cantora contou em entrevista coletiva a dor de ser silenciada como pessoa trans no Brasil.
Para a atriz, a união da personagem com Leide, interpretada por Karine Teles, dá uma voz maior para a questão trans. "Deu um elo muito importante e uma voz para uma personagem e para um tanto de gente que tá cansada de ser silenciada", afirma.
Ao falar da trajetória da personagem, que descobre na primeira temporada que teve um filho antes da transição, Liniker é grata pelos companheiros de série para fazer as cenas em que sofre transfobia.
Em uma das cenas da nova temporada, que estreia em 25 de setembro, Cassandra recebe o apoio de Leide (Karine Teles), mãe do filho das duas. A cena em questão, para Liniker, foi uma das mais difíceis de produzir nas duas temporadas da série da Amazon Prime Video.
"Sou muito grata por ter a Karine como companheira de cena nesse momento, porque a transfobia, para quem vive e para o meu corpo, atravessado por isso todo dia, é um lugar extremamente violento, que muitas vezes a gente silencia sozinha para a violência não aumentar", analisa.
Para Liniker, a cena em questão representa o que muitas pessoas trans passam no dia a dia. "Sempre quando há um momento de paz, tem sempre um transfóbico, um racista, alguma mensagem que tenta atravessar o nosso eixo", afirma.
A atriz também contou qual situação transfóbica a machuca mais. "O pior da transfobia é de sofrer a violência e ainda ter que educar. Já sou um corpo atravessado por várias coisas horríveis e ainda tenho que falar para uma pessoa que ela não deve ser transfóbica", diz. Ela pontua que a educação é necessária, mas que a responsabilidade de ensinar não deve ser atrelada apenas à pessoa trans.
As diversas famílias são retratadas em "Manhãs de Setembro"
Tanto na primeira quanto na segunda temporada, os diversos formatos de família são retratados. Na nova temporada, diversas maternidades possíveis surgem na série, como Cassandra, Leide e a personagem de Samantha Schmütz, esposa de Lourenço (Seu Jorge).
Para Liniker, a Cassandra parte do ponto de vista "do que se diz impossível". "É uma mulher trans tratando de toda violência e ainda vem um filho procurando um pai, encontrando uma mãe, é algo que transforma", afirma. Ela diz que precisou mergulhar na própria família para entender essa maternidade da personagem.
"Precisei entender a minha mãe, que me criou sozinha, meu pai que me abandonou quando fui criança, e como essa personagem poderia colaborar para o crescimento do Gersinho e do dilema da necessidade de independência da Cassandra enquanto reconhece o filho", analisa.
A atriz afirma que a série a fez sentir vontade de ser mãe. "Eu já tinha, mas sinto ainda mais vontade de criar, ser mãe, de a partir de um afeto se ver transformada, o que vemos na segunda temporada", reflete.
Para Karine Teles, a série trata de várias maternidades. "Tem a mãe que descobre a maternidade, a mãe exausta da maternidade, que é a Leide, que não tem apoio nenhum", analisa.
Malu Miranda, Head de Originals do Amazon Studios, pontua que a história mostra que família se escolhe. "No Brasil, a família hoje em dia é a que a gente escolhe, tem a de laços de sangue, mas também a que escolhemos. A série é sobre isso: afeto, amor e acolhimento", diz.
Já Seu Jorge pensa que homofóbicos devem assistir à série, justamente pelos modelos de família apresentados. "Eu acho que devem ver, porque a família é tão forte, a nova família, a família que para a cabeça de caretas e conservadores é improvável, mas está ali, inteira, me sinto honrado de participar da série por isso", celebra.
Parceria de Seu Jorge e Liniker é novidade na série
Atuando como pai e filha, Seu Jorge e Liniker protagonizam cenas intensas na segunda temporada de "Manhãs de Setembro". Para o cantor e ator, o mecânico é um personagem complexo.
"Eu queria construir um cara que não entendia de nada, que não esperava nada, mas é acometido por uma surpresa. Ele é feliz com a esposa, mas ele carrega uma tristeza de não ter conseguido ser o pai, o marido que queria ser", analisa.
Para Seu Jorge, a história do personagem foi um dos grandes desafios para ele. "O mais bonito que aconteceu foi o quanto pude aprender com Liniker nesse trabalho, na questão de tratamento, para fazer a preparação", afirma.
Liniker pontuou que a chegada de Seu Jorge traz uma tensão interessante para as personagens. "Trabalhar com Karine e Seu Jorge foi muito bonito, é lindo ver os dois trabalhando em cena e foi inspirador para mim, uma grande troca", elogia.
Vanusa ganha novo papel na série
Na obra, Cassandra idealiza Vanusa como uma conselheira, uma espécie de consciência materializada na ídola. Na segunda temporada, essa relação com a cantora, morta em novembro de 2020, muda conforme a trajetória da personagem.
Para Luiz Pinheiro, diretor da série, a segunda temporada vai de encontro a entender o que a voz da cantora representa para Cassandra. "A gente vai ter a totalidade no entendimento, por mais que pareça fora da caixa, com conselhos malucos, às vezes a Vanusa é cruel, combate o amor da Cassandra pela família, pede para caçar a independência", afirma.