Homenagem a Martinho da Vila e cultura negra são destaques na Sapucaí
Seis escolas de samba fecham hoje desfiles do Grupo Especial; Paraíso do Tuiuti abre a noite, a partir das 22h
Na noite dos orixás, quando a Mocidade Independente de Padre Miguel evoca Oxóssi, com o seu “Batuque ao Caçador”, e a Grande Rio, com "Fala, Majeté!", buscam desmistificar a figura de Exu, a grande expectativa fica por conta, também, da homenagem que a Vila Isabel vai prestar ao artista cuja história se confunde com a da escola do bairro de Noel: Martinho da Vila. Aos 84 anos, o sambista, depois de conceber enredos para agremiação, como o antológico "Kizomba, a festa da raça", que deu o primeiro título para a azul e branca, em 1988, será desta vez o próprio o tema do desfile.
Próximo sábado também tem, tá?
— Voz do Samba 🥁 📰 (@vozdosamba_) April 17, 2022
Dia 23/04 (Dia de São Jorge) é a última noite de Desfiles do Grupo Especial 2022!
1ª - Paraíso do Tuiuti
2ª - Portela
3ª - Mocidade Independente
4ª - Unidos da Tijuca
5ª - Acadêmicos do Grande Rio
6ª - Unidos de Vila Isabel
Tá chegando a hora! ❤️ pic.twitter.com/Q8XSFf7H7p
A Paraíso do Tuiuti abre a segunda noite de desfiles do Grupo Especial, a partir das 22h, com "Ka ríba tí ÿe - Que Nossos Caminhos Se Abram". Será uma noite de predominância de enredos de temática negra e que abordam religiões de matriz africana. A escola de São Cristóvão vai contar histórias de luta, sabedoria e resistência do povo preto, lembrando nomes de personalidades negras como Barack Obama, Beyoncé, Nelson Mandela e Catherine Johnson. O enredo tem uma concepção afrofuturista, segundo o carnavalesco Paulo Barros.
Ansioso pra assistir a Paraíso do Tuiuti pra ver a kween sambando na cara da Thay Magalhães... literalmente
— Aice de Kiui (@icedekiwi) April 21, 2022
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A ideia é abordar a glorificação do povo preto, associando personagens conhecidos aos orixás do candomblé. Serão mostradas 20 personalidades negras contemporâneas, que escreveram seus nomes na História e que trazem características de 20 divindades africanas. Mandela, por exemplo, virá representado como Oxalá. Com isso, cada ala da Tuiuti vai homenagear um personagem pioneiro nas conquistas do povo negro e reverenciar uma divindade.
"Peço que todos prestem muita atenção porque as homenagens virão nas alas e nos carros", alerta André Gonçalves, o diretor de Carnaval.
A Portela entra em seguida com um enredo que vai retratar a simbologia dos baobás, árvores gigantescas e milenares originárias da África. Desenvolvido pelos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage, “Igi Osè – Baobá”, mostrará a importância dos baobás através de aspectos como ancestralidade, religiosidade, identidade e memória, entre outros. Márcia Lage explica que a presença de baobás no Brasil e o legado cultural dos milhões de seres humanos escravizados trazidos da África também terão destaque no desfile da escola.
A Mocidade Independente de Padre Miguel vai levar o toque do agueré e a batida dos terreiros para a Sapucaí na saudação a Oxóssi, num grande arerê, ou seja uma festa, uma algazarra na Sapucaí. O enredo “Batuque ao Caçador”, exalta o orixá e ao mesmo tempo rende homenagens a figuras importantes de sua própria história da verde e branco da Zona Oeste, que aposta tudo para mirar no título. O último é o de 2017, dividido com a Portela. A agremiação vem com o primeiro enredo afro em mais de quatro décadas e meia.
"Era um enredo muito pedido pela comunidade, talvez só não era mais pedido que o enredo da Elza (Soares). É um reencontro da escola com ela mesma. Será um desfile que tratará dos fundamentos da Mocidade", afirmou o carnavalesco Fábio Ricardo.
Uma das surpresas virá da bateria, cujos quase 300 integrantes desfilarão carecas. A rainha Giovana Angélica não escapou do desafio e já ostenta o novo visual à máquina zero.
A Unidos da Tijuca vai contar a história do guaraná no enredo “Waranã – A reexistência vermelha”, que falará sobre ciclos, descendências e resistência. Desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, conhecido por abordar temáticas políticas na Sapucaí, a escola vai mostrar a importância da luta dos povos indígenas. Desde 2016 sem participar do desfile das campeãs, a escola do Borel trouxe o novo carnavalesco buscando uma estética diferente, com menos alegorias humanas e muitas cores vibrantes.
"Estou trazendo uma estética do desfile em formato de conto, de ilustração. Meu projeto é mais artesanal, menos coreografado e sem muita alegoria humana", afirmou o carnavalesco.
A segunda escola da noite a louvar um orixá é a Grande Rio, que vai evocar Exu para abrir os caminhos para o sonhado título na Sapucaí . O enredo "Fala, Majeté! As sete chaves de Exu" vem desmistificar o orixá, visto no mundo ocidental pelo lado ruim, segundo os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad. A intenção deles é mostrar que Exu é caminho, sabedoria, prosperidade e livramento.
"Vamos criar uma grande festa para Exu. A gente vai cantar para essas pessoas que foram excluídas socialmente. Estamira, Bispo do Rosário, Stela do Patrocínio. Fazer essa grande manifestação a favor dessa energia poderosa que é Exu", adiantou Haddad.
A Vila Isabel fecha a noite com a esperada homenagem a Martinho da Vila. A previsão é que a escola entre na Avenida às 3h. A vida do cantor, compositor e símbolo do bairro vai ser contada no enredo “Canta, canta minha gente! A Vila é de Martinho!”.
Segundo o carnavalesco Edson Pereira, o homenageado só fez um pedido: quer atravessar a Sapucaí ao lado de familiares e amigos. O sambista que nos anos 1980 liderava caravanas de artistas para cantar em Angola e ajudou sua escola a conquista seu primeiro campeonato no ano em que se comemorou o centenário da abolição da escravatura é o protagonista do desfile que encerra o chamado carnaval preto.
A apuração será na terça-feira, a partir das 16h na Praça da Apoteose. O desfile das campeãs acontece no sábado seguinte, dia 30, a partir das 21h30.