Carnaval 2022: Portela enaltece força do Baobá africano
Legado cultural dos milhões de seres humanos escravizados trazidos da África têm destaque na avenida
A Portela vai contar a história e retratar a simbologia dos baobás, árvores gigantescas e milenares originárias da África. Desenvolvido pelos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage, o enredo “Igi Osè – Baobá”, mostra a importância dos baobás através de aspectos como ancestralidade, religiosidade, identidade e memória, entre outros.
Segundo Márcia Lage, a presença de baobás no Brasil e o legado cultural dos milhões de seres humanos escravizados trazidos da África também terão destaque no desfile da escola.
"O enredo foi uma sugestão da escola, e temos uma temática mais de resistência, de resiliência. Por ser uma escola tão tradicional, com raízes profundas, a comparação com a árvore foi muito pertinente", disse a carnavalesca.
Divido em cinco setores, a azul e branca de Madureira pretende mostrar a árvore como um elo mais sacral, no aspecto religioso nos dois primeiros momentos do desfile. Logo depois, a referência é a natureza em si, com as antigas tribos, a vinda dos escravizados em navios negreiros. Por fim, a própria Portela será retratada não como um baobá, mas uma jaqueira, onde surgem os primeiros encontros da Portela, onde hoje é a Portelinha, e toda a ancestralidade da escola.
"Usamos muito do sentido simbólico para retratar nosso desfile. Temos esse aspecto da resiliência de resistir, da entrega e da aceitação. Nosso navio negreiro, por exemplo, tem uma metalinguagem, onde não será necessário mostrar o sofrimento, negros sendo chicoteados, esfarrapados. A própria alegoria vai expressar o momento", explicou.
A águia, símbolo maior da escola de Madureira, terá um local de destaque no abre-alas. "A águia vem com um tratamento dentro dessa linguagem plástica. Não esperem uma águia tecnológica. Mas é uma águia imponente", disse Marcia.
De acordo com a carnavalesca, o grande desafio da plástica como um todo foi harmonizar a linguagem do enredo afro dentro de uma paleta fria, como é o azul da Portela.
"Temos uma vasta experiência com enredos afros, mas sempre trabalhamos com escolas quentes, como o vermelho do Salgueiro. Conseguimos unir sem ser solar demais, sem o fogo do sol de Madagascar, com o azul que é um tom baixo. Conseguimos fazer essa transição sem ter nenhuma ruptura", relata Marcia.
Com a promessa de um desfile emocionante, a última alegoria da escola fará uma homenagem aos baobás da Portela. A escola irá homenagear grandes nomes que fizeram história na escola e Madureira. Estarão presentes no carro imagens de mestre Monarco, que morreu em dezembro de 2021, Manacea, Dona Dodô, Natal, Davi Corrêa entre outros.