Fábio Porchat fala de acusação de pedofilia em obra de Danilo Gentili
Ator se defendeu e disse que cena não era apologia ao crime; filme de 2017 virou polêmica nas redes sociais nesta segunda-feira (14)
O ator e comediante Fabio Porchat se manifestou sobre as recentes acusações atribuídas ao filme "Como se tornar o pior aluno da escola" (2017). Lançado nos cinemas há cinco anos, o longa-metragem inspirado num livro homônimo de Danilo Gentili — e que foi incluído no catálogo da Netflix em fevereiro — figura no centro de uma polêmica após parlamentares bolsonaristas dizerem que a produção incita a pedofilia.
O momento destacado nas postagens que criticam o filme mostra o personagem de Porchat assediando sexualmente dois garotos: ele interrompe dois adolescentes que estão discutindo e pede que o masturbem. Secretário especial da Cultura, Mario Frias afirmou que o longa "é uma afronta às famílias e às nossas crianças", acrescentando que "utilizar a pedofilia como forma de humor é repugnante e asqueroso".
"O Marlon Brando interpretou o papel de um mafioso italiano que mandava assassinar pessoas. A Renata Sorah roubou uma criança da maternidade e empurrava pessoas da escada. A Regiane Alves maltratava idosos. Mas era tudo mentira, tá gente? Essas pessoas na vida real não são assim", rebate Porchat, em depoimento enviado ao GLOBO.
"Quando o vilão faz coisas horríveis no filme, isso não é apologia ou incentivo àquilo que ele pratica, isso é o mundo perverso daquele personagem sendo revelado. Às vezes é duro de assistir, verdade", disse.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, informou ter pedido a "vários setores" que tomem "providências cabíveis" contra o filme, sem especificar as ações. Vale lembrar, porém, que foi o próprio Ministério da Justiça que determinou, com base em regras técnicas, a classificação indicativa de 14 anos para o filme. Nomes como o deputado estadual André Fernandes (Republicanos-CE), a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e o vereador de Niterói Douglas Gomes (PTC-RJ) apoiam a iniciativa do ministro.
A seguir confira a resposta de Fábio Porchat às acusações contra o filme.
"Como funciona um filme de ficção? Alguém escreve um roteiro e pessoas são contratadas para atuarem nesse filme. Geralmente o filme tem o mocinho e o vilão. O vilão é um personagem mau. Que faz coisas horríveis. O vilão pode ser um nazista, um racista, um pedófilo, um agressor, pode matar e torturar pessoas...
O Marlon Brando interpretou o papel de um mafioso italiano que mandava assassinar pessoas. A Renata Sorah roubou uma criança da maternidade e empurrava pessoas da escada. A Regiane Alves maltratava idosos. Mas era tudo mentira, tá gente? Essas pessoas na vida real não são assim.
Temas super pesados são retratados o tempo todo no audiovisual. E às vezes ganham prêmios! Jackie Earle Haley concorreu ao Oscar em 2007 interpretando um pedófilo no excelente filme 'Pecados Íntimos'. Só que quando o vilão faz coisas horríveis no filme, isso não é apologia ou incentivo àquilo que ele pratica, isso é o mundo perverso daquele personagem sendo revelado. Às vezes é duro de assistir, verdade.
Quanto mais bárbaro o ato, mais repugnante. Agora, imagina se por conta disso não pudéssemos mais mostrar nas telas cenas fortes como tráfico de drogas e assassinatos? Não teríamos o excepcional 'Cidade de Deus'? Ou tráfico de crianças em 'Central do Brasil'? Ou a hipocrisia humana em O Auto da Compadecida. Mas ainda bem que é ficção, né? Tudo mentirinha".