Com onda k-pop consolidada, doramas podem ser explorados na literatura

Autoras brasileiras se inspiram no roteiro das séries coreanas para escrever livros. Diferente das séries ocidentais, os doramas trabalham suas histórias deixando o público instigado e sem entender até os clichês

Com a onda de k-pop bombando no Brasil, mais coisas da cultura coreana têm chegado ao País, como os doramas (drama coreano), que são as séries televisivas produzidas na Coreia. O que ninguém esperava era que o estilo do roteiro dessas produções inspirassem escritoras e surgisse, então, o dorama literário.

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Foto: Divulgação
'Kill Me, Heal Me' inspirou Gaby Brandalise a escrever o seu 'dorama literário'

Marina Carvalho lançou na Bienal do Livro do Rio a obra “ Um dorama para chamar de meu  ”, que segue o mesmo ritmo dos roteiros dos doramas . “Embora a história não seja coreana, pois acontece no Brasil, eu quis dar um ritmo menos intenso no romance, quis dar uma caracterizada parecida com a série e percebi que meu texto ficou mais leve”, conta autora.

Durante o processo de escrita do livro, Marina assistiu cerca de 40 séries coreanas, mas foi “Oh My Venus”, que tinha o ator So Ji-sub, que inspirou a história de Mariana Pena e Joaquim Matos – ou Yoo Hwa-In.  “Essa série acabou sendo minha fonte de inspiração para a escrita dessa história. Foi o impulso e a principal motivação para eu escrever essa história”, conta.

Antes de Marina Carvalho, Gaby Brandalise se arriscou a escrever um livro inspirado nas séries coreanas e lançou em 2018 o “ Pule, Kim Joo So ”. O livro de Gabriela foi inspirado na série coreana “Kill Me, Heal Me”. “A inspiração que eu tirei desse dorama, foi o personagem principal que é fascinante. Ele tinha transtorno de personalidade e tinha sete personalidades”, explica Gaby.

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Foto: Reprodução/Instagram/@gabybranda/@marinacarvalhoescritora
Marina Carvalho e Gaby Brandalise se inspiraram nas séries coreanas para escrever seus 'doramas literários'

O livro já tinha sido publicado no Wattpad – plataforma gratuita para compartilhar histórias – “Pule, Kim Joo So” teve 12 mil leituras em um mês e ao levar a proposta para a Verus Editora, eles ainda não conheciam o dorama.

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“A própria editora não conhecia o dorama me falou: ‘não conhecemos, mas vamos’. E a publicação foi incrível porque ao contrário do que eu imaginava, não existia nada no mercado com esse apelo”, relembra Gaby.

Mesmo com vários livros sobre o mundo pop coreano, grande parte dos que já foram lançados no Brasil abordam mais a questão do k-pop do que as séries coreanas. “A maioria dos livros que foram lançados aqui são uma espécie de manual, como alguns sobre K-pop”, explica Marina.

Quando questionada se “dorama literário” seria a forma correta de chamar essas obras, Marina fala que talvez “seja uma maneira de nomear essa literatura”. Já Gaby prefere chamar de “literatura inspirada no dorama com tempero brasileiro”.

“O brasileiro tem um hábito maravilhoso de pegar tudo pra ele e deixar com a cara dele, não sei se dá pra chamar de dorama literário porque ninguém aqui tá copiando o dorama ou reproduzindo um dorama que assistiu na Netflix”, explica Gaby Brandalise.

No Wattpad, plataforma gratuita para compartilhar histórias, e na Amazon existe alguns títulos que foram inspirados nos dramas coreanos. “O Tempo Parou” e “Um amor de dorama” são alguns dos títulos que foram inspiradas nas produções da Coréia.

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Foto: Reprodução/Instagram/@gabybranda/@marinacarvalhoescritora
Marina Carvalho e Gaby Brandalise

Levando a palavra “dorama” no título do livro e por ser um assunto relativamente novo no Brasil, “Um dorama para chamar de meu” foi sucesso de vendas na Bienal do Livro do Rio. “Foi muito significativo as pessoas terem dado uma chance para um livro, com uma palavra nada comum no título, terem comprado, lido e elogiado”, fala com alegria.

Gaby Brandalise acredita que ainda há muito o que ser explorado nos  doramas  . “As editoras estão abertas sim, porque a forma de escrita inspirada no dorama é diferente. Faz o leitor ficar intrigado com a história e rola algumas reviravoltas”, fala.