Com protagonista não-binária, "Todxs Nós" é a nova aposta polêmica da HBO

O iG visitou os bastidores da série que tem direção de Vera Egito e Daniel Ribeiro e conta a história de Rafa, uma pessoa que se define sem gênero

As séries da HBO costumam fugir dos clichês e, depois de “Pico da Neblina”, produção que apresenta um Brasil no qual a maconha é legalizada , o canal aposta em outra produção nacional com um protagonismo não convencional. “Todxs Nós” tem como foco uma personagem não-binária que vem para São Paulo viver com o primo. O iG visitou os bastidores da produção e conta o que já descobriu da série que ainda não possui data de estreia.

Foto: Divulgação/HBO
'Todxs Nós' é a nova série da HBO que conta a história de Rafa, Maia e Vini


“Tudo começou quando eu vi um documentário sobre três pessoas não-binárias e eu achei aquilo muito interessante, ver como aquelas pessoas se viam, como enxergavam a sexualidade. Quando eu chamei o Daniel [Ribeiro] para escrever fiz essa proposta”, afirmou a diretora Vera Egito que, após se aprofundar no assunto para “ Todxs Nós ”, começou a questionar por que ser homem ou mulher é mais importante do que ser humano.

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Vera divide a direção da série com Daniel Ribeiro, responsável pelo premiado “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”. “As pessoas querem se ver retratadas, a gente acaba se acostumando a ver um padrão heteronormativo e as séries permitem novas possibilidades. As pessoas querem novas histórias, ninguém aguenta mais as mesmas histórias sendo contadas”, comentou o diretor que tem claro que poucas pessoas sabem o que é ser não-binário.

Foto: Divulgação/HBO
Vera Egito e Daniel Ribeiro são os diretores da nova série da HBO

Na trama, Rafa (Clara Gallo) não se reconhece nem mulher, nem como homem, é como se seu gênero fosse neutro. Ao deixar sua casa, Rafa vem para São Paulo morar com o primo Vini (Kelner Macêdo), e sua colega de quarto Maia (Juliana Gerais). Além de colocar uma pessoa não-binária em protagonismo, a série, classificada como uma comédia dramática, trata de outras questões relevantes como homofobia e racismo através dos seus protagonistas.

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No processo de preparação, a atriz principal da série sofreu um acidente de bicicleta e precisou ficar uma semana afastada. “Não foi nada grave, mas foi suficiente para dar um susto e me fazer repensar na vida, então quando voltei foi como um avalanche, eu mergulhei nessa série”, comentou Clara que conviveu com pessoas não-binárias para conseguir encontrar Rafa dentro de si. “Isso trouxe um milhão de entendimentos, um milhão de possibilidades.”

Ela ou ele?

Foto: Divulgação/HBO
Rafa, protagonista de'Todxs Nós', é uma pessoa não-binária

Um dos grandes desafios do processo de criação foi adotar pronomes e palavras neutras. Rafa, por exemplo, não é chamado de “ele” e nem de “ela”. “Até agora é difícil a questão dos pronomes, é como se estivesse falando uma nova língua, tem palavras que não sabemos como fica no neutro. Todo mundo se ajuda, não é simples. A gente também está aprendendo”, pontuou Daniel.

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O palavreado pode causar certo estranhamento no público, mas Vera ressaltou que “ter pronome neutro em uma produção audiovisual é um avanço de uns mil anos, pois não tem ninguém falando sobre isso”. “Você vai ligar a TV e ver a pessoa falando ‘eli’, ‘cansadi’”, acrescentou.

Indo contra o conservadorismo

Foto: Divulgação/HBO
A série promete polemizar por trazer novas questões para a trama principal

Por abordar uma temática não convencional, a série promete ser polêmica e Daniel adianta que os personagens estão longe daquela imagem de pessoas perfeitinhas.  “A gente escreveu em uma transição política no País, após a eleição a gente pensou :‘será que o Brasil pra quem a gente escreveu é o mesmo de agora?’”, confessou o diretor.

Vera acrescenta que eles tiveram um breve momento de pânico após Bolsonaro assumir a presidência e até pensaram em mexer no roteiro, mas acabaram desistindo. “Não mudamos muito porque a resistência segue após essa onda conservadora. A série continua tento o mesmo papel, se não um papel mais importante. Torço para que as pessoas que acham que ser trans ou não-binário é errado assistam a série e se conectem com os personagens afetivamente”, conclui a diretora de “ Todxs Nós ”.