Pedro Bandeira evita pessimismo dos adultos e cultiva esperança nas crianças
Autor conta que usa as emoções de seus leitores como inspiração e que prefere escrever para crianças e "torcer junto com elas" do que escrever para adultos. "Se escrevesse para adultos, eu teria que fazer um livro pessimista"
Por Beatriz França | , iG São Paulo |
Jornalista por formação e escritor por dom e paixão, nos 40 anos de carreira Pedro Bandeira tem mais de 80 livros publicados e mais de 20 milhões de exemplares vendidos. Em entrevista exclusiva ao iG Gente , o escritor revelou que sua profissão sempre foi escrever.
“Minha profissão desde jovem sempre foi escrever. Como jornalista a gente escreve o que o chefe manda. Depois comecei a fazer freelancer para a Editora Abril com histórias infantis e quando lancei ‘A Droga da Obediência’ foi um sucesso, que me permitiu largar o jornalismo e viver só da literatura”, declara Pedro Bandeira .
A série “ Os Karas ” é o carro-chefe da carreira de escritor de Pedro. Foi a história de Miguel, Crânio, Chumbinho, Calú e Magri, lançada em 1984 e que até hoje é um sucesso com crianças e adolescentes, que o consolidaram no mercado literário.
Pedro revela que fica muito feliz em ver que essa história não morre. “Eu fiquei muito feliz, porque mesmo depois de anos eu não precisei mudar nada, nem introduzir um computador ou celular. A história não é sobre o mundo, mas sim sobre o ser humano”, conta.
“Meus leitores se refletem nesses personagens, nas emoções. Felizmente a série de livros está durando e pelo jeito vai durar mais, pois continua sendo meu carro chefe”, acrescenta em meio às gargalhadas.
Até hoje, Pedro recebe e-mails pedindo a continuação da história que fez com que milhares de crianças e adolescentes, que hoje já devem ser adultos, criassem uma paixão pela leitura. “Vai ser preciso conviver com os livrinhos que estão ai pra sempre ou, espero, que fique por bastante tempo”, fala.
Durante todos esses anos como escritor, Pedro já ganhou prêmios como o Troféu APCA da Associação Paulista de Criticos de Arte e o Premio Jabuti. Quando questionado sobre a sensação de vencer, ele revela que o melhor prêmio, na verdade, é ter leitores. “É legal, mas o grande prêmio para um autor é ser lido e seu público gostar do que está lendo”, revela.
“Também é ter atingido uma venda tão grande nesses anos, ter milhares de exemplares vendidos e continuar encontrando pessoas que leram meus livros para conversar. Essa premiação, inclusive, nem ajuda muito nas vendas. Ninguém compra um livro porque ganhou prêmio, lê porque alguém indicou”, acrescenta.
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Adaptação para os cinemas
Quando questionado se já havia recebido convite de adaptar "Os Karas" para os cinemas , Pedro revela que desde o lançamento dos livros sempre foi procurado por algumas produtoras. “Quando lancei os livros, eles fizeram muito sucesso e logo fui procurado por uma grande TV dos anos 90. As coisas sempre paravam no orçamento, pois não seria um filme barato”, confessa.
Anos depois, o autor recebeu o convite para adaptar “Feiurinha”, seu livro lançado 1986, para os cinemas e ele aceitou, porém as coisas não saíram como ele imaginou. “Fizeram um filme tão ruim, que eu pensei: ‘nunca mais vou deixar’. Estragaram a minha história”, revela sobre o longa lançado em 2005 e que tinha Xuxa e Sasha no elenco.
Ele reconhece que com a história dos cinco adolescentes não seria diferente, pois nos livros aparecem índios, tem o Chumbinho – um dos personagens – pilotando um avião, um helicóptero explodindo no ar e isso não sairia muito barato: “Isso na hora de escrever é barato, mas na hora de levar para a tela não”.
Inspiração
Pedro é grande inspiração no mundo literário e ele revela que gosta de entender o que faz seu leitor triste ou feliz. “A vida deles é a minha inspiração, ficar imaginando o que te faz triste, porque correu uma lágrima no seu rosto. Transformo isso em alguma coisa de alimento para alma e para tua sensibilidade”, conta Pedro.
Ele ainda conta que por escrever livros para crianças e adolescentes, precisa sempre manter a esperança na vida deles, o que poderia ser diferente se o seu público alvo fossem os adultos. “Se eu escrevesse um livro adulto, eu teria que fazer um livro pessimista. Mas para uma criança ou adolescente eu não posso, tenho que torcer por ele. Torcer para que ele tenha o maior ‘happy end’ e tento coloca-los no colo com as minhas palavras”, fala.
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Pedro Bandeira na Bienal
Pedro vê a vida de escritor como muito solitária e, por isso, participar de eventos é a grande chance de encontrar e conversar com seus leitores. Só esse ano, ele esteve na FLIPOP em São Paulo, viajou de Belém do Pará até o Paraná e agora participa da Bienal do Livro do Rio até domingo (8). “É a hora que temos de senti-los próximos e saber se gostaram ou não do meu trabalho”, revela.
Pedro Bandeira lança na Bienal do Livro do Rio seu mais novo livro, “Narizinho” – a menina mais querida do Brasil – pela Editora Moderna. “Temos a Bienal e eu vou ficar lá um tempão. Vai ser muito gostoso, vou ver gente e ficar naquela bagunça”, conta.