A segunda mesa da 19ª Flip, "Bendegó", promoveu na manhã desta quinta (11) uma defesa apaixonada da diversidade e dos direitos indígenas. Em uma conversa com o jornalista Paulo Roberto Pires, a antropóloga do Museu Nacional Aparecida Vilaça alertou sobre a situação dramática dos povos indígenas no Brasil, cujas terras, segundo ela, passaram a ficar ainda mais ameaçadas após a eleição do presidente Jair Bolsonaro.

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Aparecida Vilaça acredita que a
Reprodução/Instagram/@flip_se/Walter Craveiro
Aparecida Vilaça acredita que a "sensação é que eles (indígenas) viraram alvo novamente"

Em seu livro, "Paletó e eu", Aparecida Vilaça relembra sua convivência com o povo Wari, que ela foi estudar nos anos 1980 no interior de Rondônia. Lá, ficou tão próxima de um indígena chamado Paletó que acabou sendo adotada por ele como filha. No livro, ela o descreve como um pensador e intelectual. Durantes anos, mantiveram contato, inclusive com várias idas de Paletó ao Rio de Janeiro, cidade onde Aparecida reside.

"A sensação é que eles (indígenas) viraram alvo novamente. Vivemos um momento de retrocesso absoluto, voltando aos anos 1960 e 1970", disse a antropóloga na Flip  . Ela acredita que, embora o Congresso tenha se mantido atuante para impedir que os indígenas percam suas terras, o simples fato do governo demonstrar desprezo por esses povos já trouxe problemas.

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"A manifestação de membros do governo faz as pessoas se sentirem autorizadas a invadirem as terras. Tenho contato com os Wari', que vivem em terras muito cobiçadas em Rondônia. Eles me ligam por whatsapp dizendo que 'os caras estão entrando aqui, falam que nossas terras não valem mais nada'", conta.

Aparecida lembra que dois terços da população Wari' foi dizimada nos anos 1970. A família de Paletó, incluindo sua filha pequena e esposa, foi "metralhada" nessa época. O medo, entre os Wari', é que novas tragédias se repitam. Aparecida acredita que os brasileiros precisam tomar consciência das lutas indígenas, inclusive porque ainda vê muita desinformação sobre o assunto.

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"Não é apenas eles que estão perdendo, somos nós. Porque sem diversidade, a gente morre. Um nundo só de gente igual é pobre. Não são eles que têm que vir para cá se civilizar, nós que temos que ir para lá aprender. Mas se a gente tira as terras deles, se evangeliza, acabou. E nós é que perdemos com isso. Nós que perdemos a riqueza de grandes pensadores, intelectuais, que se estivessem aqui estariam ganhando prêmio Nobel", conclui Aparecida Vilaça 

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