Entre a sátira e o nonsense, "Good Omens" se firma como elogio do livre-arbítrio
Minissérie do Amazon Prime Video apresenta um elenco afiado, um roteiro inteligente e uma abordagem sedutora do apocalipse; leia a crítica
Por Reinaldo Glioche |
A ideia do apocalipse sempre foi sedutora para a produção cultural e filosófica. Para além dos dogmas religiosos, ela favorece uma série de elucubrações a respeito do que nos faz humanos. Neil Gaiman e Terry Pratchett decidiram se aventurar por esses conceitos no livro “Good Omens”, publicado originalmente em 1990 e que agora vira série no Amazon Prime Video.
Com seis episódios de uma hora de duração, a minissérie é roteirizada por Gaiman e se escora fundamentalmente no material original e conta com um elenco afiadíssimo. “Good Omens” é mais um exemplar da maneira robusta como o Amazon Prime Video enxerga seu posicionamento na guerra do streaming. É um produto refinado e com potencial de atrair um público diverso.
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Aziraphale (Michael Sheen) e Crowley ( David Tennant ) são respectivamente um anjo e um demônio que se enamoram pelo planeta Terra e, à medida que o apocalipse se aproxima, confabulam com o objetivo de preservá-lo.
É nesse contexto que os dois se programam para supervisionar o crescimento do anticristo, cuja chegada à Terra envolve uma operação com freiras satânicas narrada com incrível senso de humor por Deus (que a ganha a imponente, ainda que doce, voz de Frances McDormand). O plano, claro, dá errado. O tempo entre humanos tornou Aziraphale e Crowley menos ajustados aos padrões angelicais e demoníacos e mais, impropérios da razão, humanos.
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Os atores são um show à parte. Michael Sheen empresta a esquisitice de sua forma a um anjo entorpecido pelos prazeres mundanos, como o sushi, mas ainda ingênuo o suficiente para acreditar na redenção do anticristo – e a resolução desse plot em particular é um dos grandes achados de Gaiman.
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David Tennant faz de seu demônio um rockstar cheio de tiradas ligeiras e espirituosas. É impossível não se deixar afetar pelo charme do personagem. No entanto, quem realmente rouba a cena é Jon Hamm, como o Arcanjo Gabriel. Um tipo que se acha mais esperto do que realmente é e o ator acaba provocando ótimos efeitos cômicos com as pequenas participações que faz nos episódios.
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Com muito senso de humor, o mais britânico possível, e um roteiro incrivelmente sagaz, “Good Omens” é um elogio do livre arbítrio. Por vezes se resolve como uma sátira aguda dos preceitos religiosos, em outros momentos como inteligente comentário das contradições humanas, mas é a todo tempo um programa divertido e diabolicamente sedutor.