Estudantes da UFBA interrompem peça de teatro e apontam racismo na obra
A peça "Sob as Tetas da Loba" tem sido criticada pelos alunos da UFBA. Discentes alegam que a produção tem cunho racista e por isso tentaram interromper as apresentações que aconteceram no último fim de semana
Por iG Gente |
Estudantes da Escola de Teatro da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e integrantes do Coletivo Dandara Gusmão, que tem alunos negros militantes da instituição, interromperam a peça “Sob as Tetas da Loba”, no último final de semana (1 e 2 de junho), no Teatro Martim Goçalves, localizado em Salvador.
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Aos gritos e empurrando um cartaz, os estudantes acusaram a peça e a instituição de racismo. A obra " Sob as Tetas da Loba " reúne um compilado de textos do dramaturgo Jorge Andrade, e foi dirigido pelo professor Paulo Cunha.
Na apresentação do último sábado (01), integrantes do Coletivo Dandara Gusmão interromperam o espetáculo. Nesse dia, foi registrada desordem, bate-boca com o público e os professores no local. Também foi preciso suspender a peça antes do fim.
Já no último domingo (02), o espetáculo foi até o final e os membros do coletivo ficaram na porta do teatro, pois foram impedidos de entrar no local. A Escola de Teatro da UFBA acionou a Policia Militar para ficar na entrada do prédio.
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Uma professora da Universidade, Deolinda Franca divulgou um vídeo em seu perfil no Facebook na ultima segunda-feira (3), com um trecho do protesto na porta do teatro e na publicação afirmou que teria sido agredida por um estudante.
Em uma publicação nas redes sociais, uma jovem que foi assistir ao espetáculo escreveu uma nota de repúdio a produção: "Lágrimas me vem aos olhos. Entre lágrimas entrei para assistir ao 'espetáculo'. Quase entre lágrimas saí. Mas não. Não aplaudi. Vaiei. Gritei".
Ainda na publicação dessa jovem, ela explica que a peça tinha atrizes e atores negras que interpretavam personagens marginais e estereotipadas: "a amiga de 'classe inferior', o policial que executa a ação de prender (não é o delegado 'moreno'), a prostituta, o menor estuprador".
Em publicação nas redes, o coletivo explicou que práticas de racismo na UFBA são bem comuns: "A prática do racismo é uma constante na UFBA, uma universidade com uma comunidade em mais de 40 mil pessoas, não conseguiu evoluir para o século 21, apenas enxerga o povo preto em posição de subalternidade, marginalidade e servidão".
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"Que justiça social é essa que favorece apenas o povo Branco? Que apresenta uma peça teatral que termina quase 23h e causa um risco de integridade física pra quem vai assistir, tendo em vista que Salvador tem uma taxa grande é ruim de insegurança, furto, transporte público então, nem se fala. Essa prática precisa acabar e infelizmente apenas nós da organização Dandara Gusmão estamos nos posicionando", completa.
A Escola de Teatro da UFBA não se manifestou oficialmente sobre o episódio com os estudantes do último fim de semana. Já a Organização publicou em sua página oficial a seguinte mensagem:"Desculpem os transtornos, mas precisamos romper com o silêncio de 38 anos de racismo".