"Capitã Marvel" trabalha bem pressões e ressignifica a trajetória do estúdio
Primeiro filme protagonizado por uma heroína na Marvel Studios remonta o passado do Universo Marvel no cinema e faz ligação direta com "Vingadores: Ultimato". Longa vence expectativas e desconfiança com criatividade
Por Reinaldo Glioche |
Aguardado com imensa expectativa e com potencial de ratificar uma era mais inclusiva dentro da Marvel Studios, “Capitã Marvel” é uma produção que consegue dialogar com seu tempo, ser essencialmente uma parte do grande quebra-cabeça montado pelo estúdio em seu universo cinematográfico e um filme de ação divertido e com certa nostalgia pelos anos 90.
Brie Larson, vencedora do Oscar por “O Quarto de Jack” em 2016, tem aqui o seu primeiro grande teste comercial. Se falta carisma, sobra brio na composição de sua Capitã Marvel , mas a inevitável comparação com a Mulher-Maravilha de Gal Gadot lhe será desfavorável.
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Ainda assim, a atriz consegue dar bom fluxo às muitas reverberações dramáticas de Carol Danvers, que como em todo filme de origem de super-herói, não sabe exatamente quem é. Aqui, com o acréscimo de essa angústia ganhar ares espaciais, já que ela nem sequer sabe que é Carol Danvers e quando a conhecemos ela atende pelo nome de Vers, uma promissora caçadora intergaláctica da raça Kree.
É justamente na sua relação com Yon-Rogg (Jude Law), seu mentor e grande bússola emocional, que reside o comentário mais perene do filme, onde é possível vislumbrar sua verve feminista. É o controle de Rogg, ainda que subvencionado por uma mulher, uma inteligência superior Kree que ganha o corpo de Annette Bening, que limita Carol e turva sua visão de mundo. Está aí a maneira bem urdida e extremamente contemporânea do filme, codirigido por um homem e uma mulher, de aventar a agenda feminista sem soar militante ou intervencionista.
Vibe anos 90
Um dos elementos mais atraentes do longa é, de fato, parecer como uma produção dos anos 90. Não se trata apenas das músicas, da composição cênica e dos figurinos. Desde a construção visual até a vibe “comédia policial”, o longa transpira essa vibe noventista.
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Outro acerto está em Samuel L. Jackson que tem aqui mais tempo de tela desde “Capitão América: Soldado Invernal” (2014). Seu Nick Fury é um agente já experiente, mas neófito em lidar com seres superpoderosos. A Shield é mais um balão de ensaio do que uma realidade.
Tanto Jackson como Clark Gregg, que dá vida ao agente Coulson, foram rejuvenescidos digitalmente e é possível notar o avanço do efeito também aplicado em produções como “Capitão América: Guerra Civil” (2016) e “Homem Formiga” (2015).
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A trama
Uma conspiração intergaláctica envolvendo Krees e Skrulls detona a ação. Vers acaba na Terra por acidente e entra no radar de Nick Fury. Juntos, eles vão tentar deter o que pode ser a eclosão de uma guerra com o nosso planeta como campo de batalha – ou dano colateral – e descobrir quem realmente é Carol Danvers e porque Vers não se lembra dessa sua “vida passada”.
O humor característico das produções do estúdio está presente, bem como uma desnecessária dinâmica de “filme Disney”. Nada, porém, que diminua o impacto da produção.
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O futuro
“Capitã Marvel” inegavelmente enseja grandes possibilidades para o futuro do Universo Marvel no cinema. No fim da projeção, fica evidente que a personagem será peça central na resolução de “Vingadores: Ultimato”, que estreia em abril. O fato de inserir uma personagem tão dramaticamente relevante para sua narrativa nessa altura do campeonato é mais uma demonstração da expertise do estúdio e vale mais uma estrelinha para o filme.