“Bohemian Rhapsody” se fia na força do Queen para quebrar a banca no Oscar
“Bohemian Rhapsody” é o destaque da série do iG Gente, que analisa as chances dos concorrentes ao Oscar de Melhor Filme, nesta quarta-feira (20)
Por Reinaldo Glioche |
Mais contestado entre os indicados na categoria de Melhor Filme, “Bohemian Rhapsody” é o patinho feio da temporada. O longa enfrentou diversos e severos problemas nos bastidores, atrasos, estouros de orçamento, demissão do diretor, regravações tumultuadas e sobreviveu para se tornar não apenas a cinebiografia de maior bilheteria de todos os tempos como um filme de Oscar – são cinco indicações.
De certa forma, a trajetória do longa de mimetiza a trajetória do Queen . De uma banda improvisada e desacreditada a um dos maiores acontecimentos da historia da música mundial. “ Bohemian Rhapsody ” é um filme que tem plena consciência da força e do apelo da banda britânica e capitaliza profundamente com isso.
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O filme funciona tremendamente com fãs hardcore da banda, agrada fãs ocasionais e não desaponta apreciadores de uma boa história, ainda que não necessariamente bem contada. O longa de Bryan Singer, que foi finalizado por Dexter Fletcher, não esconde sua natureza chapa-branca – para o bem e para o mal, este é um filme oficial da banda – nem a quantidade de problemas que enfrentou.
Você viu?
Uma visão romantizada poderia dizer que tudo isso torna a experiência ainda mais pulsante e enriquecedora, mas este simplesmente não é o caso aqui. Se Rami Malek , indicado à estatueta de Melhor Ator, é uma das melhores coisas do filme – e ele jamais excede o campo da imitação, nunca penetrando a psique ou o coração de Freddie Mercury -, já dá pra ter uma ideia que este é um filme problemático na esfera mais racional da análise cinematográfica.
Da montagem amadora e cheia de arestas – o início do filme é uma bagunça – à desorganizada linha cronológica que remonta fatos históricos para acomodar interesses que não necessariamente servem ao filme ou ao drama de Mercury, a produção é um acúmulo de más escolhas narrativas que resultam em um filme quadradão, ainda que cheio de energia e com alguma purpurina.
A recriação de um show icônico
A grande carta na manga de “Bohemian Rhaposdy” foi a recriação, frame por frame, da icônica apresentação do Queen no Live Aid em 1985. Ali, como em um passe de mágica, o filme afasta todos os seus problemas e ganha definitivamente a plateia. É um truque, mas um muitíssimo bem executado. Isso, aliado à força e à memória do Queen, definitivamente ajudou o longa a chegar ao Oscar destroçando prognósticos e assombrando crítica e indústria.
Por que Ganhar?
- É uma cinebiografia, e a Academia morre de amores pelo gênero, que ganhou muito dinheiro depois de um turbulento processo de produção. É uma história de Cinderela perfeita demais e o Oscar seria a cereja do bolo.
- Seria o segundo filme com um protagonista gay a vencer o Oscar de Melhor Filme. O único até o momento é “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, que venceu há dois anos.
- O apelo do Queen é legendário e já propulsou o filme até aqui. Ainda pode render mais.
- É um grande filme de estúdio e que rendeu muito dinheiro, do tipo que o Oscar costumava premiar nos anos 80 e 90. Em um ano em que os estúdios voltaram com força à premiação, nenhum candidato oferece tamanha nostalgia.
- O filme ganhou o Globo de Ouro de Melhor Drama quando ninguém achava possível e foi indicado a Melhor Elenco no SAG. Friamente, é uma bagagem mais vitoriosa do que muitos filmes que ganharam a pecha de favoritos na temporada.
Por que não ganhar?
- A percepção de que o filme só vale pela atuação de Rami Malek pode fazer com que as chances de vitória se concentrem na categoria de Melhor Ator, onde a produção já goza de favoritismo.
- As denúncias de assédio e abuso que pesam contra Bryan Singer podem afugentar votos no filme.
- A rejeição à inclusão do longa na categoria foi virulenta. Poucas vezes uma produção indicada a Melhor Filme teve seus dotes artísticos tão largamente contestados pela crítica e por insiders da indústria.
- Não tem indicações nas categorias de Direção e Roteiro, o que machuca e muito, estatística e historicamente, suas chances de triunfo na categoria principal.
- Há dois blockbusters na categoria (“Pantera Negra” e “Nasce uma Estrela”) que são opções mais redondas se a Academia estiver no humor de se render ao cinemão comercial novamente.
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“ Bohemian Rhapsody ” concorre a cinco estatuetas na 91ª edição do Oscar, que será realizada no domingo (24). Além de Melhor Filme, a produção está indicada a Ator, Montagem, Mixagem de Som e Edição de Som.