"Guerra Fria" narra flagelo de história de amor com ascensão comunista de fundo
Com linguagem moderna e aparência clássica, filme polonês provoca impacto emocional. Longa, que concorre a três Oscars, estreia nesta quinta-feira (7)
Por Reinaldo Glioche |
Depois do excelente e consagrado “Ida”, ganhador do Oscar de Filme Estrangeiro em 2015, Pawel Pawlikowski retorna com um filme ainda mais espetacular em seus arranjos narrativos e cinematográficos. “Guerra Fria” é uma história de amor triste e potente, uma homenagem aos pais do cineasta, um doloroso comentário sobre o totalitarismo político e, ainda, uma crônica avassaladora sobre o fatalismo social.
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Indicado a três Oscars (Filme Estrangeiro, Fotografia e Direção), “Guerra Fria” ostenta uma linguagem moderníssima sem deixar o viés mais clássico de lado – ressaltado pela excepcional fotografia em preto e branco assinada por Lukazs Zal.
Pawel Pawlikowski conta essa história de um músico sofisticado e uma aldeã polonesa com talento, carisma e beleza para o canto ao longo de uma década passando por recantos da Polônia, Berlim, a antiga Iugoslávia e Paris. O filme se constrói por meio de elipses que reforçam sua potência dramática.
O longa começa pouco depois do fim da segunda guerra mundial e captura a ascensão do regime comunista e sua crescente interferência na produção artística polonesa, algo que deixa Wiktor, que Tomasz Kot compõe com acenos a Humphrey Bogart, incomodado. Isso e o desejo de viver intensamente o amor que sente por Zula (Joanna Kulig) o fazem querer fugir para Paris.
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Pawlikowski sublinha sempre com energia irrefreável os paradoxos que habitam esses dois personagens. A maneira como os dois se debatem com seus destinos e, simultaneamente, são senhores de seus infortúnios torna o filme muito mais apelativo emocional e intelectualmente. Existe uma reflexão amplamente existencial desenvolvida pelo cineasta, também responsável pelo roteiro, no curso de seu filme e outra, alinhada à primeira, mas independente dela, essencialmente romântica e descolada da racionalidade que teima em apartar as escolhas ruins que os personagens fazem pelo caminho.
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Furacão Kulig
A beleza triste da atriz Joanna Kulig é das coisas mais mesmerizantes e impactantes do cinema recente e isso ajuda muito a dilatar a experiência emocional que “Guerra Fria” pretende ser. A polonesa é uma atriz que trabalha muito bem os gestos e expressões, mas carrega uma força interior, bruta, dilacerante, que quando externada para a câmera desarma o espectador completamente. Isso pode se dar tanto na confissão de um drama pessoal envolvendo seu pai, como em uma cena de dança. Das atuações mais espetaculares da temporada.
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“Guerra Fria” é um filme que fica com o espectador e, se essa boa e cada vez mais rara característica o abona, o que o torna especialmente singular é a maneira intensa e abrasadora com que dimensiona uma história de amor.