Inspirada sátira de horror, "Velvet Buzzsaw" condena comercialização da arte
Filme da Netflix marca 2ª colaboração de Jake Gyllenhaal e Rene Russo com Dan Gilroy. Juntos eles fizeram o excelente "O Abutre"; leia a crítica
Por Reinaldo Glioche |
Depois de analisar a natureza corruptiva da mídia em “O abutre” (2014) e do sistema Legal em “Roman J. Israel”, Dan Girloy volta com “Velvet Buzzsaw”, uma sátira de horror ambientada no mundo da alta arte, e analisa a maneira deformadora com que nos relacionamos com a arte e estabelece, assim, mais um ensaio sobre o homem sendo tragado pelo buraco negro do “sistema”.
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"Velvet Buzzsaw" é inegavelmente pretensioso e onde Gilroy se permite não apenas abraçar certo esteticismo como entende necessário que sua trama remonte a signos e simbologias, reforçando as matizes de sua ponderação sociocultural em relação àquele universo e àqueles personagens.
Jake Gyllenhaal vive Morf , um autocomplacente crítico de arte que acredita que “melhora tudo aquilo que analisa”. Ele é gay e isso importa não apenas pela afetação do personagem e por ela tão bem significar aquele ambiente, mas porque Morf se vê atordoado por Josephina (Zawe Ashton). A excitação e a relação heterossexual que se segue é uma das metáforas mais intrigantes, e ainda mais satisfatória, do filme – todo ele rodeado de metáforas e elucubrações.
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Além dessas duas figuras hipnóticas, temos Rhodora Haze (Rene Russo), uma galerista com fome pelo negócio e disposta a ser a melhor no business, não importando os meios para chegar lá. Há o seu concorrente, vivido por Tom Sturridge, menos talentoso para a arte de comercializar arte, mas engenhoso e perseverante, Piers (John Malkovic), um artista que viu seu valor de mercado diminuir depois que conseguiu ficar sóbrio, Coco (Natalie Dyer), uma jovem que veio de Michigan para Miami, na Flórida, para tentar ascender nesse universo e rapidamente percebe que contrabandear segredos pode ser uma valorosa forma de alpinismo e Gretchen (Toni Collette), curadora do museu de arte contemporânea local que passa a ser consultora de um colecionador privado.
Essa rica e distinta fauna de personagens permite que Gilroy, que é um roteirista melhor do que é diretor, articule ideias provocadoras, polêmicas e rarefeitas, que nem sempre são desenvolvidas a contento, mas que mesmo assim causam um impacto virulento.
As piadas incômodas, repare em uma particular a respeito da percepção de arte que surge em dois momentos envolvendo um amontoado de lixo e um cadáver, tornam essa sátira ainda mais demolidora. Em um dado momento, o filme assume a lógica vingativa dessa arte que se insurge contra os arautos da mercantilização.
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Há muitas camadas e interpretações possíveis diante do que Dan Gilroy coloca em seu filme, muito pela maneira como ele coloca, e isso seguramente é uma das maiores belezas de “Velvet Buzzsaw” que ao sublinhar o mal-estar cultural se fia como um veículo anti-hollywood dentro da lógica hollywoodiana. Mais artístico e paradoxal do que isso, impossível.