"Vai Anitta" embala pop star brasileira para consumo internacional
Produto bem calculado, série documental de Anitta para a Netflix mostra artista multifuncional e identificável, mas falha ao não ir além do superficial
Já é consenso há algum tempo que Anitta é a maior pop star brasileira da atualidade e muito provavelmente de todos os tempos. O projeto “ Check Mate ” se incumbiu de internacionalizar a cantora e ter uma série na Netflix sobre esse projeto é mais uma demonstração do apuradíssimo tino empreendedor da cantora que administra com irrepreensível talento sua própria carreira. “Vai Anitta” foi anunciada em julho e lançada na plataforma de streaming na última sexta-feira (16).
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São seis episódios com cerca de meia hora de duração cada que cobrem desde o momento que o projeto “Check Mate” toma forma em meados de 2017 até a gravação ao vivo do clipe de Indecente . “ Vai Anitta ” não esconde seu viés promocional, mas é bem sucedida em desenhar para o público, estrangeiro principalmente, uma artista multifuncional, criativa e engenhosa, e principalmente muito identificável.
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Para os brasileiros que acompanham a estrela de muito perto, seja pela intensa cobertura midiática ou por seus perfis nas redes sociais, há muito pouco a ser revelado, o que não exatamente se configura em um problema, já que este é um produto oficial, não um documentário que pretende revelar a Larissa que existe dentro da Anitta.
Os grandes momentos da série residem justamente quando a produção, idealizada e produzida por John Shahidi e Sam Shahidi, donos da Shot Studios, produtores associados de Anitta em sua empreitada internacional e que também são personagens aqui, abandona a pretensão e se contenta em registrar a simplicidade de uma garota que foi mais longe do que poderia sonhar. Cenas como as que ela canta Mariah Carey em um rinque de gelo em Nova York ou elabora a respeito de como gosta de suas espigas de milho são bons exemplos.
Você viu?
No entanto, a série é repleta de momentos forjados para evidenciar essa estrela gente como a gente que não ostentam o mesmo efeito dramático como quando ela prega uma peça em Jojo Toddynho ou quando demonstra seu apoio pela comunidade LGBTQ. Essa artificialidade compromete um pouco os efeitos do show, mas, novamente, apenas para quem conhece bem o percurso de Anitta e os meandros de uma produção dessa estirpe.
E a Netflix com isso?
É muito fácil perceber o que Anitta tem a ganhar com a parceria, mas o que a gigante do streaming, que ainda não tinha desenvolvido nenhum programa com esse perfil com artistas de grande porte estrangeiros tem a ganhar com isso?
Naturalmente, Anitta é um nome em que vale se apostar. Ajudar na penetração internacional da popstar brasileira pode trazer dividendos futuros para a empresa. Anitta faz parte de um projeto em curso que enseja um novo modelo de documentários para catálogo com destaques regionais que tenham potencialidade global.
Em novembro também chegam à plataforma de streaming “Westside”, um reality show musical que poderia ser descrito como o “American Idol” da Netflix, e “Nicky Jam: El Ganador”, série documental sobre a vida de um rapper porto-riquenho nos mesmos moldes de “Vai Anitta”. Há um filão aí e a Netflix reúne as condições ideais para explorá-lo.
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Se “ Vai Anitta ” começa com jeitão de “E! True Hollywood Story”, aquele teledocumentário sensacionalista do canal E!, termina como veículo autoafirmativo de uma artista que sabe muito bem onde quer chegar e é capaz de atrair parceiros estratégicos para chegar lá. Da depressão ao marido que já virou ex, a velocidade do cometa Anitta é um convite ao yoyeurismo e não há nada mais pop no mundo de hoje do que ir parar na Netflix.