"A Excêntrica Família de Gaspard" dá conotação sexual e libertária ao romance
Novo filme do diretor de "Para Poucos" tem humor francês, personagens esquisitos e ideias pouco ventiladas em comédias românticas; leia a crítica
Terceiro longa-metragem de Antony Cordier , "A Excêntrica Família de Gaspard" guarda alguma semelhança com seus dois longas anteriores, "À Flor da Pele" (2005) e "Para Poucos" (2010), já que se debruça maiormente sobre impulsos sexuais e o choque entre nossos aspectos mais primitivos e as convenções sociais no tocante as relações amorosas, mas se distingue dos outros por acomadar-se na esfera das comédias românticas.
Gaspard (Félix Moati) é um jovem de 25 anos que, depois de ficar afastado por anos, se reencontra com a família para a ocasião do novo casamento de seu pai. A caminho da casa, Gaspard conhece a jovem aventureira Laura (Laetitia Dosch) e a contrata para acompanhá-lo como sua namorada. A iniciativa soa estranha para o público e estranheza é um dos mais insaciáveis predicados de "A Excêntrica Família de Gaspard" .
A família controla um zoológico e a relação de Gaspard com sua irmã Coline (Christa Théret), que frequentemente age como um urso (!), logo desponta como inortodoxa. Há um desejo latente dela por ele e o espectador não se furta a imaginar se essa não seria a razão do afastamento dele da família.
O viés mulherengo do pai, que dorme com ex-namoradas e "acasala" com outra mulher às vésperas do próprio casamento ganham relevo nesse inusitado painel que é apresentado ao público. Assim como o razoável grau de tolerância vigente com as circunstâncias percebidas como anormais de Coline. O irmão mais velho de Gaspard namora uma tatuadora vegetariana que se ressente dele ter um zoológico e Laura suspeita que Gaspard seja gay e precise enganar sua família contratando uma falsa namorada.
Elevando os sentidos
Toda essa construção remete a um comentário, por vezes desarticulado, sobre como nossas convenções sociais e civilizatórias podem atentar contra nossa própria natureza e gerar conflitos, íntimos ou familiares, capazes de reverberar por anos e até mesmo nos anular.
Cordier tem boa mão para cenas sensuais e já havia provado isso em seus filmes anteriores. Aqui elas surgem envoltas em esquisitices, mas funcionam dentro do contexto sugerido. Especial atenção se faz recomendável à maneira como o cheiro e a sexualização inerente a ele se dá no filme. A atração e o desejo irrefreável são elementos bem traduzidos por essa vertente animalesca do sexo.
"A Excêntrica Família de Gaspard" é uma comédia romântica, e o humor é bem francês, que se pretende fluída, incomum e cuja excentricidade ecoa no público, ainda que as ideias defendidas pelo cineasta se percam na esquisitice do todo.