"Culpa" confronta rapidez com que formamos convicções e seus riscos inerentes
Longa dinamarquês, destaque da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, chama a atenção por se passar em uma única locação; leia a crítica
O primeiro longa-metragem de Gustav Möller é uma paulada forte no espectador. Esteticamente arrojado, “Culpa” é um thriller policial de primeira linha que se passa em um só ambiente e com foco absoluto em apenas um personagem. Em cerca de hora e meia, o cineasta desvela uma trama com algumas reviravoltas inesperadas para articular um potente comentário sobre como nos apressamos em formar convicções e o risco inerente a este movimento.
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O que torna a produção especialmente eloquente é a maneira como situa o espectador. O ponto de vista do protagonista, que pauta a narrativa, é o mesmo do público e isso se dá de maneira muito orgânica. Subitamente, no entanto, público e protagonista são tomados por um sentimento de culpa ostensivo e o público se lança no desafio de observar onde Asger Holm (o ótimo Jakob Cedergren) errou.
Asger é policial e está de plantão no centro de emergências. Ele está impaciente. No dia seguinte será julgado por algo que não sabemos, mas logo descobrimos que esse algo fez com que ele tivesse que trabalhar internamente.
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Entre uma ligação e outra, uma mulher sequestrada. Asger dá início aos protocolos. A vítima conhece o sequestrador, ele tenta obter mais pistas do paradeiro e do veículo em que eles estão. O sequestrador a deixa ao telefone para “acalmar a filha”. Quando a ligação cai pela primeira vez, Asger tenta o contato com a filha e a partir desse momento o longa vai tomando contornos surpreendentes que chocam tanto o protagonista como o público.
Gustav Möller não deixa o ritmo de seu filme esmorecer e mantém-se no cangote de seu protagonista. É possível sentir seu suor, sua agonia. Sua câmera jamais é passiva e busca as expressões de Cedergren com curiosidade e inquietação. Ao fim do filme, extenuados, público e protagonista se voltam para dentro na vã tentativa de conter as vinhas do desatino.
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“Culpa” será exibido neste domingo (21) no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 1, às 21h50 e no Cineart Petrobras 1 na segunda-feira (29), às 17h30.