Sofisticada e inteligente, "The Romanoffs" é o biscoito fino do streaming no ano
Produção cara e portentosa da Amazon Prime Video marca o retorno do criador de "Mad Men" ao universo das séries de TV e o faz brilhantemente
Ninguém perfilou tão bem a sociedade norte-americana dos anos 50 e 60 como Matthew Weiner na série “Mad Men” (2007-2015), multipremiada pelo Emmy, Globo de Ouro e demais prêmios ao longo de suas sete temporadas. Ele agora está de volta com “The Romanoffs”, nova antologia da Amazon Prime Video .
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São oito episódios independentes que apresentam histórias distintas sobre pessoas que acreditam ser descendentes da família real russa. Ambientada em sete países ao redor do mundo, “The Romanoffs” foi filmada em três continentes. Cada história acontece em um novo local com um novo elenco.
Os episódios são disponibilizados toda sexta-feira e os dois primeiros foram lançados no dia 12 de outubro. Com a duração de um longa-metragem, cada episódio belisca um pouco da relação turbulenta entre a elite e as classes menos favorecidas. O mal-estar social da burguesia também é retratado com agradável dose de cinismo e ironia.
Elenco de primeira grandeza
A série é uma das principais apostas da Amazon Prime Video para 2018 e para rivalizar em estatura internacional com a Netflix. A plataforma, convém lembrar, já ostenta mais prêmios nobres do que a rival em categorias importantes no Emmy e Globo de Ouro com produções como “Transparent” e “The Marvelous Mrs. Maisel”.
O esmero da produção, dos figurinos à direção de arte, passando pelas locações e elenco, demonstra o investimento alto da Amazon na produção. A julgar pelos dois primeiros episódios, o custo compensa. A série é um deleite para um público que procura produções sofisticadas e que se constroem sobre camadas nada óbvias e sentimentalistas, mas que se concatenam a humanidade dos personagens e da audiência.
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O elenco é um espetáculo à parte. Isabelle Huppert, Marthe Keller, Aaron Eckhart, Diane Lane Christina Hendricks, John Slattery, Amanda Peet , Jack Huston, Corey Stoll, Andrew Rannells, Mike Doyle, JJ Field, Janet Montgomery, Paul Reiser, Noah Wyle, Kathryn Hahn, Kerry Bishé, Ben Miles, Mary Kay Place, Griffin Dunne, Cara Buono, Ron Livingston, Jon Tenney, Clea DuVall, Radha Mitchell, Hugh Skinner, Emily Rudd, Adèle Anderson, Annet Mahendru, Michael O'Neill e David Sutcliffe são alguns dos vistosos nomes envolvidos no projeto.
“The Violet Hour”
O primeiro episódio do programa é estrelado por Aaron Eckhart, que faz um americano que vai para Paris assistir a tia, vivida por Marthe Keller, que está nas últimas. Ele está de olho no apartamento gigantesco dela. Só que em meio a diversos surtos de pressão alta, Anushka não morre e a namorada francesa do bonitão está perdendo a paciência com a situação. Weiner é cirúrgico ao capturar a natureza usurpadora do pensamento das elites nas relações que se constroem em torno do apartamento e traz à baila conceitos como xenofobia e solidão para traçar um painel, rico e insuspeito da situação.
“The Royal We”
No Segundo episódio, Corey Stoll vive um sujeito amargurado com sua existência. Um Romanoff nos EUA e que desfruta de algum luxo por causa da esposa endinheirada, Michael é daquele tipo que anula seus desejos em prol da mulher. Ela, amorosa e bem disposta, tenta corrigir isso que está afetando a rotina conjugal em terapia. Ele hesita e resiste e vê na convocação para integrar um júri a chance de escapar de um cruzeiro que ela pagou para que pudessem conhecer mais da história da família dele.
Os desdobramentos saborosos dessas circunstâncias se refugiam no cinema de Woody Allen e John Huston. A rigidez dos personagens surge desorientada em face do absurdo da existência. Weiner tece um comentário agudo sobre as idiossincrasias dos abastados em que assassinatos e infidelidade ganham nova e disléxica conotação.
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O veredito de “The Romanoffs”
O senso de humor algo perverso pauta a narrativa de “The Romanoffs” , que encontra na decadência da nobreza que consiste em um mero nome, amaldiçoado pelo tempo e pela história, um elixir de imaginação e esplendor narrativos.