Mulheres radicais: 10 artistas latinas para conhecer na exposição na Pinacoteca
Mais de 100 artistas ganham espaço em exposição da Pinacoteca em São Paulo, que busca divulgar obras de mulheres das Américas no final do séc. XX
Ao longo do século XX, a América Latina passou por muitas mudanças sociopolíticas, que foram refletidas em obras, seja na literatura, na música ou nas artes visuais. Dentro desse espectro, artistas latinas usaram seu trabalho para refletir sobre opressão e a luta pela conquista de suas liberdades individuais.
E são justamente essas artistas latinas que estão reunidas na exposição “Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960 – 1985”, em cartaz na Pinacoteca , em São Paulo (SP). A mostra vai até 19 de novembro e conta com 280 obras de 120 artistas de 15 países.
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Artistas latinas marginalizadas
Essas artistas usaram seu trabalho para expor a submissão das mulheres, questionar o papel da mãe na sociedade, propor debates sobre as liberdades de seus corpos e denunciar a violência contra as mulheres, além de explorar a história latino-americana. “A exposição surgiu de nossa convicção comum de que o vasto conjunto de obras produzidas por artistas latino-americanas e latinas tem sido marginalizado e abafado por uma história da arte dominante, canônica e patriarcal”, definem as curadoras Cecilia Fajardo-Hill e Andrea Giunta.
O período selecionado, entre 1960 e 1985 foi decisivo na história da América latina, e também na representação artística do corpo feminino. Durante esse período, as artistas pioneiras partiram da noção do corpo como um campo político. A exposição, que já passou pelo Hammer Museum, na Califórnia e pelo Brooklyn Museum em Nova York, chega a São Paulo com nomes adicionais brasileiros, como Wilma Martins, Yolanda Freyre, Maria do Carmo Secco e Nelly Gutmacher.
Marcia X (Brasil)
A carioca Márcia Pinheiro, conhecida como Márcia X, sempre teve um tom erótico em suas obras, adotando o uso de objetos sexuais. Ela também misturava esses elementos com outros que remetiam a infância, como uma forma de problematizar a sexualização precoce.
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Nelly Gutmacher (Brasil)
A carioca atua desde os anos 1960 Nelly se dedica ao estudo de pintura, desenho, fotografia e gravura, além das artes plásticas. Já lecionou em diversas instituições, incluindo a escola de artes visuais do Parque Laje e a Casa de Artes de Laranjeiras. Na exposição estão suas esculturas em cerâmica de moldes de corpos femininos, quebrados, com remendos e escoriações.
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Claudia Andujar (Suíça/Brasil)
Claudia Andujar nasceu na Suíça e perdeu boa parte de sua família durante a Segunda Guerra Mundial. Veio para o Brasil em 1955 e se naturalizou Brasileira. Andujar dedicou boa parte de sua carreira na fotografia para registrar os índios Yanomami. Ela chegou a viver durante um tempo com a tribo e, durante uma campanha de vacinação na aldeia, chegou a registrar todos os índios em suas imagens.
Paz Errázuriz (Chile)
O trabalho mais conhecido de Pax na fotografia inlcui o registro de grupos marginalizados, como prostitutas, drag queens e pacientes psiquiátricos durante a violenta ditadura de Pinochet que vigorou entre 1973 e 1990.
Graciela Iturbide (México)
Entre os inúmeros trabalhos fotográficos de Graciela, se destacam os que evidenciam seu feminismo, como a série “Nuestra Señora de Las Iguanas”, que é tão celebrada que teve uma das imagens transformadas em estátua. Em outro ensaio, porém, ela retrata um homem vestido de mulher, evidenciando que ela também buscou abordar temas como sexualidade em sua obra. Uma de suas imagens chegou a ser a capa de um single da banda Rage Against The Machine.
Monica Mayer e Maris Bustamante (México)
A dupla tem um trabalho individual relevante, com obras expostas no Brooklyn Museum, além de exposições ao redor do mundo. Juntas, porém, elas criaram o coletivo feminista “Polvo de Galinha Negras”, que gerou, entre outras coisas, a performance “Madres”, onde ambas ficaram grávidas na mesma época, com o intuito de explorar a maternidade e o trabalho opressivo da mulher nesse aspecto.
Amelia Toledo (Brasil)
Paulistana, Toledo tem uma vasta produção e também foi exibida em diversos museus do mundo. Na Pinacoteca está destacado “Sorriso do Menina”, feita durante o período de ditadura militar. Sua obra navegou entre a crítica política e o lúdico e filosófico.
Sonia Gutiérrez (Colômbia)
A artista não busca sutileza e seu trabalho exposto deixa bem evidente as imagens de tortura durante a ditadura. Mulheres presas pelas pernas e sofrendo violência são desenhadas usando como referência a Pop Art, e fazendo um contraponto entre o estilo vivo e colorido e a temática densa e pesada.
Roser Bru (Chile)
Nascida na Espanha, Bru fez carreira no Chile, onde estudou pintura com artistas como Pablo Burchard. Seu trabalho já foi exposto no Museu de Arte Moderna e no metropolitan. Ambos em Nova York. Entre suas pinturas estão os retratos da poeta Gabriela Mistral, primeira mulher latina a receber o Prêmio Nobel de Literatura.
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Liliana Maresca (Argentina)
Liliana Maresca é uma das artistas latinas na exposição que usam o próprio corpo como obra. Iniciou seu trabalho quando a Argentina estava saindo da ditadura e, frequentemente, usou a tortura e o desaparecimento de pessoas no período como temática para suas obras e intervenções, que pregavam a liberdade do corpo feminino.