Choque cultural entre Japão e EUA é motor de paixão súbita em "Oh Lucy!"
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Tanto o cinema japonês como o cinema americano já se dedicaram a tergiversar a respeito das diferenças culturais entre ocidente e oriente e acerca dos choques e possibilidades por elas ensejadas. "Encontros e Desencontros" (2004) é um filme bastante lembrado por essas características. A diretora singapuriana Atsuko Hirayanagi oferta um contraponto interessante ao filme de Sofia Coppola com "Oh Lucy!".
Shinobu Terajima é Setsuko, uma mulher solitária que tem um trabalho enfadonho em um escritório de Tóquio . Incitada por sua sobrinha Mika (Shioli Kutsuna) a começar a fazer aulas de inglês ela acaba se encantando pelo professor John (Josh Hartnett), um americano que propõe um método de ensino radicalemnte diferente.
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Durante as aulas ela assume um alter-ego. Lucy, inspirada pela canção dos Beatles, e aos poucos vai se percebendo apaixonada por John. Ainda que não consiga elaborar isso. Acontece que o professor desaparece e, ao que tudo indica, junto com sua sobrinha, com quem vivia uma história de amor em segredo.
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"Oh Lucy!" começa com um homem se suicidando e a depressão daquela vida paralisada de Setsuko é uma presença incômoda e disforme no longa e a maneira como Hirayanagi desenvolve o interesse da protagonista por John como uma espécie de ressureição em vida é um dos pontos altos do filme. Mais do que uma resposta para sua carência, está em jogo o desejo por uma vida diferente da que se tem.
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Há, ainda, a irmã de Setsuko que resiste ao ímpeto da irmã e recrimina seu impulso por liberdade. Isso pode ser visto tanto em Tóquio como nos EUA, para onde ambas vão em busca de Mika. Ainda que secretamente Setsuko busque reencontrar John.
A energia e afeto que emanam de "Oh Lucy!" cativam o espectador. Não se trata de um filme necessariamente gentil com sua personagem, mas que enxerga na brutalidade com que ela decide viver um traço de esperança.
É no dualismo entre o que o Japão e a América representam, no foro íntimo de Setsuko, mas também de Lucy, que o filme se animiza e dialoga, enfim, com "Encontros e Desencontros".