O cinema francês é uma das poucas cinematografias que consegue tratar de temas ásperos e tensionados de maneira leve, desobstruída e que, ainda assim, provoque certa reflexão. Um bom exemplo é a comédia “Château-Paris”. Aparentemente despretensiosa, a fita de Modi Barry e Cédric Ido flagra uma Paris multicultural e com diversidade étnica e fala de como os imigrantes interagem com a cidade.
Leia também: Filme sobre impeachment de Dilma Rousseff é destaque do Festival É Tudo Verdade
O retrato ofertado por “Château-Paris” é igualmente multifacetado. O filme acompanha um punhado de imigrantes nos entornos do décimo distrito de Paris. Há os italianos, os chineses, os curdos, os indianos e os africanos, protagonistas formais do longa. Esse passeio inusitado, que é também um respiro dos clichês da capital francesa, mostra como grupos rivais de imigrantes africanos representando salões de beleza das redondezas disputam a clientela feminina nas proximidades da estação do metrô Château d’Eau (nome original do filme).
Leia também: “Maria Madalena” desfaz estigma da prostituta e a coloca como apóstola de Jesus
Charles (Jacky Ido) sonha em ter o próprio salão, um salão masculino. Ele insiste para que o curdo Mawad (Zirek Ahmet), um tipo que faz poemas para suportar o exílio, lhe venda o seu, mas encontra certa resistência. Enquanto isso, se vira como prospector de clientes para o salão de Dan (Gilles Cohen), que parece empregar o colega apenas para ter um aliado capaz de espionar a namorada de quem desconfia lhe ser infiel.
Leia também: 1ª série nacional a focar no empoderamento, "O Negócio" volta para último ato
É justamente essa situação em torno da charmosa Sonia (Tatiana Rojo) que detonará conflitos que, por mais que pareçam peculiares e pontuais, parecem envolver a rotina daqueles personagens, entregues à própria sorte. A realidade ofertada por Modi Barry e Cédric Ido, neste que é o primeiro filme da dupla, é de personagens tentando fazer a vida da melhor maneira possível. Paris é um sonho, mas também uma realidade que precisa ser domada de alguma maneira. Charles aposta no charme e na lábia, enquanto que outros personagens encontram maneiras diferentes de lidar com esse fato. A beleza perene de “Château-Paris” surge justamente desse jogo de contrastes.