É interessante como, de dois anos para cá, os protagonistas dos filmes indicados para o Oscar têm mudando bastante. Claro, com uma academia cada vez mais diversificada, filmes diferentes começam a aparecer. Se em 2015 não havia nenhuma protagonista mulher na lista dos indicados para melhor filme, agora vemos estas atrizes quase na metade dos filmes indicados para o Oscar 2018, com "Eu, Tonya", "Lady Bird", "Três Anúncios para um Crime", "A Forma da Água", entre outros.
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Porém, a academia segue uma tendência que vai além dos seus votos para o Oscar . 2017 foi o ano de "Mulher Maravilha" e "A Bela e a Fera", filmes que não precisam da cobiçada premiação para gerar interesse e formar fãs (especialmente no caso de "Mulher Maravilha"). 2015 não foi diferente, com filmes que rapidamente ganharam atenção, como "As Sufragistas", "Especialista em Crise", "Carol", "Joy: o Nome do Sucesso", contando com nomes como Jennifer Lawrence e Sandra Bullock.
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Podemos dizer então que a academia está, de um modo ou de outro, se conformando com esta tendência que já existia na indústria cinematográfica. Mas o que fez com que este tipo de personagem começasse a ser mais utilizado?
Uma das respostas é a procura, pelos estúdios e pelo cinema independente, de um modo novo de contar histórias antigas. Quem é escritor, especialmente roteirista de cinema, sabe que não há enredos completamente únicos e que já não foram contados de alguma maneira (o que é "A Forma da Água" senão uma obra fortemente inspirada por "A Bela e a Fera"?). O que dá a originalidade para uma trama é o modo como histórias antigas são reformuladas.
Mulheres protagonistas em papeis que não apareciam anteriormente faz parte disto. Até mesmo produções populares que vão direto para serviços de vídeo streaming, como "Stranger Things" no Netflix, mostram isso (para quem vê a série, é só lembrar da garotinha superpoderosa chamada Onze).
Em uma indústria que demonstra ter aversão a riscos e tenta prever o sucesso futuro por meio de remakes e obras que anteriormente já haviam feito sucesso, o uso de atrizes no papel principal muitas vezes dá a uma historia antiga o “algo novo” que o público quer.
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Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme "NanoEden", primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.