“Eu não quero saber, eu só sei que sou Vila Isabel” , canta Martinho da Vila cheio de graça em “Alô,Vila Isabeeeel” , disco lançado nas lojas e plataformas digitais na última sexta-feira (19). Projeto antigo de Martinho, o álbum com 25 faixas “conta a história” do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel. O clima é de ensaio de escola de samba. Além de Martinho, que completa 80 anos em 2018, há outras vozes no álbum.
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A inédita Quatro de Abril abre o disco falando da fundação da escola. “Três dias depois da mentira” . A Vila foi fundada em 1946, e em suas duas primeiras décadas alternava as últimas colocações do desfile oficial com passagens pelo grupo de acesso. Foi só com a chegada de Martinho da Vila , no fim dos anos 60, que a escola conseguiu furar o bloqueio das quatro grandes da época (Portela, Mangueira, Império Serrano e Salgueiro) e passou a figurar nas primeiras posições. Mas o título não vinha.
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Escolas da “nova geração”, como Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade, começaram a ganhar campeonatos, e a Vila continuava na seca. Foi essa a inspiração para Sempre a sonhar , uma das faixas mais lindas do disco, com letra de Martinho e música de Ruy Quaresma, que fala sobre o sonho dos vila-isabelenses de serem campeões do carnaval ( “Quando o sonho acontecer / E todo o morro descer / Numa tremenda euforia / Eu vou tentar me segurar / Pra não gritar, nem chorar / E nem cair na orgia” ).
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Essa canção é do disco “Martinho da Vila Isabel”, de 1984, antes da escola ganhar seu primeiro título. O primeiro título viria quatro anos mais tarde com Kizomba – A Festa da Raça , que ganha uma versão deliciosa na quarta faixa do álbum. O arranjo no piano é da filha de Martinho, Maíra Freitas que solta a voz ao lado do pai na faixa seguinte, que relembra quatro sambas de terreiro de Martinho Vila Isabel (parceria com Moacyr Luz), Graça Divina (escrita com Luiz Carlos da Vila), No Embalo da Vida e Renascer das Cinzas .
“Eu amo a minha Vila e você é minha segunda opção”
O amor de Martinho da Vila pela Vila Isabel é palpável e é impossível não cantarolar sambas são cativantes. “Alô, Vila Isabeeeel” propõe tanto essa releitura de sambas históricos, como A Vila Canta o Brasil, celeiro do Mundo como inéditas que destilam afeto e graciosidade como Filho fiel e Pagode do seu China . O disco é irreverente, gostoso de se ouvir e cativa até mesmo quem não é fiel ao samba.