Como foi o ano do cinema no Brasil e no mundo em 2017?

Hollywood luta para se segurar em franquias exaustivas, enquanto no Brasil novas tendências de cinema emergem fazendo diálogo com novos públicos

O panorama cultural de hoje não é o mesmo de 10 anos atrás: com a ameaça de novos modelos de distribuição e um público que tem acesso às informações de antemão, a indústria cinematográfica passa por uma fase de crise e luta para manter seus lucros nas alturas. Apesar disso, 2017 foi um ano marcado por diversos lançamentos de blockbusters que já eram aguardados e franquias que retornaram para dar fôlego na arrecadação para os estúdios. Afinal, quais foram os filmes que tiveram a maior bilheteria do ano?

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Foto: Divulgação
Remake de ''A Bela e a Fera'' teve a maior bilheteria mundial de filmes de 2017, seguido por ''Velozes e Furiosos 8''


Perfil mundial

Os números não mentem – apesar da exaustão dos gêneros, filmes de super-heróis e de ação continuam a serem campões isolados quando se trata do gosto do público. Dos dez filmes mais vistos em 2017 quatro eram de heróis, dois de ação, dois de fantasia, um era de terror e uma era uma animação para crianças.

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Mesmo com uma variação entre os gêneros, originalidade não foi o ponto forte de 2017 na sétima arte. Nenhum dos filmes que entrou na lista era exatamente novidade: “A Bela e a Fera” e “It – A Coisa” são remakes de títulos antigos, “Velozes e Furiosos”, “Piratas do Caribe”, “Meu Malvado Favorito” e “Zhan Lang” são continuações e os demais são as mesmas franquias de super-heróis que desde 2007 não saem de cartaz.

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Poder chinês

A cada ano a arrecadação dos estúdios dentro do território americano é mais baixa e cresce a preocupação com a sustentabilidade desse nicho. Assim a solução que as empresas têm adotado é olhar para o mercado estrangeiro como potencial ainda a ser explorado e a dependência do sucesso principalmente no continente asiático nunca foi tão grande.

Você provavelmente nunca nem ouviu falar de franquia “Zhan Lang”, cuja continuação alcançou notáveis 870 milhões de dólares e ocupou o posto do 5º filme que mais arrecadou em 2017. Sem um diretor notável, elenco de estrelas e um enredo que não vai muito além do clichê, 98% da bilheteria de “Zhan Lang II” veio apenas da China – mesmo que não houvesse uma exibição fora do país, o filme cairia somente uma posição no ranking dos dez mais do ano.

Mesmo sendo um caso extraordinário, os resultados do cinema mundial estão nas mãos do público chinês: quase 32% de toda a bilheteria de “Velozes e Furiosos 8” foi arrecadada por eles. Em comparação a participação brasileira nos lucros da produção foi ínfima, cerca de 3,3%.

Como anda o mercado nacional

Seguindo a tendência mundial os primeiros lugares de bilheteria no Brasil são blockbusters . Contudo, há nomes curiosos como “A Cabana”, título que no âmbito internacional foi visto como um fracasso de público e por aqui ocupou a 9ª posição no total, e “Moana” que, na realidade, foi lançado mundialmente em 2016, mas só chegou aos cinemas nacionais na primeira semana de janeiro.


O próprio cinema nacional ficou de escanteio entre os mais buscados pela audiência; De acordo com dados do Box Office Mojo , a trama que teve melhor desempenho foi “Polícia Federal – A Lei É Para Todos” – e, mesmo assim, sua bilheteria foi 85% menor do que do primeiro colocado geral. Com orçamento de R$ 16 milhões e exibições em mil salas de cinema no país, o filme passou longe de ter lucro. Se convertido para reais, o drama policial arrecadou apenas 4 milhões a mais do que seu custo.

Como tendência entre os filmes nacionais de maior bilheteria vemos que estão as comédias, independentemente da faixa etária de público, e, a contra gosto de muita gente que torce o nariz para celebridades digitais, produções ligadas à Youtubers e influenciadores tiveram bom desempenho de público. O polêmico filme estrelado pelo humorista Danilo Gentilli, por exemplo, ficou em 61º lugar e teve bilheteria de $1,9 milhões de dólares mesmo com uma vasta coleção de críticas negativas.

No aspecto internacional 2017 mostrou mais do mesmo –  franquias, sequências e releituras que já não fazem mais a cabeça do público – e confirmou a importância da Ásia para consolidação do consumo cultural que, em crise no ocidente, precisa achar formas de se reinventar. No Brasil, um dos maiores usuários de redes sociais e plataformas semelhantes do mundo, estamos acompanhando uma mudança no perfil de filmes que, até então, eram estrelados apenas por atores globais e personagens já consolidadas na mídia analógica.