Se “O Despertar da Força” (2015) repetiu os beats de “Uma Nova Esperança” (1977), a primeira providencia de Rian Johnson (“Looper: Assassinos do Futuro”) é se afastar estruturalmente da trilogia original, o que não quer dizer que o desenvolvimento narrativo desarmonize-se da referida trilogia. “Star Wars: Os Últimos Jedi” é um filme diferente dentro do cânone de “Star Wars” e só por isso já ganha pontos. São muitos os interesses que necessitam ser convergidos aqui e Johnson segura bem as pontas.
Leia também: "A Forma Da Água" lidera indicações ao Globo de Ouro 2018; confira lista
A cena inicial é de tirar o fôlego. Poe Dameron (Oscar Isaac) lidera uma investida da Resistência contra um Encouraçado da Primeira Ordem. O que parece uma pequena vitória aos poucos vai revelando seu gosto amargo. O reagrupamento político, um dos fortes da série, surge aqui revigorado e “Star Wars: Os Últimos Jedi” se ocupa de redesenhar muita coisa na Galáxia. O episódio dá especial atenção, e não poderia ser diferente, ao desenvolvimento de Kylo Ren (Adam Driver) e Rey (Daisy Ridley), que após o confronto no fim de “O Despertar da Força” encontram-se estranhamente mais próximos.
Leia também: Decepção! Confira as piores bilheterias do cinema do ano
O filme, por sinal, se debruça sobre o vácuo a respeito dos pais de Rey, mas o faz com sagacidade suficiente para não esgotar a questão. O arco em que a jovem busca conexão com o auto exilado Luke Skywalker (Mark Hamil) talvez se desenvolva mais lentamente do que o necessário. O segundo ato, aliás, responde pela grande fragilidade de um filme que no geral está muito bem arredado. É nele que se detecta a maior influência da Disney e arcos que parecem ter pouco a acrescentar à trama que não produzir efeitos morais. Mesmo assim é aí que surge um dos melhores personagens do filme, o codificador sem bandeiras vivido por Benício Del Toro (se divertindo um bocado). É ele quem dá uma valiosa lição sobre política e guerra a Finn (John Boyega).
Dimensionando conflitos
Sob muitos aspectos este é um filme de Kylo Ren. Assim como Darth Vader foi o protagonista natural da trilogia original, seu herdeiro do lado sombrio da força parece destinado a preencher este espaço. Além de contar com os préstimos do excelente Adam Driver , Ren tem conflitos muito mais sedutores, do ponto de vista da audiência, do que Ren – que no fundo parece apenas querer pertencer a algo. A maneira como “Os Últimos Jedi” se organiza eleva Ren a novo patamar e o codifica como o nêmesis natural de Rey. A jovem Jedi, por seu turno, aprende uma valiosa lição em umas das melhores cenas do filme – e que vai direto para a galeria dos grandes momentos da série.
Entre os personagens que surgem pela primeira vez no Episódio VIII, o líder Supremo Snoke, vivido por Andy Serkis, é um deleite. Poderosíssimo, irascível e arrogante, ele é um dínamo de energia sempre que está em cena.
Saldo positivo
Deficiência de “O Despertar da Força” , o visual dos planetas que aparecem em “Os Últimos Jedi” é mais elaborado. O designer de produção do filme, aliás, recoloca “Star Wars” no jogo que ajudou a criar lá atrás no cinemão. Mas os Porgs, espécie de minions que Chewbacca ganha aqui, são fofinhos e inconvenientes demais para o que está acontecendo na trama. E não são tão engraçados quanto os minions originais.
“Os Últimos Jedi” tem alguns easter eggs para fãs hardcore e mimos para neófitos. É um filme que sabe ser grande e se incumbe de pensar a maior e mais lucrativa saga do cinema sob um prisma diferente. Pode não parecer, mas é muito significativo. É, também, um filme generoso com os dois pilares da história: Luke e Leia (Carrie Fisher).
“É hora de deixar o passado para trás”, exclama um furioso e ansioso Kylo Ren. “Star Wars: Os Últimos Jedi” calibra um futuro potente para a saga com ele e Rey no comando do show.