“Boneco de Neve” se perde no suspense e desperdiça uma boa história
Filme estrelado por Michael Fassbender tem elenco estrelado, mas desperdiça a história e os atores em uma trama fraca e rasa
Por Gabriela Mendonça |
Martin Scorsese foi cotado para dirigir. Não deu certo, mas ele assina a produção executiva. Michael Fassbender , recém-indicado ao Oscar por “Steve Jobs” ficou com o papel principal. Rebebcca Ferguson e Charlotte Gainsbourg assumem as protagonistas femininas. Val Kilmer, Chloë Sevigny, J.K. Simmons, James D’Arcy e Toby Jones também participam. A direção é de Thomas Alfredson, de “O Espião que Sabia Demais”. Dion Beebe, vencedor do Oscar por “Memórias de Uma Gueixa” assume a fotografia. O filme em questão, “Boneco de Neve”, é baseado no livro de mesmo nome do escritor norueguês Jo Nesbo , um dos maiores nomes da literatura policial atual. Com um currículo desses, não tem como um filme dar errado né?
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Mas deu. “ Boneco de Neve ” é preguiçoso em todos os aspectos, da atuação a edição. A edição, inclusive, é o maior destaque negativo. Parece que cenas aleatórias foram escolhidas e coladas uma após a outra. Mas, talvez isso seja culpa do roteiro, que não se preocupa em desenvolver nada.
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“Boneco de Neve” é um mistério, envolvendo um possível assassino em série e dois detetives em sua caça: Harry Hole (Fassbender) e Katrine Bratt (Ferguson). O que parece “atiçar” o assassino é justamente a neve, e os bonecos de neve são deixados na cena de cada crime, como um lembrete de que os policias estão sempre um passo atrás quando se trata se seus crimes.
Você viu?
O problema é que o filme não nos permite conectar com ninguém. Não com o protagonista, um alcoólatra que não consegue seguir regras, ou com a novata na polícia de Oslo, que parece misteriosa, mas é “desmascarada” por Hole logo no começo da trama. Nem por Rakel (Gainsbourg), com quem Hole já teve um passado, mas cujo nome não aparece até quase o final. As vítimas e suas famílias também tem destaque, mas completamente desperdiçado. D’Arcy faz o marido de uma das vítimas desaparecidas que parece ter algo a esconder. J.K. faz o bon vivant que quer levar os Jogos de Inverno a Oslo (numa trama que não faz sentido nenhum, e não acrescenta em nada para a história). O médico Vetlesen (David Dencik) tem alguma relação com as vítimas, mas não sabemos exatamente onde ele se encaixa na história. E, no final, o maior mistério do filme é porque Sevigny aceitou interpretar as gêmeas Sylvia Ottersen e Ane Pedersen. As duas juntas têm, no máximo, 10 minutos na tela, em papeis completamente desperdiçados para uma atriz do gabarito de Sevigny.
Val quem?
Outra surpresa (negativa) é a presença de Val Kilmer . As primeiras cenas dele no flashback que mostra o detetive Rafto investigando casos similares aos do presente em uma pequena cidade da Noruega, causam espanto. A voz do ator está totalmente descaracterizada nas poucas palavras que ele consegue proferir. A dublagem que ele fez do áudio não está nada sincronizada e, nessa hora, parece que o filme está mesmo pregando uma peça no espectador.
Desde o começo, o filme não se dá realmente o trabalho de apresentar os personagens adequadamente, deixando para chamadas do noticiário e comentários de um ou outro caracterizá-los. O filme perde ao não desenvolver pelo menos os dois principais, Harry e Katrine, que passam a maior parte do filme juntos solucionando o caso, até surgir um conflito entre os dois que culmina no abraço mais constrangedor da história do cinema.
Não parece que houve, de fato, uma direção. A ideia, talvez, era que eles fossem crus, secos, honestos. Mas, na prática, eles são vazios e bipolares. Katrine está se comportando quase como uma personagem tímida e desajeitada de “Big Bang Theory” em uma cena, e na seguinte pergunta pra Harry se ele vai tentar transar com ela.
O trabalho que Jo Nesbo desenvolveu com o detetive Harry Hole foi longo e “ Boneco de Neve ” é o sétimo de uma série de 11 livros com o personagem. Talvez o problema esteja aí: levar para o cinema uma história começada, sem realmente se dar ao trabalho de criar, para o cinema, um personagem que já é icônico na literatura de suspense.
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