Kevin Spacey: a derrocada de um dos grandes nomes de Hollywood
Em uma semana, uma das figura mais queridas de Hollywood se transformou em um pária e a pergunta que ronda a cidade é: quem será o próximo?
Por Reinaldo Glioche |
Foram precisos cinco dias para Kevin Spacey se tornar um pária. A fritura do ator acusado de assédio sexual - em diversas frentes – se deu de maneira muito mais rápida e fluída do que a de Harvey Weinstein , cujas denúncias precipitaram o furação que ainda assola e assombra Hollywood.
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No domingo, o ator Anthony Rapp acusou Kevin Spacey de tê-lo assediado quando então tinha 14 anos e os dois atuavam na Broadway. A acusação de Rapp, feita em uma entrevista à versão americana do BuzzFeed, foi seguida de uma desastrada declaração do astro de “House of Cards”, que emulando seu personagem na série, Frank Underwood, admitiu ser gay, disse não se lembrar do episódio, reconheceu sua inadequação e desculpou-se.
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A comunidade LGBTQ enfureceu-se. “Kevin Spacey inaugurou a má hora de se sair no armário”, disse um proeminente ator assumidamente homossexual em seu Twitter. Estava estabelecido o mal-estar. O astro, afinal, tentou jogar uma cortina de fumaça em cima de uma grave acusação. A Netflix, cumprindo agenda positiva, anunciou que “House of Cards” terminaria depois da sexta temporada.
Queda vertiginosa
As acusações contra Sapcey, no entanto, não cessaram e a empresa se viu na contingência de tomar providências mais efetivas. Anunciou a interrupção da produção do sexto ano até segunda ordem. Não é uma decisão fácil. Embora a série já tropece na qualidade, é o principal cartão postal da plataforma de streaming e Spacey foi o primeiro astro a emprestar seu prestígio à Netflix . Outros vieram depois, mas ele foi o primeiro.
Enquanto isso, de Londres vinham mais revelações cabeludas sobre um passado assediador por parte do ator que por mais de dez anos foi o diretor artístico do tradicional teatro Old Vic.
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Kevin Spacey por meio de sua publicista, que já o abandonou, então anunciou que “iria se tratar”. A desconstrução de um dos atores mais prestigiados e queridos de Hollywood já parecia irreversível e consolidada. Kevin Spacey, 58 anos, é tóxico. A Sony se debruça sobre como vender o filme “Todo Dinheiro do Mundo”, de Ridley Scott, que ambicionava o Oscar. A Netflix se movimenta para afastar-se do outrora principal garoto propaganda – havia conversas para um filme sobre o escritor Gore Vidal. Uma reportagem da CNN apontando casos de assédio nos bastidores de “House of Cards” deve tragar a Netflix para o olho do furacão.
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Ator maiúsculo
A sexualidade de Spacey sempre foi questionada. Os boatos, o bafafá em torno da sexualidade do ator sempre pautou conversas na indústria e de quem cobre Hollywood. Membros da comunidade LGBTQ, inclusive, o cobravam reservadamente e muitos o viam como "covarde" por não se assumir. A questão de se assumir ou não em Hollywood é antiga e há muitas perspectivas a serem consideradas. Mas essa é outra discussão.
No entanto, parece difícil conceber que não havia, assim como no caso de Harvey Weinstein, leniência em relação aos eventuais mal-feitos do ator. A reportagem da CNN aponta que houve queixas já na primeira temporada de “House of Cards” sobre condutas inapropriadas por parte do intérprete de Frank Underwood. Não obstante, a partir do segundo ano de "House of Cards", Spacey passou a atuar também como produtor do programa.
Nascido em Nova Jersey, Spacey sempre foi pródigo e prodigioso no teatro, onde atuava desde os idos dos anos 80, mas o reconhecimento no cinema só veio em 1995, com o papel de Keyser Söze/Verbal Kint em “Os Suspeitos”. Pela genial performance no filme de Bryan Singer, ganhou o Oscar de ator coadjuvante. Voltaria a ganhar a estatueta mais cobiçada do cinema cinco anos mais tarde, como protagonista de “Beleza Americana” (1999). Duas vitórias em duas indicações. Mas há mais prêmios em uma carreira extremamente laureada. Tonys, Globos de Ouro e Emmy são uma constante. Este ano mesmo concorreu ao Emmy por “House of Cards”, um fenômeno potente da cultura pop atual, e ganhou um Globo de Ouro em 2015 pelo papel do tirano e sexualmente ambíguo Frank Underwood.
“Seven” (1995), “Los Angeles: Cidade Proibida” (1997), “A Vida de David Gale” (2003), “Recontagem” (2008), “Margin Call – O Dia Antes do Fim” (2011)... a lista de grandes filmes na filmografia de Spacey é extensa. Trata-se de um ator de muitos recursos, extremamente carismático e cativante, com bom timing cômico e com um faro aguçado para bons roteiros. Spacey também é produtor e já se aventurou na direção (“Uma Vida sem Limites” e “Cilada da Sorte”).
Talvez mergulhe em um ostracismo profundo e agonizante, talvez retorne com um bom trabalho de imagem em alguns anos. Mas essa semana infernal jamais será esquecida. Kevin Spacey caiu do olimpo ao limbo de Hollywood com velocidade espantosa e pode servir de exemplo para os tempos de mudança pelos quais muitos clamam em Hollywood, mas que poucos de fato almejam.