Documentário investiga legado de Paulo Autran para o teatro brasileiro
A trajetória de Paulo Autran, morto em 2007, se confunde com a do teatro brasileiro. Filme de Marco Abumjara tenta dimensionar como um aferiu grandeza ao outro
Por Reinaldo Glioche |
Paulo Autran é uma das poucas unanimidades que o Brasil conheceu e um desafio àquela máxima de que toda unanimidade é burra. Ator elegante e de muitos recursos, teve sua trajetória confundida com a do teatro brasileiro e agora ganha um documentário biográfico que ilumina essa trajetória tão robusta.
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Exibido pela primeira vez no último festival de Gramado, “ Paulo Autran – O Senhor dos Palcos” é destaque nesta última semana da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em 2017, não custa lembrar, completam dez anos da morte do ator. A estreia está programada para 2018 no canal pago Curta!.
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O filme se escora fundamentalmente em uma boa pesquisa de arquivo. Entrevistas, cenas de peças, filmes e até mesmo a novela “Guerra dos Sexos” dão dimensão a um filme que pretende tangenciar o homem que definiu o teatro brasileiro. Os depoimentos ajudam. José Celso Martinez Corrêa, Karin Rodrigues, Bibi Ferreira e Mauro Farias detalham e reconstroem facetas do ator e do meio teatral brasileiro.
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Falar de Paulo Autran, e o filme de Marco Abujamra tem plena consciência disso, é também traçar uma retrospectiva do teatro brasileiro. Do seu sopro de vida ao status de arte do ator.
Abujamra veste a carapuça de Autran e se permite a encenação. Os atores Bete Coelho, Patrícia Selonk, Gustavo Machado e Bruce Gomlevsky interpretam trechos de textos e memórias escritos por Autran que dão forma ao pensamento do ator. É uma maneira de expandir os efeitos de Autran para além de sua persona, mas também de mitigar sua verdade.
“O Senhor dos Palcos” é, portanto, um filme sobre Paulo Autran – que desde muito cedo se descobriu um ator apaixonado pelo teatro – mas também sobre o desafio e o prazer de ser ator de teatro.
O filme fecha com Fernanda Montenegro narrando uma troca de cartas que se deu entre ela e Paulo Autran dias antes da morte dele. Para além da admiração mútua e do afeto, e o jogo de cena pretendido pela realização entre duas indistintas figuras da realeza da interpretação brasileira é indisfarçável, o que se registra é a grandeza de um legado que transcende a mortalidade. Neste momento, o filme se fia como homenagem perene e embevecida.
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“Paulo Autran – O Senhor dos Palcos” terá sessões nesta segunda-feira (30), às 14h no CineSala, e na terça-feira (31) às 18h no Espaço Itaú Frei Caneca.