“Homem-Aranha”, X-Men e o limbo dos heróis da Marvel fora dos estúdios Disney
Com “Homem-Aranha” no universo da Marvel, Sony e Disney testam nova solução para problema de direitos de personagens fora do estúdio
Por Gabriela Mendonça | , iG Sâo Paulo |
Em 1989 a DC começou o reinado do Batman nos cinemas em parceria com a Warner. Antes disso, outro icônico personagem, o Super-Homem, já fazia sucesso nas telonas desde os anos 1970. Não é preciso dizer que, em matéria de super-heróis no cinema, a Marvel começou atrás, bem atrás. Inicialmente a Casa das Ideias não tinha grande interesse em levar seus personagens para o cinema e, para levantar fundos, acabou por vender direitos de muitos heróis.
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Sendo assim, Sony, Fox e New Line compraram direitos de personagens da Marvel , espalhando-os em universos e histórias distintas. "Blade" foi um teste bem-sucedido em 1998. Mas as coisas mudariam de figura com “ X-Men ”, propriedade da Fox . O primeiro filme da trilogia de Bryan Singer trouxe personagens como Wolverine, Tempestade, Ciclope e Jean Grey, além de Magneto e Professor Xavier. Com o sucesso do filme, que arrecadou quase 300 milhões de dólares ao redor do mundo, iniciou-se uma nova era para os super-heróis no cinema.
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Logo depois, a Sony anunciou que levaria o aranha para as telonas e, com Tobey Maguire no papel principal, lançou “ Homem-Aranha ” em 2002. Dirigido por Sam Raimi, o filme foi mais um sucesso. Acontece que, nesse mesmo período, alguns dos personagens que a Marvel tinha vendido os direitos acabaram voltando para eles. O estúdio então, vendo o sucesso que os personagens faziam nas telonas, começou seu ambicioso plano, dividido em várias fases, incluindo filmes solos de diversos heróis e culminando em “ Os Vingadores ”, de 2012.
De quem é o que?
Quem ajudou a criar isso foi Kevin Feige que, em 2008 era o segundo mais poderoso da Marvel. Ele foi um dos criadores do Universo Cinematográfico da Marvel , que tem como intuito unir vários filmes em um mesmo universo. Foi assim que o estúdio lançou “ Homem de Ferro ”, “Capitão América” e “Thor”, que culminaram na união dos heróis. Nesse mesmo período, porém, foi lançado também “O Incrível Hulk”, e o personagem tem um porém: os direitos de distribuição são da Universal . Confuso né?
Isso significa que a Marvel Studios pode até o usar o gigante verde em seus filmes (como fez em “Vingadores”, “Vingadores: Era de Ultron” e “Thor: Ragnarok”) mas, caso faça um filme solo, tem que dividir os lucros com a Universal.
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Algo similar acontece com o “Homem-Aranha”, propriedade da Sony. O estúdio já desenvolveu duas séries com o Aranha que, embora tenham começado bem, suas continuações não tiveram o mesmo desempenho. Foi assim com Tobey Maguire no papel, e depois com Andrew Garfield. Sendo assim, eles aceitaram um acordo com a Marvel para que a mesma usasse o personagem em seu universo. Porém, com “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, tanto a distribuição quanto a bilheteria são da Sony.
No caso dos X-Men a história fica ainda mais complicada: Mercúrio e Feiticeria Escarlate são personagens que aparecem tanto com os mutantes quanto os vingadores nos quadrinhos, o que significa que ambos podem usá-los no cinema. Porém, a Fox é dona do termo “mutante” para se designar esses personagens, portanto a Marvel não pode usá-la (Mercúrio aparece em “Era de Ultron” e “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido”).
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Outro filme da Marvel que é de propriedade da Fox é o “Quarteto Fantástico”. Porém, nem Fox nem Marvel planejam novos filmes dos heróis, dados os fracassos dos lançamentos anteriores. Mas, os personagens desses quadrinhos, principalmente os vilões, podem ganhar espaço no futuro da Marvel. A “Fase 4”, já anunciada, inclui três filmes para 2020, nenhum deles com título divulgado. Um deles poderia ser sobre os quatro heróis. Mas, mais que isso, eles podem entrar no universo antes disso, com o quarto Vingadores. O terceiro filme da série, “Guerra Infinita”, que estreia em 2018 e terá como vilão Thanos. Sabe-se que esse longa reunirá as duas facções dos vingadores que se separaram em “Capitão América: Guerra Civil”, além dos “Guardiões da Galáxia”. Mas, o filme seguinte e, supostamente final, ainda é mantido sob sigilo. Para incluir o “Quarteto Fantástico”, a Marvel teria que fazer um acordo parecido com o feito em “Homem-Aranha” com a Fox.
O trunfo da Fox
A Fox, porém, parece menos inclinada a ceder seus direitos, considerando o constante sucesso que tem com os mutantes, além de um novo herói, nada convencional, que surpreendeu a todos quando foi lançado no cinema em 2016: “ Deadpool ”. Com uma sequência garantida para 2018, o personagem é o trunfo da Fox, principalmente com o último “X-Men” dando menos resultado nas bilheterias. Isso não significa que o estúdio vai desistir dos mutantes: depois de “Logan”, sucesso de crítica com o desfecho de Wolverine, o estúdio vai lançar outros dois filmes no próximo anos: “Novos Mutantes”, com personagens inéditos, e “Dark Phoenix” com foco em Jean Grey.
É provável que, ao longos dos próximos anos, a Marvel consiga de volta outras personagens, conforme os contratos com outros estúdios são encerrados. Kevin Feige , aliás, tem planos caso isso aconteça. E planos caso não. Com uma visão muito específica do Universo Cinematográfico da Marvel, Feige sabe exatamente para onde levar a história caso um novo herói caia em sua mão.
Enquanto isso, o sucesso de “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” mostra o potencial para que outros acordos sejam feitos entre os estúdios no futuro. Isso, claro, depende do triunfo da Marvel. As pessoas vivem especulando sobre qual será o filme que quebrará a sequência de vitórias do estúdio e, por mais que esse longa ainda não esteja em vista, a Fórmula Marvel está cansando, e pode estar próxima de acabar.
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