Canal do YouTube chama atenção por fomentar o gosto pela leitura entre os jovens
Com mais de 8 mil inscritos e 175 vídeos já publicados, o canal “Who’s Geek” incentiva a prática de leitura por meio de resenhas e opiniões publicadas na internet, fomentando o debate entre os ávidos por ler. Conheça a história
“Um dia meu namorado falou: por que a gente não faz um canal? E não fazíamos ideia de que existia uma comunidade de youtubers de leitura na internet. Fomos pesquisando e fazendo”. De acordo com a jornalista e estudante Gabriela Colicigno, dona, ao lado do namorado Roberto Fideli, do canal “ Who’s Geek ” do YouTube , foi assim que ela e Roberto começaram a trilhar o caminho rumo aos mais de 8 mil inscritos que os acompanham atualmente.
Ao mesmo tempo em que a geração de youtubers toma conta da internet, fazer parte desse mundo do YouTube também abre portas para alcançar outras realizações profissionais, meios e pessoas que estão bem além da tela do computador. No caso de Gabriela Colicigno, criar o canal foi uma junção de gosto pessoal com a vontade de complementar um projeto que já existia. “Nós tínhamos o site ' Who’s Geek ' desde 2012, onde postávamos resenhas de filmes, livros e séries. No fim de 2014 decidimos que o canal seria um bom complemento e acabamos falando mais de livros por lá . Em pouco tempo, o canal cresceu mais do que o site e se tornou nosso meio principal”, conta Gabriela.
Em entrevista ao iG Gente , a jovem ávida por livros revelou que o canal não só guarda registros de opiniões sobre as leituras que faz, sendo assim o reflexo de uma das coisas que mais gosta de fazer. O “ Who’s Geek ” também reflete a ideia de que ler é para todos. “Queremos passar para o público que acessa os vídeos que ler é legal! Que tem livros para todos os gostos, para todas as pessoas . E que tudo bem não gostar do livro que todo mundo gosta”, explica.
O “Who’s Geek”
Com o foco em falar de obras de ficção científica e fantasia por uma questão de gosto pessoal, Gabriela Colicigno e Roberto Fideli, que além do tempo que dispõem para o youtube também dedicam parte da rotina para escrever, estudar e lecionar, tentam publicar vídeos uma vez na semana, mas nem sempre é possível. “A ideia era publicar pelo menos um por semana, que é o mínimo para se manter visível no YouTube . Às vezes dá pra publicar mais, às vezes não. Como eu tô fazendo mestrado, meu tempo pra isso fica um pouco limitado”, revela a dona do “ Who’s Geek ”.
Porém, ainda que a maior parte do conteúdo seja sobre obras ficcionais e fantasiosas, Gabriela deixou evidente que há espaço para todos os tipos de gosto. “Também falamos de alguns clássicos, livros adolescentes e outros gêneros”, diz. No entanto, o gosto do casal parece ser mesmo voltado para o mundo da imaginação. “O principal gênero de livros que costumamos ler é de ficção científica e fantasia. Inclusive, temos um quadro sobre os clássicos da ficção científica, que já tem mais de trinta vídeos”, conta.
Mesmo sendo alguém que cria conteúdo sobre leitura no Brasil, um país que vive sob um mito de que as pessoas que aqui vivem não são muito simpáticas quando o assunto é ler , Gabriela considera que, ainda que muita gente não abra as portas para uma atividade que é saudável e enriquecedora, as aparências podem enganar e o público que recusa os livros talvez não seja tão grande assim. “Muita gente ainda torce o nariz, mas vendo pelo nosso canal me parece que há sim uma parcela grande da população que se interessa por isso. Recebemos mensagens do tipo “vocês me fizeram voltar a ler mais” e nada pode ser mais gratificante do que isso”, revela.
Outra coisa que faz com que o “ Who’s Geek ” dê para Gabriela a confiança de que o canal é a prova viva de um trabalho bem feito é o fato de que o conteúdo dos vídeos tem ultrapassado o limite do virtual e trazido para ela e Roberto alguns efeitos maiores que o esperado. “Fazemos os Bate-Papo Literários desde 2015, e em 2016 conseguimos uma parceria com a Biblioteca de São Paulo. Nesses eventos a gente discute literatura com autores, tradutores, editores e, claro, fãs”, conta. “Fizemos seis edições e todas elas com um público bem legal. Foi muito bom levar a discussão para fora do YouTube , conversar com essas pessoas pessoalmente”, complementa.
Para a leitora, os ganhos não foram só externos. Gabriela também contou ao iG Gente que ter o canal a fez crescer ainda mais, inclusive, como leitora. “Agora eu leio mais. E leio livros fora da minha zona de conforto. Em 2014, pra ter uma ideia, antes do canal, não cheguei a ler trinta livros. Em 2015, li 40, e em 2016, ano passado, 73. Esse ano li uns vinte e oito até agora”, relata.
Youtuber?
Aqueles que acabaram conquistando fama por meio de vídeos publicados no YouTube começaram a ganhar tanta visibilidade que a prática deu até um nome para os que a realizam: youtuber . Dentro desse time de verdadeiros influenciadores digitais, personalidades como Jout Jout, PC Siqueira e Nataly Néri representam um grande potencial para cativar todos aqueles que usam a internet para se divertir, aprender e também para se informar.
Porém, no caso de Gabriela Colicigno, é difícil entender se o ideal seria se auto intitular como youtuber . De acordo com a jovem leitora, há uma certa recusa das pessoas quando esse nome surge. “Não sei se me considero uma youtuber . Não saio falando por aí que sou porque as pessoas veem isso de forma estranha. Eu faço conteúdo. E acontece que parte dele é para o YouTube ”, conta.
Mas, ainda que Gabriela não se considere uma youtuber, ela consegue saber exatamente o drama que é roteirizar, produzir, editar e programar tudo e por conta disso compreende o que é que os profissionais dessa área passam. “Tem gente que acha que ter um canal, mesmo sobre livros, é só sentar, gravar e editar. Não é. Tem todo um processo antes do vídeo, que no meu caso envolve efetivamente ler o livro, escrever uma resenha, pesquisar sobre o autor etc”, diz. “Quando o vídeo está pronto, ainda tenho que montar toda a divulgação dele nas redes sociais. É um trabalho como qualquer outro, sabe? Não é exatamente difícil, mas dá trabalho”, explica.
Mesmo sem se intitular como youtuber , Gabriela considera que seu canal conquistou bom alcance, ainda que existam canais que possuam números de audiência muito maiores. Hoje, o canal que já coleciona 175 vídeos, conta com mais de 8 mil inscritos. “Pra mim ter todos esses inscritos é um bom número, ainda mais porque eu e o Roberto fazemos mestrado desde que começamos o canal e também trabalho fora”, conta.
Para Gabriela e Roberto, é preciso ter jogo de cintura para dar conta de todos os compromissos da rotina, além de concluir as atividades que realizam para o YouTube . “O canal é um projeto pessoal paralelo, que não pode consumir tempo de estudos ou de trabalho remunerado. Por conta disso, nem sempre ele foi prioridade e ficou estagnado em alguns períodos mais tensos”, revela.