"Rock and a Hard Place" discute estratégia de ressocialização de jovens presos
Os diretores Jon Alpert e Matthew O'Neil falaram sobre a experiência de acompanhar jovens infratores em campo cruel de reabilitação militar. Documentário estreia na HBO no dia 3 de julho às 22h
Quando seu sobrenome é “Maluf” não é nenhuma novidade te perguntarem sobre as relações com Paulo Maluf – sim, esse mesmo, o famoso político que está até na lista de procurados pela Interpol – porém é uma novidade quando dois diretores de cinema americanos te questionam sobre isso no meio de uma entrevista. Não havia forma melhor de quebrar minhas expectativas sobre a conversa com Jon Alpert e Matthew O’Neil, responsáveis por dirigir e produzir o documentário “Rock and a Hard Place” com Dwayne Johnson, que, pelo menos nas 24 horas anteriores, estava no topo das minhas preocupações. Bom começo, sem dúvidas.
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O documentário “ Rock and a Hard Place ” mostra a jornada de um grupo de jovens infratores que estão presos em Miami e ganham a oportunidade de anularem suas penas caso encarem um campo de treinamento militar. A técnica utilizada nesse programa é quase desumana – a disciplina rígida somada com oficiais que intimidam, gritam e são constantemente agressivos – mas é uma saída valida para o problema, segundo Jon Alpert . “Nós acreditamos em uma segunda chance”, comentou o diretor logo na primeira pergunta que lhe foi feita durante a call conference com jornalistas de vários países da América Latina.
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O nome do documentário é, inclusive, uma referência a expressão “entre uma rocha e um local duro”, que reflete a situação em que os internos do presidio acabam se encontrando: o que é mais difícil? Passar meses sofrendo no campo ou voltar para dentro de uma cela?
O projeto foi idealizado pelo ator Dwayne Johnson que, quando novo, se envolveu com a criminalidade, porém conseguiu virar o jogo através desse projeto e hoje ele quer ser uma inspiração para aqueles que, assim como ele, tem uma chance de mudar seu destino.
“The Rock” é, por sinal, uma das figuras centrais do documentário que acompanhou durante quase quatro meses 38 presos que aceitaram passar pelo “desafio” do treinamento militar – excepcionalmente, como contaram os diretores, três participantes do campo deixaram o campo. Contudo, ambos frisam que o ator serviu apenas como modelo para os participantes do projeto e não teve necessariamente envolvimento direto com os resultados. “Você não fica pensando no Dwayne Johson, você está mais preocupado em sobreviver”, disseram para justificar seu ponto. Mesmo sempre falando em tom descontraído, tanto Jon quanto Matthew reconheciam a seriedade do tema que estavam falando e, por isso, apesar de serem muito simples, foram bastante precisos sobre o que viram ao longo da gravação do documentário.
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Luz no fim do túnel
Problemas técnicos à parte, ser a penúltima a entrar na chamada não foi de todo mal. Apesar do desespero por nunca ter feito isso na vida – além do drama linguístico pelo medo de não ser entendida – ouvir as perguntas dos outros jornalistas e as respostas dos entrevistados acabou sendo de grande ajuda até que, finalmente, fosse chamada para falar. Perguntei sobre o acesso às instalações do presídio e, para minha surpresa, Matthew disse que ele e a equipe tinham “passe livre” quando e onde quisessem. “O campo de treinamento faz um trabalho complicado, mas eles se orgulham muito do que fazem”, disse o diretor.
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Apesar do entusiasmo dos envolvidos com o projeto em mostrar a luz no fim do túnel para jovens encarcerados, o campo de treinamento militar tem um alcance limitado para afirmar seu sucesso. No sistema prisional normal, há uma taxa de cerca de 70% de reincidência, contra somente 15% dos participantes do programa. Percebendo minha desconfiança com os resultados tão otimistas do campo militar, Jon Alpert afirmou que esse modelo poderia, sim, funcionar em larga escalada, mas reconhece quais são as limitações do projeto – que foca, especificamente, em jovens, pois, de acordo com ele, ainda estão em processo de formação.
O diretor ainda acrescentou que durante a década de 1980 o modelo era comum no país, mas que acabou sendo descontinuado aos poucos e, hoje, há poucos locais que aderem a ele. “É a solução mais efetiva? Não, mas é uma forma de lidar com um problema muito complexo”, comentou em outro momento da entrevista.
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Durante os mais de 40 minutos de entrevista os dois diretores tiveram muito boa vontade não apenas em responder as perguntas dos jornalistas, mas se mostraram abertos para realmente explicar o que está por trás dos campos de treinamento de reabilitação mostrados em “ Rock and a Hard Place ”.
No final de todos os rounds de perguntas, Matthew O’Neil e Jon Alpert, procurando ser gentis, perguntaram se não teria sido melhor ter conduzido a entrevista em espanhol. A mediadora da conversa, uma assessora mexicana da HBO , comentou meio incerta “temos uma pessoa do Brasil, acho que lá se fala em português”. Um excelente desfecho para alguém que logo de cara foi pega de surpresa com uma pergunta sobre a política nacional. E, ponto para mim que sobrevivi a minha primeira coletiva internacional.
"Rock and a Hard Place", que no Brasil ganhou o nome de "Difícil Decisão", estreia no dia 3 de julho às 22h na HBO.