Rincon Sapiência defende o engajamento no rap: "Não anula a arte"
Um dos rappers mais promissores da atualidade, Rincon Sapiência lançou o álbum "Galanga Livre" com músicas abordando questões sociais e raciais: "são assuntos que não estão resolvidos", diz em entrevista ao iG
O rapper Rincon Sapiência lançou em maio o primeiro álbum cheio de sua carreira, "Galanga Livre" . Com temas pertinentes e uma produção impecável, o novo disco do cantor paulistano é um dos pontos altos do rap nacional nos últimos anos.
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"Eram músicas que eu já tinha. Tinha boa parte do material, mas ele foi ganhando mais corpo e virou um álbum", explicou Rincon Sapiência em entrevista ao iG . Durante cerca de dois anos, ele e o produtor William Magalhães trabalham no álbum de estreia do músico. "A gente conseguiu chegar num conjunto legal. No resumo, deu tudo certo. Se eu olhar pra esse trabalho daqui a alguns anos, vou sentir orgulho", garantiu.
O nome do disco é inspirado na história do escravo Chico Rei. A lenda conta que ele era um rei em uma tribo no Congo, mas foi capturado e trazido como escravo para o Brasil. Seu nome original era Galanga. Depois de trabalhar com seu filho, ele conseguiu comprar a alforria dos dois, a mina onde ambos trabalhavam e a alforria de outros escravos. Ele chegou a virar um monarca em Ouro Preto e voltou a ser tratado como rei pelos escravos libertos.
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"Eu fico feliz quando vejo as pessoas pesquisando a história do Galanga por causa do disco", conta Rincon. Além de resgatar essa história, o disco tem um discurso em relação a questões sociais e raciais. "São assuntos que não estão resolvidos", disse. Para ele, o rap deve fazer esses levantamentos. "O rap que eu aprendi a escutar tinha isso. Muito do que eu aprendi partiu do rap", explicou o artista.
Na entrevista abaixo, Rincon Sapiência fala sobre seu novo álbum, a mensagem em sua música e o momento do rap nacional: "as exigências estão maiores, todo mundo quer entregar algo bom."
Leia:
iG: Como foi a produção de "Galanga Livre"?
Rincon Sapiência:
Eram músicas que eu já tinha. Tinha boa parte do material, mas ele foi ganhando mais corpo e virou um álbum. Veio o momento de mostrar pro William Magalhães, que me ajudou a escolher as faixas que foram pro álbum. A partir daí levou uns dois anos. Ele gostou de tudo que eu mostrei, a gente conseguiu chegar num conjunto legal. No resumo, deu tudo certo. Se eu olhar pra esse trabalho daqui a alguns anos, vou sentir orgulho.
iG: O que esse disco representa para você?
RS:
Ele é meu primeiro álbum, mas não as primeiras músicas que eu expus. Uma das responsabilidades do álbum é o repertório e se apresentar como artista. Esse disco vai do rock à ciranda, passando por afrobeat, rap mais clássico e outros ritmos. Mostra um salto na minha carreira.
iG: Como você vê o rap independente atualmente?
RS:
Está em um momento legal, as exigências estão maiores, todo mundo quer entregar algo bom. Eu me destacar no meio de tantos artistas é muito bom.
iG: Suas músicas têm um discurso bem afiado. Qual é a importância disso, ainda mais nos dias de hoje?
RS:
São assuntos que não estão resolvidos. O rap que eu aprendi a escutar tinha isso. Muito do que eu aprendi partiu do rap. Eu fico feliz quando vejo as pessoas pesquisando a história do Galanga por causa do disco, quando vejo as garotas assumindo cabelo crespo por causa de
Ponta de Lança
. É
um norte a partir do meu trabalho. O protesto não anula a arte. O rap pode ser livre, ter outro caráter, falar de outras coisas, mas é uma tradição de contribuir para a formação intelectual.
iG: O rap tem ficado cada vez mais popular no Brasil e saindo da periferia. Como você vê isso?
RS:
Eu acho que é positivo, desde muitos anos atrás estou numa dedicação de música, de poesia. Na época em que comecei, tinha coisa muito boa e não tinha reconhecimento. Fico feliz com a expansão, mas o protagonismo tem que ser nosso, tem que atingir outras camadas, mas o protagonismo ainda é nosso.
iG: Você acha que o rap perdeu o estigma do passado?
RS:
Antes tinha que explicar o que era o rap, que a mensagem era diferente. Se você se apresenta como rapper, as pessoas já te encaram de outra forma. Eu queria ser jogador de futebol e o futebol é um mercado rentável, é uma atividade saudável, minha família apoiava. No rap tinha muitas pessoas mais velhas que eu e minha mãe ficava doida.
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iG: Na sua avaliação, quem é o público do rap hoje?
RS:
Hoje tem muitos jovens ouvindo rap, de no máximo 22 anos, e mulheres. Nos anos 2000, era basicamente de homens, e as mulheres tinham um comportamento parecido com o nosso. O que me levou a um lugar um pouco mais legal foi quando esse público mais jovem, antenado com internet, começou a consumir meu trabalho. Tenho parceiros talentosos como eu que ainda não conseguiram atingir essa camada. Infelizmente, ainda há um abismo de conseguir ampliar o círculo onde seu trabalho está sendo veiculado. Está crescendo muito, mas é um mercado em construção. O ideal é que todo mundo que é bom tenha espaço.
iG: Quais são seus planos para o futuro?
Rincon Sapiência:
A gente tem um disco bem elaborado e quer colocar isso ao vivo da forma mais bonita possível, aplicando recursos tecnológicos no show. Reconheço que hoje em dia as coisas são mais rápidas, então estou pronto para construir um próximo episódio porque sei que as coisas são mais rápidas e a rapaziada quer consumir cada vez mais. Também quero fazer trabalhos mais colaborativos, não fiz muito isso dessa vez.