Pretensioso, "O Rastro" emula padrão hollywoodiano em terror à brasileira
Tentando alavancar o cinema de terror no país, "O Rastro" acerta na técnica, porém, roteiro e direção comprometem resultado final do filme
É realmente louvável a iniciativa de se fazer um terror brasileiro para “americano ver”. E a figura de expressão ganha literalidade já que “O Rastro” já assegurou distribuição em circuito limitado nos EUA. No entanto, o filme de J.C. Feyer – de certa forma uma americanização para João Caetano – falha clamorosamente em alguns fundamentos básicos do cinema.
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Para americano ver
Na premência de afirmar-se como filme de gênero, com direito ao sobejo da técnica – e “ O Rastro ” é brilhantemente montado, maravilhosamente fotografo e conta com uma direção de arte engenhosa – Feyer descuida de preceitos imperiosos para um bom filme . Há excesso de sonoplastia (quase um grito para o público de que o som é importante para o clima do filme), opções equivocadas de direção e um roteiro que, no mínimo, precisaria de mais uns dois ou três tratamentos.
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É nítida a influência da onda de refilmagens americanas de clássicos asiáticos que tomou Hollywood de assalto no início da década passada. Não à toa, a ideia de se fazer o filme surgiu na esteira do sucesso desses filmes. É justamente a importância do som para o filme de Feyer que acusa o santo. A preocupação em assustar se impõe à manipulação de uma atmosfera de terror. O que nos leva a outro problema da fita. A hesitação por parte da realização em assumir-se como um terror psicológico. Por um bom tempo há apenas a exploração do espaço físico como catalisador do terror.
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As múltiplas referências jogam contra “O Rastro” e Feyer parece mais preocupado em mostrar que sabe fazer filme de padrão hollywoodiano, ou seja, em um sentido estritamente técnico estilístico, e acaba descuidando de ditames importantes para a constituição de uma narrativa envolvente, verossímil e realmente assustadora.
Rafael Cardoso (problemático) vive João, um médico que atua na Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro em meio a uma das maiores crises da Saúde Pública do estado. Ele precisa ir contra o seu mentor (Jonas Bloch) quando precisa liderar a transferência dos pacientes do hospital São Tomé, que será fechado por decisão judicial. Seu mentor é contra. A situação vai ficando mais estressante e piora quando uma menina desaparece durante a transferência. Leandra Leal faz a mulher de João, que está grávida, e responde pela única atuação realmente digna de algum elogio no filme.
Um desagravo precisa ser feito a Feyer. Ele não se intimidou e lançou mão de recursos que promovem reviravoltas na trama – a maioria esperada, outras potencialmente surpreendentes. São referências que podem ser atribuídas a cineastas como Hitchcock, Shyamalan e Fincher, mas pobremente desenvolvidas. O filme, no entanto, apela à condescendência do público por chacoalhar a narrativa sempre que possível – provocando um falso sentimento de surpresa – e de projetar uma crítica (superficial e mal elaborada) ao Brasil anestesiado pela corrupção.
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O grande risco capitalizado por “O Rastro” é justamente esse de se vender como “sabemos fazer terror ” e entregar uma produção com alma B que não se assume como tal. O efeito que pode acarretar para a produção do gênero no País, ainda restrita e cheia de percalços, é tenebroso. O trocadilho pode ser cruel, mas o filme de Feyer não deixa um bom rastro.