Narrativamente econômico, “Logan” empurra filmes de heróis para o futuro

"Logan" é o filme de despedida de Hugh Jackman como o icônico mutante Wolverine e estreia nesta quinta-feira (02) nos cinemas do Brasil

Ao longo de sua trajetória nas HQs , Logan sempre foi o mais trágico dos mutantes . Algo que naturalmente atraiu o interesse do cinema, que combinada à imensa popularidade do mutante entre os fãs de HQ, ergueu a primeira trilogia dos X-Men (2000, 2003 e 2006) em cima de sua persona. O primeiro filme solo, que chegou em 2009 como carro-chefe de um projeto que nunca foi avante, de mostrar a origem de alguns dos principais personagens do universo mutante, foi uma decepção completa.

Cena do filme Logan estrelado por Hugh Jackman
Foto: Reprodução
Cena do filme Logan estrelado por Hugh Jackman


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Wolverine era o maior sintoma de como o cinema ainda não compreendia a riqueza de material que tinha em mãos. “Wolverine: Imortal”, que James Mangold , que havia trabalhado com Hugh Jackman em “Kate & Leopold” (2002), assumiu depois da desistência de Darren Aronofsky, mostrava algumas alternativas, mas ainda não era o filme certo para o personagem. “ Logan ” não só é este filme, e ascende ao topo de todos os filmes da franquia mutante produzidos até aqui, como representa o segundo grande marco nessa história que Hollywood conta sobre os filmes de super-heróis. O primeiro é “O Cavaleiro das Trevas” (2008), de Christopher Nolan.

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James Mangold e Hugh Jackman foram pacientes e contaram com o sucesso de “Deadpool”, uma aposta arriscada da FOX em relação à classificação indicativa, para fazerem o filme que queriam. Com maior liberdade criativa, que se reflete no tratamento da violência pelo roteiro, Mangold e os roteiristas Scott Frank e Michael Green adotaram como ponto de partida a HQ “Old Man Logan” para nortear este projeto que foi anunciado como a despedida de Hugh Jackman depois de interpretar o personagem ao longo de 17 anos e nove filmes.

O filme começa com um Wolverine envelhecido em um futuro em que mutantes estão praticamente extintos. Com o fator de cura debilitado, e cada vez mais imerso em seu alcoolismo, Logan tenta conciliar o anonimato relativo com a tarefa inglória de cuidar de um Charles Xavier (Patrick Stewart) que apresenta sinais de demência. Essa ainda mais relativa tranquilidade é afetada pela chegada de Laura (Dafne Keen), ou Arma X 23. Fugida de um laboratório que manufatura mutantes, ela guarda semelhanças nada ocasionais e incita um instinto protetor no velho Logan que Xavier ajuda o velho amigo a perceber.

Foto: Divulgação
Hugh Jackman em cena de Logan

“Logan” é tanto um road movie, dos mais insuspeitos, como um estudo de personagem elaborado. A economia narrativa do filme é algo que merece menção. Inclusive a violência – e ela não é despropositada – tem função narrativa. A brutalidade do meio em que vive e os ensinamentos que Logan filtra dele dão nova valoração ao fim do filme.

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Trata-se também de um filme cujo principal legado para esse gênero já consolidado de filmes de super-heróis é expandi-lo. Revisionista, “Logan” aponta um caminho para ser seguido daqui adiante em meio ao cenário estafado e formulaico que Marvel e Warner praticam. A referência explícita a “Os Brutos Também Amam” (1953) não só revela a sofisticação dessa produção, como enseja uma pós-verdade: a de que é possível fazer um filme de super-herói sem deixar de fazer um filme adulto no sentido estrito do termo.