Cheia de humor negro, “Santa Clarita Diet” é 1º grande acerto da Netflix em 2017
Ao contrário de “Desventuras em Série”, produção com dez episódios é totalmente original e foca em família que precisa se readaptar depois que a mulher, vivida por Drew Barrymore, desenvolve tendências canibais
Por Reinaldo Glioche |
A Netflix já assumiu uma posição tão distinta e particular na produção de conteúdo audiovisual na atualidade que é capaz de atrair talentos do primeiro time como Drew Barrymore para produções ousadas e incomuns como “Santa Clarita Diet”, que estreia na plataforma de streaming na próxima sexta-feira (3). Criada por Victor Fresco , de produções como “My Name is Earl” e “Mad About You”, a série é uma comédia de humor negro sobre uma família com hábitos canibais.
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São dez episódios de meia hora dirigidos por gente boa como Ruben Fleischer, do divertidíssimo “Zumbilândia”, responsável pelos dois primeiros episódios da série que brinca, também, com o conceito de zumbis. Em “Santa Clarita Diet” conhecemos Joel (Timothy Olyphant) e Sheila (Drew Barrymore), um casal de classe média de um subúrbio americano. Corretores, eles tentam sobreviver à estagnação do mercado imobiliário e prover a melhor educação possível para a filha adolescente Abby (Liv Hewnson). O dia a dia do casal é temperado pela falta de libido de Sheila e pela rivalidade entre dois vizinhos policiais – um deles vivido por Ricardo Chavira, que fazia o marido da personagem de Eva Longoria em “Desperate Housewives”.
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A rotina desse casal tão banal se transforma completamente quando Sheila morre, ou pelo menos é o que parece em um primeiro momento, após um inesperado e nojento surto de vômito. Acontece que a mulher ressuscita com uma libido nas alturas, sem sentir dor, cheia de energia pela vida, com um senso moral totalmente revigorado e com vontade de comer seres vivos, de preferência humanos.
É claro que o baque é tremendo e Joel precisa se adaptar as novas demandas da mulher, que parece estar muito tranquila e satisfeita com suas novas circunstâncias. Há, ainda, a filha que é tragada para a nova e desajeitada dinâmica do casal.
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Joel e Sheila vão resolvendo as questões que se colocam e reafirmando uma cumplicidade que parecia perdida. Nesse sentido, “Santa Clarita Diet” se mostra uma comédia familiar bem tradicional, mas é justamente quando ousa no tempero dessa dieta televisiva que a produção ganha pontos.
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Sempre que flerta com o surreal, ou o absurdo puro e simples, a série rende seus melhores momentos. Como quando Joel e Sheila discutem sobre o gosto das bolas de um corretor que estava doido para comer Sheila, mas de um jeito menos literal. Sempre que assume a incorreção política sem qualquer receio, e felizmente isso ocorre com grata constância, “Santa Clarita Diet” é divertida, transgressora e inteligente de uma maneira tão irascível quanto surpreendente.
É muito bom ver Drew Barrymore tão à vontade em um papel tão diferente do que estamos acostumados a vê-la, mas é Timothy Olyphant quem brilha de verdade. Na pele desse marido aflito, inesperadamente fragilizado em face da mulher alfa, o ator revela um timing cômico dos mais certeiros e deve ganhar um merecido buzz pelo programa.
Outra grata surpresa é Skyler Gisondo, que já havia impressionado como o filho tapado de Ed Helms na refilmagem de “Férias Frustradas” (2015). Aqui ele faz o filho nerd da vizinha de Sheila e Joel apaixonado por Abby. É de seu personagem algumas das melhores tiradas dos cinco primeiros episódios da série.
“Santa Clarita Diet”, pelo despojamento narrativo, pelo elenco afiado e por costurar uma trama que busca o absurdo para falar de conflitos e dramas bem cotidianos, é um dos acertos da Netflix logo na largada de 2017.