“Estrelas Além do Tempo” revisita com otimismo passado segregacionista dos EUA
“Estrelas Além do Tempo”, indicado a três oscars, incluindo melhor filme, conta história de mulheres negras que triunfaram na NASA em meio à segregação racial. Produção chega nesta quinta (2) aos cinemas do País
Por Reinaldo Glioche |
Há quem torça o nariz para filmes que se pretendem politicamente corretos e trazem consigo certo ranço histórico. O cinema americano, em particular, apresenta atualmente essa vocação de olhar para um passado tumultuado com sentimentalismo. “Histórias Cruzadas” (2011), “O Mordomo da Casa Branca” (2013) e este “Estrelas Além do Tempo” (2016) são exemplares dessa vertente de cinema.
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Dirigido sem grandes floreios por Theodore Melfi (“Um Santo Vizinho”), “Estrelas Além do Tempo” conta a história de três mulheres negras que fizeram história na NASA . A matemática Katherine Johnson (Taraji P. Henson), a engenheira Mary Jackson (Janelle Monáe) e a supervisora Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) foram as primeiras mulheres negras a alcançar feitos realmente históricos no segregado estado da Virgínia na década de 60.
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Como esperado nas produções que acompanham o delirante preconceito racial nos Estados Unidos, há cenas todas formatadas para sublinhar o absurdo dessa cultura, que ainda que já superada oficialmente, impera na surdina em diversos pontos do país e do mundo. Há, pelo menos, o esforço de usar novas tintas ao pintar este quadro. Transferida para a equipe que trabalha para lançar o primeiro americano ao espaço, Katherine precisa percorrer uma distância de 800 metros para ir a um banheiro para “pessoas de cor”. A dedicação do filme a este fato em particular, e a maneira como o faz, distinguem-o de outras produções correlatas. Não se trata de uma opção pelo humor, mas de rejeitar a gravidade. O filme de Melfi fala de um tema sério, mas não se resolve de maneira pesada. Até porque conta uma história de triunfo e valor humano. Justamente por isso, a aposta de confiar no elenco para brilhar e cativar o público se mostra reiteradamente acertada.
As atrizes respondem pelo que o filme tem de melhor a ofertar. Janelle Monáe , em sua estreia como atriz, ela também está no bem cotado ao Oscar “Moonlight”, é uma revelação e tanto. Como a desaforada Mary, ela mostra grande ritmo dramático. Ela responde pela cena mais impactante do filme em um tribunal. Protagonista, Taraji P. Henson reafirma seu valor como atriz ao apagar completamente os vestígios de Cookie, da série “Empire”, a personagem que elevou seu status na cultura pop americana. Octavia Spencer empresta a habitual competência a personagem mais experimentada de todas, aquela que sabe tomar os atalhos para chegar onde precisa e quer chegar. Kevin Costner e Kirsten Dunst pegam estereótipos brancos em filmes de negros e fazem o possível para revirá-los. Há momentos em que conseguem. Mas no geral pouco conseguem exceder o que manda a cartilha.
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“Estrelas Além do Tempo” é um filme de discurso e desenho conhecidos, o que não implica na assunção de que mal executados. Edificante e até mesmo necessário, é um filme que agrada a um público que não se incomoda de ver e se emocionar com a mesma história repetidas vezes.