Laila Zaid, ex-Malhação, fala ao iG sobre carreira, família e ativismo ambiental
No decorrer do período de isolamento social, a artista carioca filmou "Lacuna", um longa de suspense e terror psicológico, dirigido por Rodrigo Lages, que estreou há pouco tempo no streaming da Globo
Laila Zaid, que até hoje é lembrada por causa de Bel, personagem que interpretou durante três temporadas de "Malhação", na emissora dos Marinho, é ligada às causas ambientais desde pequena e aprendeu a usar suas redes sociais para ecoar suas convicções. Mas essas não são suas únicas paixões, não. Tanto que a cada dez palavras que pronuncia, onze são do seu amor ao investidor Marco Kertzman, com quem está casada desde 2009, e aos filhos, Clara, de quatro anos, e Tom, de dois.
Procurada pelo site, ela topou bater um bate-papo sobre os seus trabalhos em novelas, filmes e peças de teatro, além do seu début na literatura. Para quem ainda não sabe, em junho deste ano, a atriz e ativista lançou o livro "Manual Para Super-Heróis: O Início da Revolução Sustentável", pela Editora Melhoramentos, em que dá aos pequenos dicas práticas de sustentabilidade para serem executadas no dia a dia, inclusive pelos adultos. Confira aqui!
1. Por que você optou por defender a causa do meio ambiente?
Ela me escolheu há muitos anos e persistiu. Tive uma infância muito próxima da natureza e entendi desde cedo que somos uma coisa só. Desenvolver esse zelo é como cuidar de nós mesmos. E penso que nada importa se não houver planeta. Mas eu gosto do termo "sustentabilidade", porque ele se apoia em três bases: a ambiental, a social e a econômica. Impossível atuar em um pilar e não provocar os outros.
2. Você acha que todo artista deve usar sua imagem para defender alguma área social?
Não posso dizer que alguém precisa fazer algo. Estamos travando batalhas, e cada um tem suas possibilidades e ferramentas. Mas acho que todo representante da arte deveria se envolver, sim. Quanto mais influente, mais responsável pode ser. Eu amaria ver todos engajados. São tantas pautas precisando de atenção no Brasil. E também não nego que, quando vejo um formador de opinião (do meio artístico ou não) apenas focado em autopromoção e publicidade, me dá uma preguiça (risos).
3. Como mãe de duas crianças, você se preocupa mais com o mundo que vai deixar para seus filhos ou com os filhos que vai deixar para o mundo?
Nos dois! Acredito que já estão vivendo em um local assustador, em uma pandemia, com desastres ambientais terríveis e uma desigualdade social dramática. Porém, ainda têm acesso à água potável, saneamento básico, e poderiam se dar ao luxo de consumir sem responsabilidade e se isolar em bolhas de privilégio, mas, muito em breve, não poderão mais, nem é o que desejo pra eles.
Quero que saibam o que está acontecendo e estejam preparados para lidar com tudo, e que sejam pessoas ativas na transformação, como eu me esforço tanto pra ser. Acho triste quando dizem que os pequenos salvarão o planeta, eximindo nossa geração do dever. É um discurso velho que funcionou até os nossos pais. Já estamos vendo as consequências da degradação que causamos, e nossos descendentes precisam que façamos algo agora! Isso é agir e educar.
4. Você lançou o livro "Manual Para Super-Heróis", em que aborda a sustentabilidade para crianças. Como convencê-las da importância da preservação ambiental num mundo de extremo consumismo e desperdício?
Tudo seria mais simples se estivessem em contato com a natureza. Porém, isso está cada vez mais ligado a privilégio do que a direito, necessidade. E faz o discurso de salvar o planeta ficar restrito aos livrinhos e filmes infantis. Mas, se nós formos o exemplo, tudo funciona! Devemos evitar os descartáveis a qualquer custo. Temos que fortalecer a sua identidade no que elas são, e não no que têm. Vamos ensiná-las que não precisamos ter coisas para sermos felizes e que podemos consumir com consciência. É possível, fundamental e urgente criá-las fora desse sistema do consumo e, em contrapartida, expô-las ao que é natural!
Você viu?
5. No livro, você traz doze atividades para as crianças salvarem o mundo, inspiradas nos doze trabalhos de Hércules. Na sua opinião, quais são as tarefas hercúleas mais emergenciais às quais a sociedade precisa se dedicar?
Consumo consciente: pensar no que comprar. Algumas perguntas me ajudam nisso: De onde vem? Como foi feito? Como chegou até mim? Vai pra onde? E o mais importante: eu realmente preciso disso? Precisamos escolher de quem vamos consumir e o quê! Colocaremos nosso dinheiro suado nas mãos de pessoas que também estão suando, em vez de dá-lo a empresas gigantescas. E pararemos de tentar preencher nossos buracos com coisas. Nossa geração está aí cheia de itens e à base de ansiolítico. Não estamos felizes. Devemos experimentar outras formas de estarmos aqui.
6. Seus últimos trabalhos foram bastante significativos. Na TV, você fez uma feminista em "Orgulho e Paixão" e, no longa "Pai em Dobro", dá vida a uma hippie ligada à natureza, a curas holísticas. É sempre uma escolha sua viver esses papéis que têm algo para passar para o público?
Tenho muita sorte em fazer personagens marcantes. Mas não posso dizer que são escolhas, porque adoraria interpretar os "equivocados" também. Quando me chamam para um trabalho, tento pensar se ele vem pra agregar de alguma forma como um todo, independentemente da atuação a ser feita de acordo com o projeto.
7. Já deixou de fazer algum trabalho por conta do seu ativismo?
Se sim, não soube (risos). Pelo menos, não como atriz. Na publicidade, sim. Às vezes, umas marcas me propõem parcerias sem ter nenhuma pegada de impacto positivo. Aí, não rola. Jamais vou ajudar a divulgar aquilo em que não acredito.
8. Você rodou o filme "Lacuna", que acabou de entrar na Globoplay, em plena pandemia. Como tem lidado com isso e passado o tempo nesse caos?
Não tem sido fácil. Acordo na missão e só desligo quando as crianças estão dormindo! É muita coisa: temos que dar conta da casa, da comida, da roupa, dos filhos, dos cachorros, da saúde, do social, do profissional, do financeiro, afe! A vida está em um ritmo doido! Tenho uma rede que me ajuda, um companheiro incrível, e vou levando... Trabalhar nesse período foi tanto assustador quanto aliviador. Estar com outras pessoas e interpretar foi muito maravilhoso, estou sentindo falta.
9. Você usa muito suas redes sociais para falar basicamente de maternidade e sustentabilidade, sem evidenciar sua vida de artista famosa. Como é a relação com os seguidores e fãs de forma geral?
Ótima! Minha rede é bem amorosa. Não glamourizar é parte do ativismo social. Não quero vender felicidade irreal pra galera comprar infelicidade de verdade. Também me preocupo em não transmitir um padrão estético opressivo. Não uso filtros nem maquiagem. Não visto roupas para me filmar, eu sou aquilo ali. Olheiras e pijamas (risos). Acho que isso aproxima o público de mim e me ajuda a passar a mensagem de que é possível para todo mundo escolher comportamentos de impacto positivo.
10. Quais são seus próximos projetos? Haverá um novo livro?
Estou trabalhando como doida para tentar fazer com que mais pessoas atentem para o cuidado com o meio ambiente e as questões sociais. Então, teremos muitas novidades!