Ingrid Conte fala sobre carreira, novelas na RecordTV e nova série no streaming
Com exclusividade, a artista abordou temas como sonhos pessoais e profissionais, beleza, maternidade e os impactos do novo coronavírus
No ar como a Elisa de "Gênesis" e a Elisabete de "Topíssima", que está sendo reapresentada após a trama bíblica, Ingrid Conte topou falar com o iG Gente sobre as gravações em meio ao imprevisto que mexeu com o destino de todo mundo e os projetos teatrais que precisaram ser reformulados ou congelados por conta dos decretos obrigando os espaços culturais e estabelecimentos privados a fecharem as portas.
"Adoraria poder dizer que vou voltar aos palcos! Mas, em tempos pandêmicos, espero poder falar isso em breve", destacou ela. Mas engana-se quem pensa que as novidades param por aí! Além das produções da RecordTV, a atriz também pode ser vista no seriado "Dom", inspirado na vida de Pedro Machado de Lomba Neto (1981-2005) e dirigido por Breno Silveira, já disponível no Prime Video. Confira!
1. Com 35 anos, você parece mais jovem. Isso te incomoda ou te anima, já que dizem que as mulheres gostam de aparentar menos idade?
Me anima no sentido de que tenho à minha disposição um leque maior de personagens para trabalhar. Posso tanto fazer uma menina mais nova quanto uma mulher mais experiente, já que, ao longo da vida, a gente vai ganhando uma maior bagagem emocional.
Mas a questão da idade é uma construção social que vem sendo ressignificada. Hoje, aos 35, me sinto melhor e mais em paz comigo mesma do que aos 25. Estou cheia de projetos pessoais e profissionais, cuido do meu corpo, da minha mente, amo fazer atividade física, estar em contato com a natureza... Venho buscando cada vez mais um equilíbrio, um alinhamento, e entendo que o meu entusiasmo é um dos grandes responsáveis por essa minha aparência mais jovial.
2. Você está em "Gênesis" e na reprise de "Topíssima", mas com contextos diferentes. Como é poder transitar em diversos períodos de tempo e em diferentes papéis?
É maravilhoso e considero essa uma das grandes "ondas" de ser atriz. Eu amo descobrir cada universo que um personagem novo traz, do que gosta, no que acredita, o que o motiva, quais são seus buracos emocionais. Isso me mantém atenta e observadora de cada sensação minha e faz com que me mantenha aberta a mudanças sempre que estas forem coerentes para minha felicidade e meu bem-estar.
3. Aliás, o que é mais difícil: uma mocinha atual ou uma mocinha bíblica?
Depende muito mais do contexto emocional no qual está inserido o personagem do que da época, já que ele representa um arquétipo (forma racional de explicar o inconsciente coletivo). Isso significa que as motivações humanas são as mesmas, os dramas pessoais, as necessidades biológicas são iguais desde o tempo em que o mundo é mundo. O ser humano busca pertencimento, realização, segurança, estabilidade... Então, não consigo dar uma resposta exata para essa pergunta, preciso saber quem são essas mocinhas (risos).
4. Você está no elenco da série nacional "Dom", que estreou no Amazon Prime Video. Como percebe esse crescimento das oportunidades da teledramaturgia no país?
O mercado realmente tem se ampliado, e isso é maravilhoso tanto para o público que passa a ter um acervo cada vez mais diversificado a seu dispor quanto para todos os profissionais que trabalham com audiovisual. Falando por nós, atores, essa invasão das plataformas de streaming é positiva, pois amplia nossas possibilidades e não nos deixa tão reféns de trabalhos nas grandes emissoras e produtoras. Hoje em dia, temos na internet uma grande ferramenta de expressão, um lugar superdemocrático onde todo mundo tem voz se quiser. Enfim, só vejo coisas positivas e acho que toda essa revolução é muito promissora! Que haja sempre mais espaço para a arte e para o entretenimento, de forma geral!
5. Voltando a "Gênesis", você gravou a novela sob novos protocolos por conta da pandemia. Como foi e de que forma isso impactou na sua vida?
Além de fazermos PCR uma vez por semana, se, por acaso, tivéssemos uma cena de contato mais íntimo, também fazíamos o exame no dia da gravação. Brinco com as meninas que elas me conheciam profundamente, mais que qualquer pessoa, através das minhas narinas, porque foram muitos testes (risos). Toda a equipe usava máscaras e face shield, álcool em gel. No set, só tirávamos na hora em que íamos gravar. Nos camarins, por exemplo, cada ator tinha sua cabine. Enfim, tomamos o máximo de cuidado para cumprir as medidas de segurança.
6. A pandemia alterou algum projeto seu? Você chegou a criar algo ao longo dela?
De forma geral, vi no isolamento social a oportunidade de direcionar meu olhar para coisas que queria/precisava. Tem sido um período de me arriscar em estudos e práticas que, na correria, foram ficando de lado. Comecei a tocar violão, li vários clássicos que estavam na fila de espera, entrei para o universo da física quântica, escrevi poesias, produzi vídeos em casa... Sobre projetos, tive que fazer algumas adaptações. Um deles era no teatro! Para não perdê-lo, foi preciso repensar seu formato, já que, com a pandemia, os teatros tiveram de ser fechados. E as possibilidades de patrocínio também acabaram sendo drasticamente reduzidas.
7. Ser mulher, ter 35 anos, solteira, bem-sucedida, bonita... Você acha que os homens ainda têm problemas para lidar com mulheres poderosas como você?
Gente, me apresenta essa pessoa! Quem é? Quero conhecer! (risos). Essa palavra "poderosa" me incomoda um pouco, porque uma mulher poderosa deveria ser aquela que é normal, que é o que um homem normal é nessa sociedade, onde ele pode simplesmente viver sua vida, indo atrás dos seus sonhos, da sua satisfação pessoal, conectado ao seu desejo e ser alguém pleno. Então, uma mulher empoderada é apenas um homem normal.
Um empoderamento deveria ser visto como a normalização da busca pela igualdade de condições dos indivíduos, não de um homem ou de uma mulher. E perceba que, quando se fala sobre "poder", isso tem a ver com a lógica patriarcal, com a ideia de que "eu quero ter os mesmos direitos que os homens porque estes os detêm". Na verdade, eles os têm, e é o que nós deveríamos ter. Os direitos ainda não são iguais. Sempre estiveram na linha de frente, nós vamos na rebarba!
Gostaria de poder passear por essa existência não enfrentando resistência pelo fato de ser mulher! É o que desejo a todas! Isso vem mudando, mas há um longo caminho a ser percorrido!
8. Beleza ajuda ou atrapalha?
Antes de tudo, precisamos entender que o conceito de beleza é bastante relativo. O que é belo pra mim não necessariamente é pra você. Além disso, é resultado de uma construção social, em grande parte ditada por um ponto de vista patriarcal, e cada sociedade elege os seus padrões, que também vão mudando ao longo do tempo.
Para que a gente possa ampliar nosso olhar, devemos primeiro compreender esse mecanismo idealizador e escravizador que nos é imposto a todo momento e nos abrirmos para pensar fora dele.
Não estou dizendo que tal atributo não abre portas. Mas o problema é que limita em certos aspectos porque acaba impondo barreiras ao olhar externo. Uma mulher considerada bonita precisa provar duas vezes mais a sua capacidade para poder sair de estereótipos sociais. No entanto, também pode ser engraçada, inteligente, profunda e zilhões de outras coisas que vão além da sua aparência!
É importante ressaltar o papel da mídia em reforçar ou desconstruir esses estereótipos. E meu desejo é que cada vez mais haja espaço para a diversidade e, num âmbito profissional, que o físico não seja o único ou principal critério na hora de escolher um ator para viver um personagem, por exemplo.
9. Quais são seus sonhos pessoais e profissionais?
Profissionalmente, ainda tem uma gama de personagens que gostaria de fazer, por exemplo, uma vilã, mas não daquelas estereotipadas, e sim uma cujo público compreenda suas atitudes, que consiga gerar empatia nas pessoas, que provoque reflexões. Também adoraria interpretar uma mulher com transtorno psicológico, seria um grande desafio.
Na minha vida pessoal, venho investigando sobre o desejo de ser mãe. Ainda não é o momento, não tenho essa certeza, mas, daqui a alguns anos, é bem provável que eu queira vivenciar a maternidade. Acompanho uma amiga que teve bebê durante a pandemia, então sei o quanto é uma experiência exaustiva física e emocionalmente, mas, sem idealizações, também sinto que é mágica. Mais para frente, talvez eu decida embarcar nessa "aventura".
10. Quais seus próximos trabalhos?
As gravações da novela consomem bastante tempo e energia e é um período em que a gente não tem muito espaço para se dedicar a outras coisas. Então, com o término delas, pretendo desengavetar meus projetos. Adoraria poder dizer que vou voltar aos palcos! Mas, em tempos pandêmicos, espero poder falar isso em breve!