Na última quinta-feira (25), a minissérie Griselda chegou à Netflix e já ocupa o primeiro lugar no ranking das mais vistas da plataforma de streaming. A história de Griselda Blanco, uma das mulheres mais poderosas e influentes do tráfico internacional, traz à tona cartéis latino-americanos, violência, drogas e suas semelhanças com Pablo Escobar.
A produção, que conta seis episódios, começa com a frase "O único homem que eu temi em minha vida foi uma mulher chamada Griselda Blanco", dita por Pablo Escobar. Ele temia a narcotraficante colombiana que construiu um império de drogas nos Estados Unidos entre os anos 1970 e 1980.
A pioneira do crime organizado era mãe de quatro filhos, saiu de casa ainda na infância para fugir dos abusos do pai e enfrentou problemas com o marido igualmente tóxico. Aos 27 anos, ela iniciou sua carreira quando se mudou da Colômbia para os Estados Unidos após encomendar o assassinato do primeiro marido. Fora de seu país, ela iniciou o tráfico de drogas e elaborou uma rota para transportar as substâncias nas fronteiras, ficando conhecida por mandar matar pessoas por "não gostar de como eles olhavam para ela".
Ao todo, ela foi casada três vezes, mas nenhum de seus companheiros sobreviveu. Seu segundo marido foi morto após ela acreditar que ele estava roubando dinheiro dela. Em 1983, ela ordenou o assassinato do terceiro, que saiu de Miami com o filho do casal. Apelidada de Viúva Negra, ela construiu um império, tornou-se uma das mulheres mais ricas e temidas do mundo e supervisionava o tráfico de 1,5 toneladas de cocaína para os Estados Unidos todos os meses.
Pouco antes, rejeitou a proposta de um cartel rival para entregar seu império por US$ 15 milhões, aproximadamente R$ 74 milhões. Em determinado momento, ainda permitiu que um homem liderasse seus negócios, pois os negociantes locais "somente aceitariam um acordo se viesse da boca de um homem".
Entre abril e setembro de 1980, cerca de 135 mil cubanos emigraram para os Estados Unidos e Griselda aproveitou a oportunidade para recrutá-los. Com isso, seu cartel criou o próprio grupo de matadores, conhecidos por seus assassinatos cometidos em motocicletas.
Em 1985, ela foi presa e julgada pela fabricação, importação e distribuição de cocaína. Além disso, foi acusada de três assassinatos e passou 20 anos atrás das grades. Durante esses anos, três de seus filhos foram mortos e, em 2004, quando foi solta, passou a viver uma vida sossegada. Aos 69 anos, foi assassinada a tiros por um homem de motocicleta, crime semelhante ao que criou em seu império.
Apesar de terem pontos em comum entre Griselda Blanco e Pablo Escobrar, os dois enfrentaram uma certa rivalidade. Ela era marcada pelas ações violentas para alcançar seus objetivos em Miami, enquanto ele permanecia em Medelín. De acordo com a revista Semana, ele teria utilizado as rotas traçadas por ela, o que terminou em um confronto entre ambos os lados.
A narcotraficante ainda foi responsável por conquistar "mulas", pessoas que faziam o transporte de substâncias ilícitas. Essas eram orientadas para que não fossem capturadas ao colocarem as drogas nas roupas íntimas e passassem despercebidas pelos agentes ficais nas fronteiras.
Os dois criminosos foram a principal razão para a criação da Administração de Controle de Drogas (DEA) nos Estados Unidos, que tinha como objetivo prendê-los por fornecer drogas aos países. Após dois anos de perseguição, Pablo Escobar foi preso no dia 2 de dezembro de 1993.
Griselda é interpretada por Sofía Vergara na minissérie, que cresceu na Colômbia e descobriu mais detalhes sobre a narcotraficante: "Cresci na Colômbia, na era do narcotráfico, mas fui ouvir falar da Griselda muito tarde na vida. Fiquei intrigada ao saber que havia uma mulher no nível daqueles homens.
"Trabalhar numa série como Modern Family te faz ir para casa feliz. Aqui foi completamente diferente. Eu chegava em casa depois de passar o dia fugindo de pessoas que queriam me matar (...) Não é uma série como Narcos, sobre o narcotráfico, que já conhecemos. É sobre uma mulher tentando criar quatro filhos", acrescentou.
"É difícil encontrar personagens tão poderosas. Eu me pegava admirando esta mulher, às vezes, com a força que demonstrava no mundo totalmente dominado por homens. Mas aí me lembrava de que não podia glorificá-la, que ela havia feito coisas terríveis e se tornado um monstro, mesmo que tivesse boas intenções no começo (...) Ainda não chegamos ao fundo da história desta mulher", concluiu.
A atriz latina, que pela primeira vez atuou em espanhol, mostrou como a madrinha do Cartel Medelín e uma das responsáveis por fundar a rota de tráfico entre Colômbia e Estados Unidos, também tem em suas costas a morte de 200 pessoas por transporte ilegal de cocaína.
Para Eric Newman, um dos criadores e produtores da série, "toda pessoa tem uma explicação, não uma desculpa, mas uma explicação", e a produção retrata como uma "mãe solteira que foge de um relacionamento abusivo, ela pode, às vezes, causar empatia".
"Ela é uma mulher no mundo dos homens (...) Ela trabalha 10 vezes mais para provar que é capaz e usa sua sagacidade e inteligência para ludibriar os homens à sua volta. As pessoas começam a torcer por ela", acrescentou o codiretor Andrés Baiz em entrevista à BBC.
*Texto de Júlia Wasko
Júlia Wasko é estudante de Jornalismo e encantada por notícias, entretenimento e comunicação. Siga Júlia Wasko no Instagram: @juwasko