Três meses após a morte do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa aos 86 anos, vítima de um incêndio em sua casa que deixou mais de 50% de seu corpo em chamas, o viúvo do arista, o diretor Marcelo Drummond tenta reformar o imóvel no Paraíso, Zona Sul de São Paulo. O ator diz que tem feito grande parte da limpeza do local sozinho e que, às vezes, conta com a ajuda de pessoas do Teatro Oficina. "Passo grande parte dos dias lá no apartamento limpando porque a fuligem penetra em tudo .Então tem que limpar cada objeto, cada texto.", disse em entrevista à Quem.
E continuou: "Às vezes são pilhas de papel soltos e todos eles têm marcas de fuligem e poeira. Eu vou limpando um por um. É um trabalho bem longo, demorado, mas está indo.", disse. "Mexe muito comigo, mas, ao mesmo tempo, me dá muita alegria quando eu vejo que muita coisa se salvou. O acervo do Zé me interessa muito", afirma Marcelo, que é orientado por uma técnica do patrimônio.
Zé morava no apartamento que pegou fogo, e na unidade ao lado, vivia Marcelo. Os apartamentos eram autônomos, mas conectados por uma porta. Ricardo e os amigos do casal, Ricardo Bittencourt e Victor Rosa também moravam nesses dois apartamentos e foram socorridos pelos bombeiros.
Recentemente, Drummond abriu uma vaquinha online para reformar os apartamentos destruídos pelas chamas. "Fiz a vaquinha porque o orçamento que me foi apresentado é de R$ 240 mil e ainda exclui a pintura da fachada e o chão e os tacos, que têm que escolher durante a obra. É um valor muito grande para mim, que sou ator do Teatro Oficina, que não tem patrocínio desde 2016", explicou.
Desde o incêndio, em julho, Marcelo ainda tenta entender o que aconteceu. '"Foi um choque muito grande para mim, ninguém esperava uma coisa dessa. É claro que o Zé, a cada dia que passava, estava mais frágil, enfim, ele tinha 86 anos. Mas ninguém esperava isso. No dia anterior ao incêndio, a gente estava feliz e combinando projetos", lembrou.
O viúvo ainda conta, emocionado, que o marido estava empolgado com A Queda do Céu, adaptação idealizada por Zé para o livro de Davi Kopenawa e Bruce Albert. "Eu já ia entrar no projeto de 'A Queda do Céu' com ele, porque ele tinha pedido… A gente estava muito feliz porque a gente estava caminhando. Mas aí veio essa tragédia. Eu não sei explicar exatamente como eu me sinto, é sempre muito complicado. Mas é duro, isso é verdade", recorda.
Luto
Juntos desde 1986, Marcelo e Zé haviam oficializado a união no Teatro Oficina, um mês antes do incêndio. "Foi muito difícil me expor e fazer essa vaquinha, por exemplo. É sempre um problema para mim. Uma coisa é me expor pelo trabalho, outra coisa é pela minha vida, que é tão pessoal. Mas eu tenho o apoio de terapia, de amigos, estou tentando me cuidar", disse.
Sobre viver o luto, Marcelo confessa. "Eu nem sei dizer se eu vivi o luto, se eu ainda estou em luto, porque no dia seguinte [da morte de Zé Celso] eu já tinha coisas para resolver, problemas relativos ao apartamento, ao teatro, uma série de coisas que foram me tomando esse tempo todo, esses três meses", admitiu.
" É claro que é muito triste. Tem momentos do dia que são mais difíceis, principalmente quando acordo e tenho que encarar um dia novo. Mas durante o dia eu me ocupo de muitas coisas que eu tenho que fazer e vou seguindo a vida", completou.
"O Zé faz muita falta na minha vida. Tem horas que chego no apartamento e vou olhar o quarto dele como olhava quando ele estava dormindo para ver se ele já tinha acordado, ficava acompanhando a manhã para ver se ele estava bem. Ele faz muita falta no trabalho, faz muita falta na minha vida, no dia a dia. Mas as coisas são o que são, não tem jeito", conclui.
* Texto de Lívia Carvalho
Lívia Carvalho é estudante de Jornalismo e apaixonada por cultura pop. Antes de entrar no time da coluna, foi produtora, apresentadora e repórter no programa Edição Extra, da TV Gazeta. Siga Lívia Carvalho no Instagram: @liviasccarvalho