Gabriel Perline
Exclusivo

Tomate enfrenta ansiedade e síndrome do pânico: "Pensei em desistir"

Cantor foi uma das principais atrações do primeiro dia do Sauípe Weekend

Foto: Reprodução/Instagram
O artista revelou detalhes de sua saúde mental

Considerado um dos maiores puxadores de trios elétricos do país, o cantor Tomate sumiu do circuito musical por cinco anos. Cansado da rotina de shows e vivendo um momento de reflexão sobre os rumos de sua vida, ele se “exilou” nos EUA por cinco anos. Enfrentou o afastamento da vida pública e o isolamento social provocado pela pandemia. Na hora que decidiu retomar a carreira, no final de 2022, passou a ter crises de ansiedade e síndrome do pânico. “Pensei em desistir”, afirmou.

Em uma conversa exclusiva com a coluna, minutos antes de subir no trio elétrico da primeira noite de shows do Sauípe Weekend, na Costa do Sauípe (BA), Tomate foi franco ao assumir que enfrentou alguns "demônios" desde seu afastamento do palco, e que atualmente busca se reencontrar com a felicidade.

"Cinco anos atrás fui para Miami. Eu estava cansado da porra toda, e decidi ir pra lá aprender inglês. Gostei para caramba, porque eu sou muito de praia e eu tava precisando de uma folga, estava me sentindo enclausurado. Mas continuei fazendo shows aqui, diminuí a agenda, mas ficava indo e voltando. Só que quando veio a covid, fiquei muito tempo sem fazer nada. E como a minha carreira nunca foi de exposição na mídia, porque eu sou um cara de show e nunca fiz questão de colocar minha cara na televisão, aí na pandemia acabou que eu fiquei meio de canto", relatou.

"Chegou um momento que eu falei: 'Não vou voltar a cantar'. Pensei em desistir. Só que foi nessa que começou a vir os problemas de cabeça. Problemas financeiros não tive, graças a Deus estava tudo organizado. Sempre falei que ia me aposentar com 40 anos, sempre fui organizado na minha vida. Só que aí, quando você menos espera, vem os questionamentos: 'Quem é você? Você não manda porra nenhuma'. Aí comecei a sentir coisas, crise de ansiedade, crise de pânico", detalhou.

Tomate, que agora adotou o nome artístico de Tom Kray, disse que quando a cena musical passou a se recuperar após a pandemia, os amigos e contratantes passaram a cobrar por seu retorno aos palcos. "Eu não sentia vontade nenhuma", afirmou. E os sintomas da ansiedade e as crises de pânico passaram a se intensificar.

O passo para a mudança no rumo partiu dele mesmo. Em 22 de novembro do ano passado, ele estava em sua casa em Miami, e ligou para seu irmão --que também é seu empresário--, em Salvador, afirmando que queria voltar aos palcos. O problema é que as agendas dos grandes eventos de Carnaval já estavam fechadas e os circuitos de Salvador lotados. Mas o mercado se abriu quando soube que Tomate queria retomar a carreira.

"Se eu não tivesse nessa porra, eu estava ferrado. Eu ia estar na frente do computador. A sensação é de que eu tinha tudo, mas não tinha nada ao mesmo tempo. E hoje quero descobrir novas coisas que me façam criar mais essa motivação para trabalhar na música. Eu vou ser sincero, a pior parada do mundo é você acordar e não ter mais sonho. Parece que você queimou a largada ou o momento que você não tem mais o que fazer", avaliou.

Foto: Sércio Freitas/Divulgação
O cantor contou mais sobre sua carreira artística


No Sauípe Weekend, ele foi o primeiro a se apresentar no Pranchão, um trio elétrico que circulou por toda a zona hoteleira e arrastou uma multidão, que ficou eufórica com a apresentação. Quem estava embaixo, viu Tomate em completo êxtase, com um show impecável e metralhando hits, sem dar o menor indício do que vem enfrentando mentalmente.

Nova fase

Nessa fase de retomada, Tomate quer pegar mais leve. Já orientou sua equipe que pretende trabalhar em apenas 4 meses do ano, e fazendo, no máximo, 12 shows por mês. "Aí eu consigo curtir a vida e fazer shows bons. Eu quero encontrar uma felicidade. Tô buscando encontrar até um novo caminho musicalmente, me reinventar. Tô tentando uma forma de me divertir com a galera. Não quero ficar criando muita expectativa, não tô querendo porra nenhuma. Só quero me divertir", frisou.

Para o Sauípe Weekend, Tom disse que não fez nenhuma preparação especial, justamente para não correr o risco de ter uma crise de ansiedade. Para ele, a ordem é viver cada dia de maneira plena e tentar ser o menos controlador possível.

"Se a gente controla demais as paradas, aí fica preso dentro da nossa própria viagem. A onda é você deixar fluir. Vou deixar as coisas acontecerem. Não sei nem o que vai acontecer no próximo passo. Mas a minha preparação maior é fazer de tudo para que eu esteja psicologicamente equilibrado e bem para me conectar com as coisas boas. Para repertório, está tudo aí. São 23 anos cantando, música é o que não falta. A gente tá fazendo música nova, mas essa não é a parte principal. A parte principal é você estar feliz. Se você não estiver feliz nada vai acontecer, você não consegue conectar com ninguém."