Suely Franco vive das economias que fez na carreira para sobreviver à pandemia

Aos 81 anos, atriz estreou online o monólogo "Ela e eu — Vesperal com chuva"

Foto: Divulgação
Suely Franco


Aos 81 anos de idade e 61 anos de carreira, Suely Franco aceitou fazer um monólogo.  A peça ‘Ela e eu — Vesperal com chuva’ não é só a primeira que ela não divide o palco com outro ator como é no formato online, que a atriz nunca imaginou ser possível na vida. Mas, na semana de estreia da produção, Suely virou o centro das atenções por conta da revelação que estava se mudando de casa por questões financeiras. Ela assumiu que atravessa um momento difícil.

"Estou vivendo das economias que fiz durante a minha carreira para usar em momentos como esse que estamos passando". Em conversa com a coluna, Suely falou que não é uma mulher agitada, perdoa tudo, não guarda mágoas e que tentou ser professora de música. Ela revela também o horror pelo casamento: "Viver junto é uma droga".

Estava vendo a sua biografia e são 81 anos de idade, 61 de carreira e praticamente emendando um trabalho no outro. Como foi para você ficar esse ano completamente isolada?

Foram as minhas férias. Eu fiz tantas coisas que eu tinha vontade de fazer e não podia. Passava o dia inteiro fazendo criptograma, li vários romances bem bobinhos, sem hora para acordar, sem hora para dormir e sem hora para nada. Fiz também coisas bem diferentes como entrar no Instagram. Uma colega me encheu a cabeça para entrar na rede social e todo o dia eu procurar alimentar com uma piada. Mas não sou eu quem mexo porque não sei usar direito e a pessoa que faz me conta, me pergunta e eu já tenho 30 mil seguidores. Outra coisa que eu comecei foi fazer a peça online. Comecei ensaiando em casa e foi muito gostoso ver as pessoas ensaiando lá nos Estados Unidos, em São Paulo...

Imaginou que um dia poderia viver essa experiência de ensaiar a distância?

Nunca, nunca e nunca. O teatro faz parte da minha vida desde os 5 anos de idade. É complicado ter que posicionar o celular para o ensaio ou até mesmo durante a encenação da peça e, de repente, o aparelho cai, e como você para a interpretação? Horrível. Dá uma agonia. Nada se compara com aquela sensação de ter o público na plateia, ter o público na sua frente. Quando você está no palco e vê a plateia, sente se as pessoas estão gostando ou não do espetáculo.

Você é agitada?

Mais ou menos. Tem hora que sou bem agitada, existem horas e momentos que não sou agitada. Se tiver que ficar quietinha no meu canto, eu fico.

Que lição você acredita que a humanidade teve com essa pandemia?

Eu acho que muitas pessoas ainda não acordaram para essa pandemia. A gente vê essas aglomerações, essas festas e por mais que as autoridades peçam para ficar em casa, a pessoa não está nem aí. É rezar para a gente sobrar.

Suely, você estreou o primeiro monólogo de sua carreira, também em versão online. A peça "Ela e Eu — Vesperal com Chuva", com direção de Rogéria Gomes, é livremente inspirada num conto homônimo da escritora Lúcia Benedetti. É um personagem que você já desejava fazer?

Eu vou vivendo o que está acontecendo. Nunca achei que seria atriz. As coisas acontecem e isso que é o gostoso. Não fico pensando ou tenho sonhos de fazer esse ou aquele personagem. Eu também não faço projeções.

Qual é o contraponto entre essa atual personagem e você?

Ela é louca. Eu espero que nunca chegue a esse ponto (risos). Acho que a única coisa que nos temos em comum é a maneira de lidar com a vida. As coisas acontecem na vida daquela pessoa, e ela vai para frente. Eu sou assim.

Qual é a sua maior dificuldade como atriz?

A minha maior dificuldade é decorar. Depois que eu decoro o texto, fica tudo ótimo. Tenho muitos colegas que sofrem nos ensaios, ficam nervosos perto da estreia e eu não sou assim. Se o texto está decorado, tudo está perfeito.

O que não tem perdão para Suely Franco?

Tudo tem perdão. O que os outros fazem são problemas dos outros. Eu esqueço as coisas e não guardo mágoas. Acho isso ótimo porque não fica com aquela coisa guardada no peito ou atravessada na garganta.

O que ainda te emociona na carreira?

É a recepção das crianças e o reconhecimento do público mais jovem. Eles são sinceros. Me emociona muito também é poder estar trabalhando. Para mim é importante trabalhar.

A passagem do tempo diante dos olhos do público te incomoda?

Eu não envelheci. Ainda estou com 16 anos (risos). Muitas vezes, vejo uma cena de uma novela e aí demoro a me reconhecer: ‘ih, aquela senhora ali sou eu!’.

Hoje, as pessoas falam mais abertamente de assuntos polêmicos como preconceito e assédio, por exemplo. No passado, as mulheres tinham medo de denunciar e dizem que muitas atrizes sofreram assédio no passado. Já aconteceu com você?

Nunca tive problema nenhum e sabe por quê? A minha mãe só me largou quando o meu filho nasceu. Ela me deixou para tomar conta do neto e mesmo assim, ela estava ali comigo. Isso me dava segurança. Na minha época, não vi casos como acontecem hoje e confesso que fico espantada. Vejo esses escândalos e histórias que acontecem e relatos de casos do passado e isso me deixa impactada. Mas eu nunca sofri nada.

Se não fosse atriz, o que você seria? Tinha um plano B?

Já tentei ser professora de música. Eu toco piano, acordeon e violão, só que não tenho muita paciência para ensinar. Quando o aluno errava, ficava irritada (risos). Ser atriz acho que é um dom mesmo. Eu era sempre a que cantava nas festinhas, fazia apresentações na igreja e nas escolas, já nasci para ser atriz.

Li que em uma entrevista você diz que casar ‘é um horror’. Por quê?

Viver junto é uma droga. Você já fez excursão e teve que dividir o quarto com alguém? É um querendo o ar mais gelado, outro querendo ver a televisão e o terceiro quer dormir cedo. É uma droga, é uma loucura. Tudo é muito ruim, e o bom mesmo é namorar. Cada um na sua casa é o ideal. Já fui casada e sei que é uma droga (risos). Detesto.

Você está aberta para um relacionamento, para namorar?

Se acontecer... Mas o negócio vai ser difícil para eu me interessar. Para me interessar por uma pessoa, precisa de uma proximidade muito grande de respeito, de admiração pelo interior da pessoa. Sabe de uma coisa? Eu não penso muito nisso agora. Namorar? O meu negócio é ganhar dinheiro para pagar as contas.

Você revelou que se mudou recentemente e que havia feito a mudança por conta de um problema no joelho, que a impossibilitava de subir escadas. Como está fazendo agora?

Evito sair ao máximo, não só pelo joelho, mas também por conta do coronavírus. Só saio quando realmente é necessário.

Em que bairro você está morando no momento?

Na Urca.

Como está sua vida agora de volta ao seu antigo imóvel?

Estou vivendo das economias que fiz durante a minha carreira para usar em momentos como esse que estamos passando.