Egocentrismo do protagonista atrapalha drama gay brasileiro "45 Dias sem Você"
Filme independente brasileiro, que chega aos cinemas e às plataformas sob demanda, neste final de semana tem boas ideias, mas execução capenga
Por Reinaldo Glioche |
Se assumirmos como hipótese que nenhum filme é totalmente ruim e nem de todo bom, "45 Dias sem Você" pode ser bastante apropriado para verificação. O longa de Rafael Gomes tem a chancela de reunir os mesmos produtores do hit cult "Hoje eu Quero Voltar Sozinho" (2014) e abriga conflitos existenciais de natureza análoga, mas falta coesão no desenvolvimento das ideias.
Rafael (Rafael Bona que vai conquistando o personagem à medida que o filme avança) resolveu sair do país depois de ser abandonado por um namorado que não era namorado, mas era um grande amor que ele esperou por 45 dias apenas para ser dispensado junto com uma caixa de chocolates. "45 Dias sem Você" começa com o protagonista chegando à Londres, sem falar favas de inglês, para passar um tempo com a amiga Júlia, vivida pela estreante Julia Corrêa.
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Depois desse tempo em Londres ele passará por Lisboa e Coimbra em Portugal e por Buenos Aires, na Argentina, sempre encostando na morada de amigos e com dinheiro não sendo um problema.
Gomes reconhece o egocentrismo de seus personagens, a começar por seu reclamão protagonista, mas tem dificuldades em conectá-los com o público. A relação dos personagens, por seu turno, flui bem. Se é difícil torcer por Rafael, é muito reconhecível vê-lo interagindo com seus amigos. Além do retrato despressurizado da homossexualidade ser um alento narrativo digno de nota, bem ao estilo de "Me Chame pelo Seu Nome".
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Todavia, os diálogos, que vão de Shakespeare a enlatados americanos, são frequentemente ruins, o que amplia essa sensação de distanciamento entre o filme e sua audiência. No limiar, "45 Dias sem Você" tem uma ótima premissa, mas não consegue articular suas ideias de maneira narrativa e dramaturgicamente satisfatórias.