Agatha Christie tem muito pedigree. Kenneth Branagh talvez não tenha tanto, mas certamente está no rol dos nomes que surgem na mente quando se pensa em uma adaptação da prestigiada e muito adaptada autora inglesa. São mais de 30 adaptações ao longo dos anos, inclusive uma muitíssimo bem sucedida de “Assassinato no Expresso do Oriente”, protagonizada por Albert Finney e dirigida pelo mestre Sidney Lumet. A missão de Branagh, que assume tanto a direção, como o protagonismo, não era fácil.
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O britânico, no entanto, concilia ingratas e onerosas expectativas e entrega um entretenimento sofisticado, cheio de classe, com ótimos momentos e alguma tensão apresentando Agatha Christie para toda uma geração e pajeando fãs de outros carnavais. Seu “ Assassinato no Expresso do Oriente ” tem um elenco daqueles de salivar: Johnny Depp, Penelope cruz, Judi Dench, Willem Dafoe, Daisy Ridley (“Star Wars: O Despertar da Força”), Josh Gad (“A Bela e aFera”), Michelle Pfeiffer e Olivia Colman. Mas o grande trunfo do filme de Branagh reside no esforço que faz tanto para dar viço ao engenho criativo do texto de Christie, como para viabilizar uma alegoria da globalização.
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O visual é empolgante, o mistério convidativo e os atores estão um deleite nesse filme que muitas vezes se irmana a uma peça de teatro e se capilariza nos diálogos rápidos, autocentrados e cheios de expertise que o roteirista Michael Green (“Logan”, “Blade Runner 2049”) filtra tão bem da pena de Christie.
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Como ator, Branagh não se divertia tanto há algum tempo e não esteve tão bem em um papel desde que viveu Laurence Olivier em “Sete Dias com Marilyn” (2011). Seu Hercule Poirot, o autoproclamado melhor detetive do mundo, um tipo cheio de manias e com um raciocínio afiadíssimo, é um brinde a quem gosta de apreciar um bom personagem dimensionado por um ator que francamente o admira.
Sem qualquer outra pretensão além de oferecer boas duas horas de entretenimento, “Assassinato no Expresso do Oriente” é aquele programa para desfrutar com pipoca e sem risco de arrependimento no cinema.