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'Tenho cara de homem rico', diz Leopoldo Pacheco sobre escolha de personagens na carreira

O ator vai estrear no mundo das séries como o antagonista de 'Sutura', do serviço de streaming PrimeVideo

Leopoldo Pacheco como César Montebello em 'Fuzuê'
Foto: Reproduçao TV Globo
Leopoldo Pacheco como César Montebello em 'Fuzuê'

Era uma quinta-feira ensolarada com baixas temperaturas em Bogotá, na Colômbia, no último dia 3 de outubro. Ao fundo, era possível ver as árvores do Jardim Botânico José Celestino, na capital colombiana, e ouvir as diversas excursões escolares que aconteciam naquele momento.

Esse foi o cenário que o ator Leopoldo Pacheco,  de 64 anos, escolheu para conversar com o  iG Gente e contar um pouco sobre sua estreia em uma série no serviço de streaming PrimeVideo . O ator estava na capital colombiana para participar de um festival de teatro com a peça "Sueño", escrita e dirigida por Newton Moreno, em que ele cita durante o papo. 



Você vai estrear na série "Sutura" como o antagonista Romaneli. Como é esse 'vilão' e quais referências você usou para construí-lo?

Esse cara é um médico ambicioso. Ele está sendo candidato à presidência desse lugar [hospital]. Então, há uma disputa entre a Machine e o Romanelli pela presidência. Ele lida com o universo da grana. Ele é o cara que lida com o universo dos muito ricos, mas também está envolvido com o crime que acontece às escondidas no hospital.

A gente tem muitas séries interessantes hoje em dia, não só relacionadas a hospitais, mas, por exemplo, 'Succession'. São personagens muito inspiradores, né? Eu amo aquela série! Assisti estudando, assim, como sei lá, assisti 'Downton Abbey'! Eu ficava vendo a maneira como aqueles atores falavam o texto, e você pensa: 'Jesus, como é incrível! Parece que tudo é muito fácil, né?'. E aqueles dois universos que tinham em 'Downton Abbey', né? A parte de cima da casa e a parte de baixo, onde trabalhavam as pessoas... dois universos muito ricos. Então esses lugares me interessam muito.

Acho que o Romanelli tem esse lugar do cara que quer ascender a qualquer preço. Então é por aí que está o Romanelli nessa história. Esse médico que já não é mais médico hoje, porque ele é diretor do hospital. Na nossa história, ele já não exerce mais a medicina. Ele dirige o hospital e quer se tornar presidente.

Como foi a dinâmica com os outros atores no set? Algum momento que se destacou para você durante as gravações?

Ah, cara, primeiro que acho que o elenco é muito jovem, especialmente dos médicos residentes, e são pessoas incríveis. Esse encontro foi muito legal. Com a Juliana Paiva, minha filha na série. Eu já tinha trabalhado com a Juliana antes; ela foi minha filha em 'Fuzuê'. Agora ela é uma médica residente, e, além de toda a complicação da profissão, tem a relação familiar, que é complexa, dele com a filha. A Claudinha Abreu é impressionante, e como foi gostoso contracenar com a Cláudia! Acho que foi a primeira série que fiz também. Foi uma grande descoberta.

O Diego foi um cara importante na direção, guiando os atores nesse trabalho. A Iara e eu somos super parceiros na vida, já fizemos outros trabalhos juntos e somos amigos, mas não nos cruzamos na série.

O Gabriel Braga, com quem eu já trabalhei, interpreta um médico parceiro do Dr. Romanelli. Então, são encontros que a gente tem que trazem uma liberdade muito grande de trabalhar, sabe? Já conhecer essas pessoas, como a Claudinha, o Gabriel Braga e a Juliana Paiva, facilita muito. E esses outros meninos, os residentes, são atores incríveis, bárbaros! Foi muito bom fazer esse trabalho e conhecer uma série por dentro. Muito bom!

Na série você faz uma espécie de antagonista na trama. Você tem alguma preferência quando escolhe os papéis de interpretar o mocinho ou o vilão da história?

Olha, eu não sei... devo ter muita cara de homem rico [risos] Eu acabo sempre indo para esses papéis, sejam bons ou ruins, mas sempre o pai muito rico, o vilão muito rico. Enfim, sei lá, devo ter esse perfil. Mas eu não escolho o personagem, o personagem me escolhe. Eu gosto muito de trabalhar, então o que me interessa são os projetos. Já fiz coisas pelas quais tive verdadeira paixão, como o Fred Sem Alma de 'Novo Mundo'.

Também fiz o Cemil [em 'Belíssima] do Silvio de Abreu, que era um homem bom, bom, bom, sofredor, sofredor, completamente oposto aos outros. Sempre personagens muito ricos e complexos. Isso me interessa bastante.

Atualmente você também está com a peça “Sangue” prestes a estrear. O que o público pode esperar do espetáculo? 

Leopoldo Pacheco na peça 'Sangue'
Foto: Heloisa Bortz
Leopoldo Pacheco na peça 'Sangue'

'Sangue' é um espetáculo muito forte, muito vertical, assim, que conta uma história sobre coisas que acontecem no teatro, com os artistas, com os produtores. O Kiko se inspirou em situações reais da vida de atores e criou uma fábula incrível, contando a história da proibição de uma montagem de um autor francês, e todos os meandros que estão dentro dessa história. A gente passa pelo colonialismo, pela violência contra a mulher, pelas questões raciais... É um espetáculo que tem várias camadas, sabe? E tudo isso a partir de algo que nos diz muito respeito do que é o próprio teatro.

Essa experiência com 'Sangue' está sendo muito boa. Interpreto Vitor, o herdeiro da obra do irmão, que é esse autor francês. Eu faço o papel do irmão dele, que proíbe essa montagem no Brasil. O personagem traz a prepotência e a fragilidade ao mesmo tempo, dessas figuras que detêm o poder sobre uma obra que, na verdade, nem é deles — é do irmão. E a peça explora como esse personagem vai entrando no universo do irmão. É muito bonito e muito interessante.

Você já atuou no cinema, televisão, novelas e teatro. Tem algum que se destaca para ti?

A minha formação é no teatro. Eu estudei na Escola de Arte Dramática da USP. Eu fui para a televisão quando tinha 43, quase 45 anos. Então, parece que estou na televisão a vida inteira, mas não estou, né? Eu já cheguei mais velho na televisão. Agora estou com 64. Nesse momento, estou aqui, em um festival de teatro em Bogotá, com um espetáculo chamado 'Sueño', que a gente construiu durante a pandemia. É um texto com direção do Newton Moreno. 

Eu gosto de trabalhar. Mas, sim, a minha formação é no teatro, e, cara, o palco é o que me deu toda essa possibilidade. Acabei de fazer um longa também, antes de começar a gravar 'Sangue'. Fiz um longa chamado 'Prisioneira', do Francisco Ramalho. Foi um belo projeto. Então, passei por série, novela, filme, duas peças diferentes. É nesse lugar que estou neste momento. Eu gosto de trabalhar.

Sobre redes sociais, o número de seguidores tem sido levado em conta durante testes de seleção para peças de teatros e até séries. Como você analisa essa questão?

Olha, para te falar a verdade, meu Instagram é fechado. Eu tenho, enfim, acho que é uma questão geracional, tenho dificuldade de lidar com esse universo das mídias sociais. Eu gosto muito de fotografia, então meu Instagram acaba sendo muito relacionado às coisas que eu fiz e aos trabalhos que gosto de fazer. É quase um Instagram profissional, no sentido do que eu faço, né? Eu sou cenógrafo, figurinista, caracterizador, então sempre estou envolvido nesses projetos. Gosto muito de plantas, tenho um jardim enorme que cuido, e recentemente visitei um jardim botânico, o que tem sido uma experiência incrível. São lugares onde me sinto muito confortável, sabe?

O Silvio de Abreu fez uma matéria outro dia falando disso. Ele falou algo como: 'Não me convida para ser técnico de um time de futebol, vai ser um desastre, eu não sei o que fazer!' A responsabilidade é grande, né? Acho que há um lugar que a gente precisa entender e estabelecer regras para as redes sociais, porque está tudo sem limite. Olha só as campanhas políticas que a gente vê na internet, está tudo muito fora de controle. Acho que nos perdemos nesse universo, e precisamos nos reencontrar.

Estreia de 'Sutura'

Leopoldo retorna às telinhas em "Sutura", no dia 22 de novembro, no  PrimeVideo . A série acompanhará Ícaro (Humberto Morais), um jovem médico recém-formado da periferia de São Paulo, que enfrenta dificuldades financeiras e falta de oportunidades para iniciar sua residência médica.

Sua vida muda ao formar uma aliança improvável com a Dra. Mancini (Cláudia Abreu), uma renomada cirurgiã que, após um trauma pessoal, começa a sofrer de tremores nas mãos, ameaçando sua carreira. Desesperada para voltar a operar, ela se une a Ícaro, e juntos entram no mundo dos procedimentos médicos ilegais, mergulhando em um universo perigoso de crimes e dilemas éticos.