No dia 21 de setembro, a cantora Lexa anunciou que estava se separando do funkeiro MC Guimê. Não demorou muito para que surgissem rumores apontando que a artista havia o traído. Nas redes sociais, comentários como 'Lexa foi menina' viralizaram.
Mas por que Lexa teria sido 'menina' ou 'moleca'? A suposta traição da cantora foi comparada com o histórico de infidelidade do jogador de futebol Neymar, que é dono do "meme" "errei, fui Neymar", derivado da frase "errei, fui moleque".
Em junho, Neymar assumiu publicamente a traição a noiva grávida Bruna Biancardi. O caso só tomou grandes proporções após a amante Fernanda Campos divulgar detalhes do caso extraconjugal com o atleta da Seleção Brasileira.
Na época, Neymar publicou um texto no Instagram onde assumiu ter "errado" com Bruna e o bebê. Não o suficiente, o episódio ganhou maior destaque após Neymar Jr. receber diversos comentários... o elogiando.
"Que atitude linda! É isso, meu menino, passamos pela vida errando, mas o importante é esse reconhecimento dos nossos erros", comentou um seguidor. "É isso filho… a vida continua sempre nos ensinando. Parabéns", declarou o pai do atleta.
Grande é a mulher que admite seus erros! Lexa é uma mulher de Deus, tem um coração enorme. Errou, mas o importante é o aprendizado.
— 🔥 (@Nuness15) October 28, 2023
Deus abençoe💜🙏🏽 https://t.co/dY24ceCUJ1
Os elogios recebidos por Neymar escancararam a diferença social com que homens e mulheres são tratados quando o tema é traição.
O drama de Luísa Sonza
Aos 20 anos, Luísa Sonza subiu ao altar para trocar alianças e votos de matrimônio com o humorista Whindersson Nunes. Na época, a cantora estava trilhando o início da carreira musical, que posteriormente a projetaria para o auge da cena pop no Brasil.
Com o romance exposto em todas as frestas da internet, o divórcio do casal enfrentou um drama público imenso após os fãs não aceitarem um término sem razão catastrófica. A necessidade de achar um culpado colocou Luísa Sonza como a esposa que teria traído Whindersson.
A traição nunca foi confirmada por Whindersson e Luísa, pelo contrário, o humorista já negou diversas vezes que o romance teria sido afetado por um caso de infidelidade.
Apesar disso, Luísa Sonza colheu os frutos sociais que apenas uma mulher taxada de traidora poderia colher. Desde então, a cantora é alvo frequente de ataques misóginos.
Eu sabia porra, essa mulher aqui é o anticristo em pessoa.
— Os Mais Brabos do site🐰🇧🇷 (@Boleiragem_1) November 1, 2023
Todos os nobres rapazes que essa enviada dos espíritos de baixo se envolveu não levaram pra frente.
Por isso Chico será sempre um herói, fez muito pouco ainda, mas tá valendo. https://t.co/oB4DVkIV7f
Em setembro, ela voltou aos holofotes após expor a traição do então namorado, o influenciador Chico ‘Moedas’. O término foi divulgado publicamente durante a participação no programa “Mais Você”, de Ana Maria Braga.
Ao contrário de Neymar, Luísa Sonza não recebeu empatia do público. Nas redes sociais, teve até quem apontou que a cantora teria ultrapassado os limites ao expor o namorado Chico Moedas em rede nacional.
No X, antigo Twitter, Chico foi exaltado, virou meme, deboches e até ganhou uma música para registrar a infidelidade. “Foi moleque”, alguns internautas zombaram.
Seria Chico um Anti-herói incompreendido? pic.twitter.com/dZsEKLxflB
— Gabriel Cristo | Muleque de Vila (@ogabrielcristo) October 26, 2023
Lexa ser chamada de ‘menina’ ou ‘moleca’ virou reivindicação de internautas já exaustos com o desequilíbrio do tratamento entre famosos e famosas envolvidos em escândalo de traição.
A psicologa terapeuta de casais Vanessa Abdo traz a teoria da vitrine de valores. Segundo a especialista, famosos e personagem midiáticos funcionam como modelos julgados pelo público.
“Existe uma fascinação da vida dessas celebridades como se eles fossem um exemplo, um modelo, algo a ser imitado. Quando tem uma traição, é como se tivesse uma quebra de confiança. Tem uma ruptura que o público fala, ‘poxa, mas até os perfeitos se traem, cometem deslizes, como que a gente faz para continuar admirando eles?’”, analisa.
Vanessa também reflete o protesto nas redes sociais ao chamar a cantora Lexa de ‘menina’ ou ‘moleca’. “A gente está sempre suavizando para os homens. Ainda hoje, quando interessa, a gente usa a biologia para justificar como se os homens pudessem e precisassem de mais relações sexuais. A gente sempre terceiriza para a biologia”, declara.
A comparação entre Lexa e Neymar também aponta a desqualificação do homem enquanto responsável pela tomada das próprias atitudes. “As mulheres sempre têm que mostrar maturidade. Quando uma menina aparece grávida, ela sabia muito bem o que estava fazendo. Quando é um homem que engravida [alguém], ele é um menino, como se ele não fosse capaz de tomar decisões conscientes por conta desse ímpeto característico da biologia”.
É rotineiro no mundo dos famosos casos de traição em que o infiel é o homem. Na maioria das vezes, os holofotes os deixam em paz após alguns dias do escândalo e a carreira artística não é afetada.
“O famoso homem se sente publicamente desinibido por conta da autorização social. Culturalmente, estão autorizados a expressar a sexualidade. A gente ainda vê a Anitta, vanguardista desse movimento de lidar com a própria sexualidade, como ela continua assustando”.
A questão da traição também pode encaminhar para a prática de violência e de transgressão de leis já estabelecidas, como feminicídio, ataques virtuais, ameaças, destruição de patrimônio e chantagem.
Nas redes sociais, é possível encontrar vídeos de mulheres apanhando, brigando umas com as outras e mulheres tendo o cabelo cortado a força devido aos casos de infidelidade.
Essas situações ficam mais agravantes quando analisadas sob a perspectiva de gênero, explica o advogado Leonardo Marcondes, especialista em direito de família.
Atualmente, é possível um cidadão pedir indenização caso sofra algum ato que lhe cause humilhação por exposição. A medida é válida para todos os gêneros e independe se a pessoa traiu ou foi traída.
“No contexto das relações afetivas, a traição por si só não é motivo para indenização por dano moral. No entanto, se como a traição foi exposta causou constrangimento excessivo ou exposição pública vexatória, pode haver fundamento para uma ação de indenização no prazo de até 3 anos após a ocorrência da situação que gerou o constrangimento”.