Isabel Teixeira fala sobre o secesso de Maria Bruaca: 'Me divirto'

A atriz avalia a nova fase da personagem e dá spoiller sobre final feliz de Bruaca

Foto: Reprodução/Instagram - 07.07.2022
Isabel Teixeira

Rio - Isabel Teixeira, de 48 anos, tem deixado o público de queixo caído com seu talento. Apesar de todos os elogios, a intérprete de Maria Bruaca, de "Pantanal", da TV Globo, não se deslumbra. Pelo contrário. A atriz ressalta o gosto pelas coisas simples, se define como uma pessoa trabalhadora, fala sobre a sede de viver, a importância da liberdade, relembra os ensinamentos da mãe, faz reflexões e ainda analisa a trajetória de sua personagem na novela.

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Neste momento da trama, Bruaca se reconhece como cidadã e passa a entender seus direitos após o fim do casamento com Tenório (Murilo Benício). "Essa ida da personagem para casa do José Leôncio (Marcos Palmeira), como um todo, é um momento que ela se entende como pessoa inserida na sociedade. A Filó (Dira Paes) traz para ela a sororidade, a conversa, o acolhimento feminino e o Zé traz a informação de fora, uma advogada que vai explicar o que é a legislação e vai defendê-la de coisas que não são normais. O abuso patrimonial, moral, isso tudo tem nome. É um momento, pra mim, em que ela cai em si porque ela nomeia tudo. Ela nomeia pra aprender", acredita Isabel.

"É um momento lento que ela está vivendo agora. A lei é lenta também. Até a Maria chegar em um acordo, ir a Campo Grande, chegar na frente do Juiz, tudo isso demora. É um processo longo, que ela se reestrutura, toma posse do que é dela. Aquela fazenda do Tenório é dela, o que ele construiu também é dela. Ela foi a base do trabalho, seja lá qual for o trabalho do Tenório, porque ela não tinha consciência do que ele fazia. Mas o que ele constrói é porque ela está em casa trabalhando", completa a atriz, que reflete: "Quantas mulheres ainda hoje não ficam trabalhando em casa pro marido ir trabalhar. Ou fazem turnos triplos cuidando de criança, trabalhando fora e cuidando da casa. E em uma eventual separação o marido pode falar 'olha tudo o que nós construímos, fui eu quem construí, eu que tenho o dinheiro, você não'. Isso é uma violência. Estamos vivendo isso na novela. Aprendi com ela, em cena".

Apesar de todas as adversidades, Maria Bruaca encanta o público com sua vontade de viver. Esse é um ponto em comum entre a personagem e Isabel. "Tenho muitas coisas em comum com ela. De cara me aparece esse deslumbre com a vida que ela tem. Me vem à mente aquela cena dela no barquinho vendo o Pantanal, sentindo o ventinho no rosto, gostando de estar viva. Me vejo tanto assim. Descobrindo a alegria, o prazer, gostando de viver plena. Quando ela descobre a sexualidade dela, ela não se diminui, porque ela não tem referência do que é sedução, beleza. Ela está ali com seu corpo, se descobrindo com o Alcides (Juliano Cazarré), com o Levi (Leandro Lima) primeiro. Ela não tem vergonha, gosta do que é gostoso. Isso tem a ver com esse prazer de viver, de estar vivo. É quase um contato da personagem com a criança dela".

E por falar em sexualidade, esse é um dos temas abordados pela personagem. O fogo e o desejo feminino. Isabel confessa que nem sempre foi bem resolvida nesse aspecto. "Foi um trabalho de uma vida. Minha adolescência foi cheia de traumas. Na década de 90, tinha isso muito forte de ‘você ter que ser assim pra agradar a ele’. Sofri com isso. Sempre fui uma mulher grande, isso fazia eu me sentir mal, excluída, me escondi muito durante um tempo. E fui me libertando e ainda estou nesse aprendizado. Agora está ficando muito gostoso estar comigo mesma, com meu corpo. Está muito bem, cada vez melhor", conta.

Após passar poucas e boas na novela, será que os dias de paz chegam para Maria Bruaca em algum momento?. "Sim, quando acabar a novela", afirma Isabel, aos risos. "A novela é fricção, é conflito. No outro dia pensei em uma coisa tão bonita: cobra quando troca de pele, ela precisa de fricção no solo pra pele ir saindo. A Maria Bruaca precisou de fricção, conflito, a não paz. Quando a novela acaba, ela respira. A vida é movimento, aprendizado, fricção, obstáculos, a gente cresce assim. É humano", analisa.

Traição tem perdão?

Se no folhetim, Bruaca viveu um casamento tóxico, na vida real, a história é bem diferente. "Nunca vivi um relacionamento como da Maria e do Tenório. Minha formação como pessoa vem de uma mulher, que é minha mãe (Alexandra Corrêa). Uma mulher muito livre, que viveu uma época de muito sonho, liberdade, que me criou com muita força e coragem. Acho que eu fui avisada, educada por ela sobre possíveis relacionamentos tóxicos. Nem tão especificamente, mas de sempre ter um olhar de aprendizado", comenta a artista, que compartilha alguns ensinamentos de Alexandra Corrêa.

"Minha mãe me falou uma coisa linda: você sempre tem que se perguntar 'isso é bom pra mim?'. Às vezes a gente precisa fazer coisas que não são boas pra gente, mas aí a gente repara e caminha pra uma mudança, transformação. Ela também me ensinou: 'Onde quer que você esteja sempre tem uma porta de saída'. Quando você entra num relacionamento, numa festa, num restaurante, observa que tem sempre uma porta de saída. E você pode sair, se quiser", recorda.
Ao ser questionada se perdoaria uma traição, a atriz é sincera: "Acho que perdoaria, sim. Não posso fechar essa pergunta com sim ou não. Porque depende do diálogo que tenho com a pessoa, o acordo que temos. O que configura uma traição hoje em dia? Às vezes uma traição pode ser algo que não é encontrar um amante e trair sexualmente alguém. Ela pode ser uma traição de 'caminhos'. Acredito muito no diálogo. Acho que não viraria pra uma pessoa e diria: 'você me traiu, vai embora daqui'. Eu ia querer conversar, entender e me encontrar dentro desse diálogo, ver o outro, pra aí perceber se nós podemos decidir juntos continuar um com o outro ou não".


Encontro das Bruacas

Isabel Teixeira conheceu pessoalmente Ângela Leal, intérprete de Maria Bruaca na primeira versão da novela, em 1990, no aniversário de Júlia, de 8 anos, filha de Leandra Leal e de seu ex-marido Alê Youssef, no fim de julho. A atriz recorda que o momento foi cheio de emoção. "Me emocionei muito. Tenho admiração pela Ângela, pela atriz que ela é, pelo trabalho que ela fez nessa novela, em particular, e pela mulher que ela é, cidadã. Combinei com ela que a Maria Bruaca, essa de 2022, é nossa. É uma criação nossa. Ganhei de presente isso (o encontro) da Rita Wainer. Ela é amiga da Leandra e me levou pra conhecer pessoalmente a Ângela. Pude abraçar, conversei com ela, dei muita risada. É uma pessoa inteligentíssima, humorada. Foi um encontro lindo, de família", relembra.

Sucesso dos memes da personagem

Maria Bruaca é uma 'fábrica de memes'. Alguns trechos das cenas da personagem ganham destaque nas redes sociais e divertem Isabel Teixeira. "Acho muito legal. Adoro os memes com a Maria Bruaca", afirma a atriz, que cita seus favoritos. "Tem um que ela está com o copinho na mão. Ela bebe e faz cara de marota. Eu adoro esse. Era uma cena pequenininha, nunca ia imaginar que esse trechinho ia virar um meme. Ou aquele que ela aparece de costas, falando: indo chifrar o Tenório".

A arista também vibra com o sucesso do folhetim entre os internautas. "Novela é um dos trabalhos mais coletivos que existem no mundo. Essa é sucesso porque o público escreve junto. Eles estão gostando de ver, comentam e escrevem sobre ela nas redes sociais. A criação desses memes, pra mim, faz parte dessa escrita do público. Acho muito alto astral, engraçado. Me emociono pensando na criatividade do brasileiro, no humor. Também tem uma hora que é sem filtro, o 'pronto, falei'. Mas acho isso forte, bonito, a cara de um povo muito forte, criativo, generoso e com alegria. Gente, como me divirto", frisa.

Dom da invisibilidade

Destaque em "Pantanal", a artista revela que nem sempre é reconhecida nas ruas. "Ando muito por Copacabana (Zona Sul do Rio), e pelo Minhocão (em São Paulo). Teve um dia que saí domingo, às 17h30. Fecharam a calçada de Copacabana, ia ter um show do Alceu Valença. Estava um movimento... Desci pra tomar um ar. Gosto de olhar a rua, ver as pessoas, de passear, me misturar, ser pedestre. Neste dia, ninguém me reconheceu. Não estava de óculos escuros, de boné. Estava eu, de rabo de cavalo, olhando, observando. Isso é meio o dom da invisibilidade. Vou indo, concentrada, olhando tudo. As pessoas não reparam. Não sei o que acontece", dispara.

Contudo, quando é notada pelos fãs, Isabel adora o reconhecimento. "As pessoas me param, vem conversar. Você não sabe o que é. Você está andando na rua e cruza o olhar com uma pessoa, que te reconhece. Ela vem com uma alegria falar comigo. Acho isso um presente. Aproveito cada segundo desses momentos. Posso até estar cansada, mas acho gostoso, generoso, alegre. Amo".

Em seguida, ela explica que é mais comum ser tietada em algumas situações específicas. "Tem dias que se eu vou em um lugar, num evento, que as pessoas sabem que estou ali. Aí sim, elas me reconhecem. Mas no meu dia a dia, sou dessas que descem, que andam, que gostam de ir à padaria, à feira... Vamos ver como vai ser lá em casa, em São Paulo. Gosto muito de andar no Minhocão, de ir ao Copan (famoso edifício). Acho que nada vai mudar. E se me reconhecerem, falarem comigo, vai ser legal", garante.


'Escolhi ter meus filhos na hora que eu quis'

Mãe de Diego, de 18 anos, e Flora, de 11, Isabel assume que é coruja e comenta seu papel na vida dos filhos. "Sou super coruja. Ao mesmo tempo lido com quem sou. Sou uma mãe que gosta de trabalhar. Eles cresceram me vendo trabalhar, sair, trilhar o caminho que escolhi. Sempre fui coerente com meus sonhos. Nem sempre é fácil, um mar de rosas, um romance eterno, é uma coisa dificílima. Viajei muito. Eles viam que eu viajava e voltava. Sou uma mãe que deixa a vida estruturada também. Falo pra eles: a gente tem que estar no mundo, a gente não é do mundo. E para estar no mundo, a gente tem nossas obrigações, tem data para pagar conta, entregar prova, esse é o sistema", destaca.

A atriz também cita os dois abortos que fez na juventude. "Acredito muito na liberdade de escolha. Escolhi ter meus filhos na hora que eu quis. Sou uma pessoa livre pra escolher o que quero viver. Isso é uma lição que estou deixando pra eles (Diego e Flora). Por mais difícil que isso seja, porque às vezes é doloroso, difícil, você tem que desviar do seu caminho, da sua coerência, sem desviar o foco. Estou ensinando isso pra eles agindo. Vivendo. E tem sido muito legal. Os dois me ensinam muito também".

Relação com os pais

Filha do cantor Renato Teixeira e de Alexandra Corrêa, a atriz fala sobre a relação com os pais. "Minha mãe me criou com muita coragem, amor, alegria. Ela era solar. Minha relação com meu pai é mais pela palavra, poesia, conversa. Escutei muito meu pai a vida inteira e ainda escuto muito. Adoro falar com ele. Não fui criada com ele na mesma casa, mas a gente se fala praticamente todos os dias. Até hoje. Isso é muito importante pra mim", afirma.

A artista conta que Renato assiste ao remake de "Pantanal". "Ele assiste por minha causa, mas acho que ele gosta do gênero da novela, porque ele também já escreveu uma novela. Ele ficou muito envolvido com a primeira versão de "Pantanal", com o Jayme (Monjardim). Meu pai escreveu uma novela com o Jayme, chamada "Flor de Cera", que ainda não foi feita. Ele tem o universo da novela como uma maneira de se comunicar pela palavra com o público. Isso é o que ele sabe fazer de melhor".

Vaidade

Em julho deste ano, Isabel Teixeira estrelou sua primeira campanha publicitária para uma marca de cosméticos. A atriz revela que chegou a ficar dez anos sem se maquiar. "A campanha foi feita de uma maneira muito delicada. Fui super acolhida. E estava tocando em um lugar na minha relação com a vaidade. Varia tanto. Fiquei anos sem me maquiar. Inclusive fazendo teatro. Antes me maquiava muito e amava. Depois, larguei, fui ficando mais velha. Fiz umas três peças, durante dez anos, sem me maquiar. E achava lindo estar de cara lavada. Me empolguei. Pinto meu cabelo desde os 24 anos e fiquei uns oito anos sem pintar pra ver como estava, que grisalha era essa que sempre fui e nunca deixei aparecer", recorda.

Todavia, tudo mudou quando ela atuou em 'Desalma' e 'Amor de Mãe', na TV Globo. "Tinha muita maquiagem e gostei. Adoro. Quando vou pra Globo, adoro chegar na maquiagem... Fiz amizades na sala de maquiagem, tenho carinho por algumas mulheres que estão ali. É uma coisa que não é vaidade. É o ato de maquiar, de conversar. Aconteceu uma confluência de coisas. Minha filha, Flora, de 11 anos, gosta de maquiagem. Comecei a entrar nessa onda. Estou gostando de sair maquiada quando quero, a doideira dos pincéis, a vaidade... É um estar afim de se pintar, colocar um cílio, um brilho. E outras horas não estar afim. Estou brincando com isso".

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