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Sem dinheiro e valorização, dublês vivem realidade de 'Cara e Coragem'

'Tem mês que trabalhamos muito, mas tem mês que não trabalhamos nada', explica o dublê Ítalo Villani

Foto: Arquivo Pessoal/ Globo
dublês falam de 'Cara e Coragem'

A novela “Cara e Coragem”, que estreou na TV Globo no fim de maio, traz as histórias de Pat (Paola Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado): dublês de ação, que estão na pindaíba, e, que por isso, aceitam um trabalho super arriscado em troca de uma boa quantia de dinheiro. E, mais uma vez, a ficção imita a realidade. Segundo os dublês Anderson Sabino e Ítalo Villani, os personagens retratam exatamente o dia a dia da profissão.

“Eles estão passando 100% do que vivemos. A gente não tem uma garantia de trabalho. Tem mês que trabalhamos muito, mas tem mês que não trabalhamos nada. É uma correria total. O que aparece, a gente vai pegando”, explica  Villani, que começou na profissão como  dummy do Big Brother Brasil e já foi dublê de diversas novelas da Globo. 



A oscilação de emprego acontece porque os dublês dependem das cenas de ação que ocorrem nas novelas e filmes. “Tem novela com várias cenas, mas outras que só tem duas em toda trama”, pontua Villani.

Desse modo, eles precisam sempre ter outras profissões para pagar as contas no fim do mês. “É bem como a Pat e o Moa retratam. Hoje é muito difícil um dublê viver só disso”, ressalta Sabino, que começou a carreira fazendo o dublê de Lázaro Ramos na novela “Lado a Lado” (2011), e hoje trabalha também como ator e escritor. 

Foto: Arquivo pessoal
Anderson Sabino foi dublê de Sabiá (Jhonatan Azevedo) em 'Força do Querer'



Desvalorização


Uma outra questão tratada em “Cara e Coragem” é a desvalorização dos dublês. “O reconhecimento profissional é bem difícil, é bem difícil construir a carreira”, declara Sabino.

Villani, que também é ator, complementa e diz que em países como os Estados Unidos a realidade é outra: “Lá o status deles [dublês] é equivalente ao de ator. Eles são reconhecidos, têm até prêmios”. 

Deste modo, o dummy espera que a profissão seja vista com outros olhos após "Cara e Coragem": “Acho que essa desvalorização vai começar a mudar aqui no Brasil depois da novela. É a primeira vez que falam diretamente dos dublês”.

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Preparo físico e cenas perigosas

Outra questão bem retratada na novela é o alto preparo físico dos dublês. Tanto Sabino como Villani já praticavam exercícios como luta, circo, atletismo e capoeira, antes da profissão. Atuando como dublês, eles afirmam que procuraram se aperfeiçoar ainda mais: “A gente faz curso de altura, segurança em altura, direção perigosa, direção defensiva, etc”, explica Sabino. 

Villani também diz que, muitas vezes, eles desenvolvem habilidades especiais para certas cenas: “Se é uma cena de atropelamento, por exemplo, a gente se prepara para isso". 

Ele ainda não nega que, às vezes, sente um certo medo, já que há cenas perigosas em jogo. "Nós sentimos medo, mas temos que confiar nos profissionais que estão com a gente e nos equipamentos. Confiar que a corda está lá te segurando e que tudo é feito com a maior segurança possível". 


Por isso, ambos afirmam que fariam o mesmo que Pat e Moa e aceitariam  a missão de vida e morte proposta por Clarice Gusmão (Taís Araújo) na novela. “Do jeito que está o nosso trabalho hoje, se chegasse uma proposta dessa para mim, eu toparia”, fala Sabino, aos risos. 

Villani concorda e diz que acredita que os dublês têm preparo para tal atividade arriscada: “Considerando que mexe com algo que eu gosto, que é a adrenalina, e ainda oferece uma boa quantia de dinheiro para algo que tenho preparo, não vejo porque não”, finaliza.