Leandro Firmino celebra papéis no streaming vinte anos após Zé Pequeno
Leandro, que fez teste para "Cidade de Deus" por insistência de um amigo, hoje tem 43 anos e comédias no currículos
O filme “Cidade de Deus” já era um estrondo no mundo inteiro quando a produtora de elenco do longa, Luciana Bezerra, levou Leandro Firmino da Hora para participar do piloto de uma série de comédia que ela roteirizou para uns “gringos”. Eles ficaram ressabiados quando viram o carioca no set. O intérprete do traficante Zé Pequeno, com apenas um papel no currículo, daria conta de um personagem de humor?
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"Leandro foi engraçado para caramba, nos fez rolar de rir. E os gringos falaram: 'É, realmente, ele é um ator'", relembra Luciana.
Esse projeto pode não ter ido para frente, mas a carreira de Leandro, hoje com 43 anos, caminhou e chega agora a duas décadas, aproveitando a possibilidade de mais papéis com o boom do streaming. Na semana passada, ele estreou em “Operação maré negra”, uma minissérie do Prime Video que ficcionaliza a história real da primeira apreensão de um submarino carregado de cocaína a atravessar o Atlântico. Ainda este ano, aparece na segunda temporada de “El presidente” na mesma plataforma, enquanto grava, no Uruguai, a quarta temporada de “Impuros”, do Star+.
"Não tinha nenhuma pretensão de iniciar a carreira de ator. Foi uma surpresa para muita gente, porque sempre fui muito fechadão", diz Leandro.
Foi por insistência de um amigo que ele foi fazer o teste para o filme e, mesmo depois do sucesso do longa, continuou por mais dez anos na Cidade de Deus (hoje mora em São Gonçalo, com a mulher e dois filhos, um de 10 e outro de 4 anos).
"E fiquei com muitas dúvidas se ia ou não seguir a carreira", conta.
Para saná-las, fez um trato consigo mesmo: só continuaria se ele próprio olhasse uma nova interpretação e a diferenciasse de Zé Pequeno. O filme “Cafundó”, dirigido por Paulo Betti e Clóvis Ramos, em 2005, foi o teste.
"Uma coisa é você fazer bem um determinado trabalho, mas será que o próximo será distante do que você já fez? Quando assisti a 'Cafundó', fiquei feliz com o que vi", relembra Leandro, que teve medo, na época, de ser apenas escalado para papéis semelhantes ao da estreia. "Hoje, porém, acredito ser possível fazer o mesmo tipo de personagem de forma diferente. No filme 'Julio sumiu' (2014), eu interpreto um traficante de um jeito totalmente novo".
Ódio e doçura
Primeiro a dirigir Leandro em cena, Fernando Meirelles recorda-se bem do trabalho de preparação do ator. Uma cena lhe marcou de modo especial.
"Lembro de ele chorar de raiva num destes ensaios e de se surpreender com o que sentiu. É um cara calmo, que fala lentamente, tem muita doçura. A grande maioria dos atores de 'Cidade de Deus' estava fazendo papéis que se pareciam com eles mesmos, por isso foram escolhidos, mas o Leandro criou um personagem muito distante do que ele é", recorda-se Meirelles. "Alguns outros garotos fizeram os textos do Zé Pequeno, mas ele me parecia assustador de uma maneira menos óbvia".
Apesar de nunca ter repetido um papel tão poderoso quanto o do chefe do tráfico da favela da Zona Oeste, ele não reclama. Nem da pressão do mercado para que os atores agora invistam em seguidores nas redes sociais.
"É um outro momento da minha história. Não dá pra ser saudosista", diz. "Já fiz inúmeros testes dentro de casa, só com o celular. Ainda estou aprendendo, às vezes tenho que pedir ajuda ao meu filho de 10 anos. Você tem que procurar entender os processos".