'Baile de favela' anima moradores da Maré após medalha de prata de Rebeca

Ginasta se apresentou em Tóquio ao som de funk e obteve conquista inédita

Foto: redacao@odia.com.br (Estadão Conteúdo)
Rebeca Andrade conquistou medalha de prata


A favela veio abaixo nesta quinta-feira após a brasileira Rebeca Andrade conquistar a primeira medalha olímpica feminina do Brasil na ginástica artística em Olimpíadas. A esportista fez sua apresentação com a versão do funk "Baile de favela", de MC João. Rebeca Andrade arrancou aplausos dos ginastas e treinadores. No Complexo da Maré moradores dizem que “a favela e o funk, agora, estão sendo notados no mundo todo”.

Na Comunidade Salsa e Merengue, a assistente social Daiana Gusmão, de 36 anos, afirma que “aos poucos, fissuras são estancadas e mulheres negras e funk vai estão cada vez em alta”.

"Eu acho que são muitas fissuras que precisam ser estancadas. É uma negra e que poderia, como forma de sobrevivência, se apresentar com uma música clássica. Mas, não. Ela mostra que o funk é divergente, assim como uma mulher negra no solo olímpico. Ela ganhando ou não já era simbólico. A mensagem para o mundo é: vai ter preto em qualquer local, mulher preta e vai ter negro nas olimpíadas. Imagina quantas meninas daqui para frente poderão ser uma Rebeca? Assim como muitas Daiane. Que bom que ela pode ser inspiração de outras meninas", diz Daiana.


A manicure Andresa Miranda, de 25 anos, moradora da Vila do João, conta que “é gratificante para quem é de favela se reconhecer em um esporte elitista”.

"Para quem é de comunidade, é gratificante. Existe um preconceito do funk e com isso estamos quebrando tabus. Eu não gosto do proibidão", afirma.

As comunidades da Maré, assim como o Complexo do Alemão, são regiões conhecidas por seus bailes. Apaixonado pelo estilo musical, Pedro Rodigues, de 25 anos, diz que frequenta os bailes da Maré desde sua adolescência. Para ele, o “funk é tudo”.

"Não tem coisa melhor. Nem sei dizer de quem não gosta do funk. Tá vendo, chegou até em um jogo olímpico".

Duas vezes fora do tablado

Rebeca obteve em Tóquio 57,298 de nota total na decisão individual geral feminina, que reúne quatro aparelhos (solo, trave, barras assimétricas e salto sobre mesa). Rebeca pisou fora duas vezes do tablado mas, mesmo assim, marcou 13,666, uma das maiores notas do solo na final olímpica – foi a sétima maior avaliação entre 24 ginastas que disputavam a decisão –, e suficiente para confirmar o segundo lugar. A versão do funk "Baile de Favela" na apresentação de Rebeca arrancou aplausos dos ginastas e treinadores que acompanhavam a competição da arquibancada, fazendo as vezes de público, já que a torcida foi proibida nos Jogos de Tóquio devido a precauções com a Covid-19.

Daiane dos Santos, inspiração para Rebeca, se emocionou com a conquista da ginasta. A mulher negra que encantou o mundo com o 'Brasileirinho", nos anos 2000, foi o modelo que a menina de Guarulhos seguiu para vencer na ginástica. Hoje, ela levou o "Baile de Favela", o ritmo da periferia de tantas garotas negras como ela, mais longe.